Biografias

O indestrutível Sir Adrian Carton de Wiart

Tiros, bombas, estilhaços, baionetas, queda de avião, campo de concentração... Nada conseguiu destruir Adrian, vencedor de 3 guerras, incluindo as mundiais.


Sir Adrian Carton de Wiart
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Autor: Eudes Bezerra
5 minutos
Sir Adrian Carton de Wiart
Sir Adrian Carton de Wiart.
Créditos: autoria desconhecida.

Indestrutível: atingido por tiros e estilhaços de bombas no estômago, tornozelo, quadril, virilha, pernas e ao menos três vezes na cabeça. Sobreviveu à queda de um avião no mar e nadou 1.600 metros para se salvar, escapou de um campo de prisioneiros fascista e arrancou os próprios dedos da mão com os dentes. Perdeu um olho, parte da orelha e a mão esquerda. Na velhice, teve sua casa bombardeada; posteriormente, sofreu um acidente e quebrou uma vértebra, quando levado ao hospital se descobriu que seu corpo estava repleto de estilhaços colecionados ao longo de quase meio século de guerras. Este é Sir Adrian Carton de Wiart.

Conservador, enérgico e de palavras desmedidas (“boca suja“), pertencia à aristocracia belga, largou os estudos, mentiu sobre a idade, “alterou” seu nome para Carton Trooper e se mandou para a guerra. Participou da Segunda Guerra dos Bôeres e das duas guerras mundiais.

Recebeu promoções e condecorações que somente o mais extraordinário dos soldados poderia alcançar, tornando-se também Sir da coroa britânica. Dedicou à guerra grande parte dos seus 83 anos de vida.

Francamente, eu apreciei a Guerra… Por que as pessoas querem a paz se a guerra é tão divertida?” — Sir Adrian.

A distinta figura de tapa-olho negro nasceu em 5 de março de 1880 em Bruxelas, na Bélgica, naturalizou-se inglês e prestou serviço militar à coroa britânica entre os anos de 1899 e 1947. Casou-se duas vezes e teve duas filhas.

sir adrian de wiart
Adrian mais uma vez ferido durante a Segunda Guerra Mundial, 1940.
Créditos: autoria desconhecida.

Na Segunda Guerra dos Bôeres (1899-1902)

Em 1899, falsificou nome e idade para ser incorporado às forças armadas britânicas e lutar na África. Nesta guerra foi ferido no abdômen e na virilha.

O jovem Adrian possuía excelente condição física por ser praticante de esportes (incluindo caça e degola) e logo se recuperou. Como demandava o temperamento belga na época, possuía “espírito esportivo” e, observando seus ferimentos, os teria tomando como algo normal, necessários para a construção de um grande soldado. Teria redobrado a prática de esportes para seu aperfeiçoamento físico.

Foi nessa época que sua família descobriu que havia largado os estudos (Direito) para ser militar. Em 1902, após o fim da guerra, foi mandado para Índia como segundo tenente.

Na Primeira Guerra Mundial (1914-1918)

Em 1914, quando a Grande Guerra teve início, Carton de Wiart cumpria missão na Somalilândia, na África. Nesse conflito, teria sido atingido na cabeça e perdido parte da orelha.

Em 1915, quando empregado na Primeira Guerra Mundial, desembarcou na França e sobreviveu a diversas batalhas, incluindo os moedores de carne humana chamados de Somme e de Ypres (Passchendaele) — Batalha de Somme (em 1916: mais de 1 milhão de mortos); Terceira Batalha de Ypres (em 1917: cerca de 850 mil mortos).

Ao fim das agressões, já tinha sido alvejado nas pernas, no tornozelo, quadril e novamente na cabeça (perdendo o olho esquerdo). Também havia sofrido grave lesão na mão esquerda por causa de uma granada, ocasião em que o médico teria se recusado a amputá-la.

Diante da negação, Carton teria arrancado os dedos da mão ferida com os próprios dentes, o que obrigou o médico a amputá-la. Ao que parece, seu desejo era reduzir o tempo de enfermaria, afinal, havia uma guerra mundial para vencer.

Carton e seu tapa olho distintivo
Carton no centro, de tapa olho. Créditos: autoria desconhecida.

Na Segunda Guerra Mundial (1939-1945)

Residindo no leste europeu e já contando 60 anos quando os alemães invadiram a Polônia, retornou à Grã-Bretanha para se armar e mais uma vez ir à guerra.

Em 1940, liderou uma campanha destinada ao fracasso na Noruega: deter os alemães na cidade Trondheim. Apesar da evacuação das tropas britânicas já ter sido recomendada, por supostos motivos políticos não ocorreu — e foi atacado pela infantaria e bombardeado pela aviação e marinha nazistas. Adrian parece ter saído ileso dessa vez.

Em 5 de abril de 1941, Carton embarcou em um avião a caminho do Cairo, no Egito. Entretanto, quando sobrevoava a costa da Líbia, os motores do avião pararam de funcionar derrubando-o a aproximadamente mil e seiscentos metros da praia. Carton teria nadado sozinho e chegado à faixa de terra, quando uma guarnição italiana o prendeu e o atirou em um campo de prisioneiros.

No campo de prisioneiros fascista, tentou fugir ao menos 5 vezes através de túneis ou, como determina a cartilha da guerra, mediante meios ardilosos. Quando Carton foi agraciado pela libertação do campo, a surpresa: havia fugido! Quando encontrado, sua libertação foi revogada.

Algum tempo depois lhe foi feita uma proposta: seria libertado se prometesse que nunca mais lutaria qualquer guerra. Foi finalmente liberado em 1943 e logo tratou de retornar para casa – ocasião em que esta foi bombardeada pelos alemães.

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Conferência do Cairo (22-26, nov. 1943). China, Reino Unido e EUA. Sentados: o Generalíssimo Chiang Kai Shek, o Presidente dos EUA Franklin Delano Roosevelt, o Primeiro-Ministro britânico Winston Churchill e Madame Chiang Kai Shek (intérprete). Em pé: os generais Chang Chen e Wei Ling; os Generais americanos Somervell, Stilwell e Arnold; e os altos oficiais britânicos, o Marechal-de-Campo Sir John Dill, o almirante Lord Louis Mountbatten e, por fim, o indestrutível Tenente-Coronel Sir Adrian Carton de Wiart, VC. Créditos: Jim Hudson.

Pós-Segunda Guerra Mundial

Em 1947, após a Segunda Guerra Mundial, lá partia Adrian Carton de Wiart para a conturbada China como representante especial de Winston Churchill (Primeiro-Ministro Britânico). No mesmo ano, aos 67 anos de idade, o bravo guerreiro de palavras inconvenientes se aposentou.

Quebrou uma vértebra em um acidente na sua nova casa e foi levado ao hospital. O resultado dos exames surpreendeu os médicos: diversos estilhaços de aço foram retirados do seu corpo.

O descanso do guerreio indestrutível

Aos 83 anos de idade, o velho cavaleiro da rainha Elizabeth finalmente se aquietou: o Tenente-Coronel Sir Adrian Carton de Wiart faleceu em 5 de junho de 1963, e, ao que parece, por consequência de uma simples queda no banheiro de casa.

Parece brincadeira, mas, em suas memórias feitas durante a aposentadoria, o velho resmungão não mencionou a família e deixou registrado:

Os governos podem pensar e dizer o que quiserem, mas a força não pode ser eliminada — é o único poder real e incontestável. Somos informados de que a caneta é mais poderosa que a espada, mas sei qual delas eu escolheria como arma.”


Uma frase do filósofo Blaise Pascal que me fez lembrar de Adrian

Todos os homens buscam a felicidade. E não há exceção. Independentemente dos diversos meios que empregam, o fim é o mesmo. O que leva um homem a lançar-se à guerra e outros a evitá-la é o mesmo desejo, embora revestido de visões diferentes. O desejo só dá o último passo com este fim. É isto que motiva as ações de todos os homens, mesmo dos que tiram a própria vida”.


REFERÊNCIAS:
Defesa Org.. Você sabe quem foi Adrian Carton de Wiart?. Acesso em: 7 ago. 2013.
DRURY, Ian. Frankly, I enjoyed the war! Incredible bravery of Victoria Cross hero who lost an eye, was shot in the skull and tore off his own fingers but still went back to battle. Acesso em: 7 ago. 2013.
GILBERT, Adrian. Enciclopédia das Guerras: Conflitos Mundiais Através do Tempo. trad. Roger dos Santos. São Paulo: M. Books, 2005.
TIM. Lieutenant General Adrian Carton de Wiart – You Dream of Being this Manly. Acesso em: 7 ago. 2013.
RDG Museu. Lieutenant-General Sir Adrian Carton de Wiart, VC, KBE, CB, CMG, DSO. Acesso em: 7 ago. 2013.
IMAGEM(NS):
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Eudes Bezerra

37 anos, recifense, graduado em Direito e História. Diligencia pesquisas especialmente sobre Antiguidade, História Militar, Crime Organizado e Sistema Penitenciário. Gosta de ler, escrever, planejar e executar o que planeja.

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