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Crime Organizado

Murder, Inc., a Assassinato S/A da Máfia

Assassinos de aluguel. A história da Murder Incorporated, a empresa de freelancers que assassinava qualquer um que se opusesse aos interesses da Cosa Nostra.


cinco homens da murder inc
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Escrito por Eudes Bezerra
Leitura: 5 minutos
cinco homens da murder inc
Membros da maior máquina de matar da Máfia, Murder, Incorporated. Joseph Rosen, Benjamin “Bugsy” Siegel, Harry Fietelbaum, Harry Greenberg e Louis “Lepke” Buchalter. Créditos: autoria desconhecida.

Capazes das maiores façanhas, os judeus da Murder, Inc. sob o comando de Louis “Lepke” buchalter assassinaram inimigos, delatores e qualquer um que se opusesse aos interesses dos chefões da Máfia, a Cosa Nostra.

Seguindo ordens do sádico Albert Anastasia, Charlie “Lucky” Luciano e de outros capos da Comissão, os executores da Murder, Inc. deram sua contribuição à “festança” dos criminosos durante a primeira metade do século XX — época de ouro para a criminalidade norte-americana.

Nas décadas de 1930–1940, a nefasta “empresa” gerenciada por Lepker, a Murder Incorporated cravou seu nome a rajadas de submetralhadoras Tommy Gun na história do crime organizado, fazendo freelance para chefões como Al Capone.

Por sua incrível destreza, a Murder, Inc. avocou grande fama se tornando um grave problema para as autoridades. O total de mortos por suas armas não encontra exatidão (nunca se tem exatidão quando se trata do crime organizado), mas o número possivelmente se encontra entre 400 e 1.000 assassinatos.

Benjamin “Bugsy” Siegel com charuto
Um dos maios notórios assassinos da Murder, o sociopata Benjamin “Bugsy” Siegel, que também seria o responsável por tornar Las Vegas na Cidade do Pecado. No filme O Poderoso Chefão, Parte I (EUA; Coppola; 1972), o personagem Moe Greene foi inspirado em Benjamin. Créditos: autoria desconhecida.

1. A história da Murder, Inc.

Louis “Lepke” Buchalter e seus pares — predominantemente judeus — iniciaram suas atividades na década de 1920, ficando conhecidos como Gorilla Boys. Ao expandir suas atividades para o Brooklyn, Lepke contratou uma gangue de jovens assassinos, a Brownsville. Passo decisivo nos difíceis anos em que a Máfia Ítalo-Americana, a famosa Cosa Nostra, eliminava a concorrência com ferocidade.

Por desempenhar bem suas funções, principalmente nos assassinatos (sem falhas), o bando despertou a atenção do gângster calabrês Albert Anastasia. O bando também foi favorecido por Meyer Lansky e Benjamin “Bugsy” Siegel, ambos judeus e amigos íntimos do siciliano Charlie “Lucky” Luciano (talvez o mais influente mafioso da história norte-americana). Tudo estava entre amigos.

A ideia da Murder Inc. era de que, se a pessoa estivesse ligada à máfia, podia procurar Anastasia e encomendar a morte de alguém. Caso aceitável, um dos assassinos registrados pela Murder Inc. receberia o serviço. Os registros continham alguns nomes formidáveis – matadores como Frank ‘Dasher’ Abbandando, Louis Capone, Martin ‘Bugsy’ Goldstein, Harry ‘Happy’ Maione, Harry ‘Pittsburgh Phil’ Strauss, Allie Tannenbaum, Seymour ‘Blue Jaw’ Magoon, Mendy Weiss e Charles ‘Charlie the Bug’ Workman”. (KERR, p. 157-158)

Os mafiosos ítalo-americanos, após décadas de derramamento de sangue entre si e outrem, conseguiram controlar ou eliminar a concorrência, principalmente a irlandês-judaica.

Com a criação da Comissão (“Conselho Nacional da Máfia”) e sistematização da Cosa Nostra no início da década de 1930, Lepke e seus homens iniciaram suas atividades como mercadores da morte a serviço da Máfia, o que não os impedia de continuar exercendo funções próprias — a Cosa Nostra sob a presidência de Luciano estava mais democrática e liberal do que nunca.

Charles Lucky Luciano Meyer Lanky frontal
Charles “Lucky” Luciano e Meyer Lanky: predestinados ao estrelato do crime organizado moderno. Lucania sistematizou a Cosa Nostra e se tornou seu grande chefão; o judeu Lansky é considerado o maior cérebro do crime organizado norte-americano, um gênio. Créditos: Departamento de Polícia de Nova Iorque.

2. Notoriedade, a fama indesejada

Desempenhando com excelência suas atividades ilícitas, o grupo de Lepke foi batizado pela impressa como Murder, Inc. — “No final dos anos de 1930, Lepke tinha cerca de 250 cabras-machos administrando diversas extorsões e o tráfico de heroína. Ele também comandava um grupo com cerca de 12 assassinos especializados, que receberam a alcunha ‘Murder, Inc.’, de Harry Freeman, repórter do New York World-Telegram.” (CAWTHORNE, ANO, p. )

3. A Justiça norte-americana caça a Murder, Inc.

Tamanha a fama de Lepke e seus homens que abarcou para si notória perseguição da Justiça e se tornou um problema para a Comissão. No seu encalço, encontrava-se o então inimigo número 1 da Máfia no momento, o promotor especialmente designado Thomas Dewey. Dewey e seu departamento tinham a missão caçar todo aquele que mantivesse vínculo com os chefões do crime.

No combate ao crime organizado Dewey empreendeu grande esforço para prender Lepke e seus homens, tendo por pouco não perdido a vida, posto que a Comissão rejeitou diversos pedidos para seu assassinato, justificando não querer dar mais disposição às investigações da Justiça.

Dewey atuou em várias frentes de combate até conseguir fechar o cerco contra Lepke. O promotor tinha conhecimento de que Lepke extorquia milhões (de 5 a 10 por ano) de lojas no Brooklyn e em Manhattan.

As autoridades federais também continham provas de seu envolvimento com entorpecentes. Com o cerco fechando, Lepke, vendo-se acuado, passou anos foragido, mas acabou se entregando à Justiça.

3.1 A traição

Não se sabe exatamente, mas Albert Anastasia teria convencido Lepke a se entregar afirmando que ele só receberia uma acusação federal. Mas, diante da pressão da promotoria, outro membro da Murder, Abraham “Kid Twist” Reles, quebrou a omertà (lei do silencia do crime) conspirando contra Lepker.

Reles pretendia se livrar das suas acusações e forneceu provas que causariam a condenação do seu chefe. A Máfia não deixaria barato.

3.2 A represália da empresa de assassinato

Poucos dias antes de depor na Justiça, “Reles foi atirado da janela de seu quarto de hotel, apesar da proteção policial 24h horas. A imprensa o chamou de ‘O passarinho que sabia cantar, mas não voar”.

A versão oficial é a de que Reles “faleceu em uma tentativa de fuga”. Uma década depois, Lucky Luciano teria dito que havia pagado 50 mil dólares à guarda policial de Reles para que o jogassem pela janela.

Abraham Reles morto no chão
“O passarinho que sabia cantar, mas não voar”: Abraham “Kid Twist” Reles morto. Créditos: Departamento de Polícia de Nova Iorque e autoria desconhecida, respectivamente.

3.3 Louis “Lepke” Buchalter condenado à cadeira elétrica

Lepker foi condenado à cadeira elétrica e executado em 04 de março de 1944. Sem a articulação de Lepke, vários agentes da eficiente máquina de matar da Máfia encontraram seu fim nos tribunais, não raramente também sendo condenados à pena capital.

Incrivelmente, Lepke foi o único chefão do crime organizado a cumprir pena de morte nos EUA. Outros membros destacados do grupo continuaram progredindo em suas atividades com grande estilo, como o “galã do submundo”, Benjamin “Bugsy” Siegel, que transformaria Las Vegas na terra dos jogos de azar —a Cidade do Pecado.

líder da murder inc no tribunal
Triunfo da Justiça: Louis “Lepke” Buchalter (4º da direita à esquerda) condenado e a implacável Murder, Inc. fecha as suas portas. Fotografia do julgamento Lepke, 02 de dezembro de 1941. Créditos: Edward Lynch.
REFERÊNCIAS:
AMORIM, Carlos Roberto. Assalto ao Poder. Rio de Janeiro: Record, 2010.
BURROUGH, Bryan. Inimigos Públicos. trad. Mário Fernandes, Mário Ribeiro, Sheila Mazzolenis. São Paulo: Globo, 2009.
CARTER, Lauren. Os Maiores Gângsters da História. trad. Isabel Teresa Santos. Lisboa: Editorial Estampa, 2005.
CAWTHORNE, Nigel. A História da Máfia. trad. Guilherme Miranda. São Paulo: Madras, 2012.
GWERCMAN, Sérgio. Assassinos S.A.. Revista Aventuras na História. São Paulo: Abril, n. 4, dez., 2003.
KERR, Gordon. Assassinos Profissionais. trad. Alexandre Martins. Larousse do Brasil: São Paulo, 2010.
SMITH, Jo Durden. A História da Máfia. trad. Beatriz Medina. São Paulo: M. Books do Brasil, 2015.
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Eudes Bezerra

35 anos, pernambucano arretado, bacharel em Direito e graduando em História. Diligencia pesquisas especialmente sobre História Militar, Crime Organizado e Sistema Penitenciário. Gosta de ler, escrever, planejar e principalmente executar o que planeja. Na Internet, atua de despachante a patrão, enfatizando a criação de conteúdo.

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