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Crime Organizado

O Massacre do Dia de São Valentim

Em pleno dia dos Namorados (São Valentim), ocorreu o mais famoso massacre do mundo da Máfia: Al Capone assassinou a concorrência e se tornou rei de Chicago.


massacre do dia de são Valentim
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Escrito por Eudes Bezerra
Leitura: 4 minutos
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O Massacre do Dia de São Valentim, 1929″, cristalizada pela polícia de Chicago como resultado da ação. Contam-se seis dos sete corpos – o sétimo apenas se tornou cadáver três horas depois, no hospital. Créditos: Hulton-Deutsch Collection/CORBIS. ID: HU010546.

Deixando o amor das namoradas e esposas um pouco de lado, quatro homens acordaram cedo para trabalhar. Era 14 de fevereiro de 1929 e casais nos EUA comemoravam o dia de São Valentim (dia dos namorados). Para este dia, Al Capone e seus homens planejaram algo especial: fechar um grande negócio. Com a assinatura de submetralhadoras Tommy Gun e escopetas, sete homens foram mortos a sangue frio — negócio fechado. A barbárie chocou os Estados Unidos, acentuou a opinião pública contra a Lei Seca e nunca teve seus responsáveis identificados e presos.

Na manhã de 14 de fevereiro de 1929, na garagem da SMC Cartage Company, em Lincoln Park, Chicago, os principais homens de George “Bugs” Moran (rival de Al Capone) esperavam um carregamento de uísque e faziam planos para a noite que prometia. Embora não se tenha certeza de que esperavam o carregamento de bebida, os homens aguardavam algo.

A versão mais “confiável” sobre o episódio era a de que tal carregamento fosse realizado naquela manhã. Contudo, a entrega de uísque não ocorreria porque não havia carregamento algum – era uma cilada. Al Capone e seus homens criaram a situação para destruir Moran e seus principais homens ainda vivos.

O Massacre de São Valentim

Perto das 10h30, dois carros (um Cadillac sedan e um Peerless) com quatro homens estacionaram em frente à garagem, dois policiais saltaram dos carros e invadiram-na. Parecia uma batida policial e, calmamente, os setes homens ali encontrados não ofereceram resistência — não havia muitos problemas com a polícia (havia grande corrupção de agentes públicos e provas costumavam “sumir” ou ser “assassinadas”).

Os policiais colocaram todos os homens contra parede, de pernas abertas e mãos para o alto. Os homens foram revistados, suas armas apreendidas e diante disso, apenas aguardavam as algemas. Os outros dois homens, de sobretudo, supostamente “detetives”, entraram armados com submetralhadoras Thompson (Tommy Gun).

Encostados na parede de costas para os seus carrascos, os sete homens foram destruídos com mais de 100 tiros à queima roupa (as fontes são confusas e indicam de 70 a mais de 150 disparos).

Na sequência, os homens uniformizados (falsos policiais) escoltaram seus colegas sem uniforme para fora da garagem como se estivessem presos. Entraram no carro e partiram – nunca alguém foi responsabilizado pelo massacre.

Um dos cadáveres era do doutor Reinhardt Schwimmer, que parecia gozar da companhia dos criminosos. Outro cadáver era de John May, um mecânico de carros que prestava serviços. Apenas um cão pastor alemão teve a vida poupada.

george bugs moran
George Clarence Monran, o Louco.
Créditos: autoria desconhecida / Everett.

As investigações

Quando a polícia chegou, o principal atirador de Moran, Frank Gusenberg, ainda estava vivo. Embora soubesse que estivesse próximo da morte, recusou-se a falar sobre a identidade dos assassinos. Teria dito:Ninguém me baleou. Gusenberg honrou a omertà e morreu horas depois (a omertà — Lei do Silêncio — pressupõe que as disputas devem ser resolvidas sem a interferência das instituições do Estado, visto que este é considerado como um fantoche repleto de “figurões” egoístas).

O alvo central do ataque era George “Bugs” Moran e seus principais homens, como Gusenberg. Acreditou-se que Moran estivesse entre os perfilados, mas estava atrasado para o encontro. O atraso teria ocorrido por causa de um acidente de trânsito que deixou Moran preso no tumulto.

Quando finalmente estava perto da garagem, pensou que a polícia realmente estivesse dando uma batida e sumiu. Quando soube da notícia da morte dos seus homens, fechou a “concorrência” que fazia a Scarface (Capone) e fugiu, deixando o lado norte da cidade de Chicago.

Massacre sem autoria

Ninguém chegou a ser acusado formalmente pelo Massacre do Dia de São Valentim e, oficialmente, o caso continua sem solução. O próprio Capone foi interrogado, mas não havia provas. Na sequência, deu uma festa para celebridades que assistiam o campeonato de luta mundial. Quando lhes perguntaram quem achava ser o responsável pelo massacre, disparou: “‘Bugs’ Moran“. Mas parece não haver dúvidas sobre o real responsável — Somente Capone mata desse jeito, declarou Moran.

Diversos homens de Scarface foram investigados, mas nunca condenados por falta de provas. Acredita-se que o astuto e profissional braço direito de Capone, Frank Rio, tenha participado. Dentre outros possíveis nomes do “massacre sem autoria”, estão Jack “Machine Gun” McGurn, Fred “Killer” Burker, Scalise, Anselmi e Ziegler.

O intrigante George “Shotgun” Ziegler teria sido um dos falsos policiais do Massacre do Dia de São Valentim (alguns amigos teriam lhe apontado como tal décadas depois). Ziegler era conhecido por sua marcante cortesia. Um agente do que viria a se tornar o FBI escreveu que ele tinha uma personalidade de infinitas contradições — “De boas maneiras, sempre delicado, era capaz de cometer amplas generosidades e crueldades sem consciência“.

REFERÊNCIAS:
BURROUGH, Bryan. Inimigos Públicos. trad. Mário Fernandes, Mário Ribeiro, Sheila Mazzolenis. São Paulo: Globo, 2009.
CAWTHORNE, Nigel. A História da Máfia. trad. Guilherme Miranda. São Paulo: Madras, 2012.
FBI. Famous Cases Criminals: Al Capone. Acesso em: 04 maio 2013.
RIBEIRO, Flávia. Os Donos do Crime. Revista Aventuras na História. São Paulo: Abril, n. 87, p. 28-36, out., 2010.
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Eudes Bezerra

35 anos, pernambucano arretado, bacharel em Direito e graduando em História. Diligencia pesquisas especialmente sobre História Militar, Crime Organizado e Sistema Penitenciário. Gosta de ler, escrever, planejar e principalmente executar o que planeja. Na Internet, atua de despachante a patrão, enfatizando a criação de conteúdo.

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