Guerras A Cruzada dos Mendigos: desordem e destruição Sem planejamento e ordem, a maltrapilha Cruzada dos Mendigos apenas causou transtornos e logo foi destroçada pelos turcos durante a Primeira Cruzada Guerras • Idade Média • Períodos • Religião Autor: Eudes Bezerra Matéria criada em 31 outubro 2013 Atualizada em 14 agosto 2018 4 minutos Após seu trágico desfecho, os poucos sobreviventes da Cruzada dos mendigos e Pedro, o Eremita, encontram Godofredo de Bulhão na Cruzada dos Nobres. Ilustração: Gustave Doré. Constituída paralelamente à Cruzada dos Nobres durante os preparativos da Primeira Cruzada (1096-99), a Cruzada dos Mendigos teve uma história desastrosa. Sem planejamento, ordem e liderança adequada, este movimento causou imensos transtornos por onde passou e foi arrasado antes mesmo da chegada da Cruzada dos Nobres aos domínios turcos. Após o Concílio de Clermont, em 1095, nobres de diversas partes da Europa organizaram seus exércitos visando tomar Jerusalém do poderio muçulmano. Bem treinados, supridos e habilmente liderados por nobres, como Godofredo de Bulhão e Boemundo de Taranto, nasceu a chamada Cruzada dos Nobres (ou dos Barões). 1. A formação da cruzada Outra decorrência do discurso do papa Urbano II em Clermont se encontrou na disseminação de pregadores que acabaram difundindo as ideias papais entre os miseráveis, o que gerou um movimento popular chamado Cruzada dos Mendigos (ou Cruzada Popular). Entre os difusores das ideias de Clermont, encontrava-se Pedro, o Eremita, que conseguiu reunir milhares de seguidores e obter apoio do cavaleiro Galtério Sem-Haveres. Pedro partiu à frente de uma imensa turba de pobres, desvalidos, ladrões, camponeses e mendigos — a Cruzada dos Mendigos. Este exército de maltrapilhos em muito se formou e armou pela própria. Pedro, o Eremita, pregando a Cruzada Popular. Ilustração: James Archer. 2. Começa a cruzada Em muito favorecida pela devoção popular cristã durante a Idade Média para o acréscimo de suas fileiras, em abril de 1096, sob a liderança de Pedro, o Eremita, e Galtério Sem-Haveres, a Cruzada dos Mendigos partiu de Colônia, na atual Alemanha, em direção à Ásia Menor. A cruzada se abasteceu de saques, esmolas e pilhagens, também perseguindo e massacrando os considerados “hereges” (principalmente os judeus), o que acarretou péssima fama a estes cruzados. “Em julho de 1096, (…) a multidão de carentes conseguiu chegar até a cidade de Constantinopla, onde realizaram uma série de saques que deixaram a população em desespero. Visando contornar a situação, o imperador bizantino Aleixo Commeno exigiu que o bando se alojasse nas fronteiras muçulmanas da cidade. Para que outras desordens não ocorressem, este governante incentivou os cruzados a se voltarem contra os mouros que ali viviam.” (SOUSA, 2013, s/p, grifo nosso). Ainda que indisciplinada e maltrapilha, a Cruzada dos Mendigos era uma considerável força militar e antecedeu a Cruzada dos Nobres lançando o primeiro dos cinco grandes exércitos europeus sobre os turcos seljúcidas. 3. Os Mendigos chegam à Ásia: cobiça e desordem Ao chegar à Ásia Menor, a frágil liderança de Pedro, o Eremita, se desfez parcialmente, ocasionando subdivisão e desordem ainda maior que a vista no território europeu. O conselho de Aleixo I (Aleixo Commeno) para que esperassem pela Cruzada dos Nobres foi ignorado e a Cruzada Popular invadiu, saqueou e matou nas cidades turcas com facilidade. Kilij Arslan, o sultão da cidade de Niceia, enviou uma patrulha para observar e barrar o avanço europeu, sem obter êxito. Contudo, o sultão observou bem os cruzados e tomou as providências para que a ameaça fosse neutralizada. No final de setembro, dois grupos cruzados de cavaleiros italianos e germânicos partiram para saques ao norte da Anatólia (norte da atual Turquia) e posteriormente tentaram capturar a fortaleza abandonada de Xerigordon, que serviria de base de operações por oferecer provisões de água. Entretanto, a fonte de água não mais existia e os turcos seljúcidas logo os cercaram. Com sede, exaustos e sobre flechas, os cruzados foram vencidos após uma semana — mortos, escravizados ou convertidos. 4. Uma emboscada e o fim da Cruzada dos Mendigos Sabiamente, Kilij Arslan enviou antecipadamente espiões ao acampamento de Civetot dos cruzados francos, para que divulgassem a falsa informação de que os cavaleiros italianos e germânicos haviam conquistado Xerigordon e Niceia. Tratava-se de uma emboscada do sultão para atrair os francos às vastas planícies. Na manhã de 21 de outubro, após discussões sobre o que seria feito, foi decidido que o exército deveria partir para tomar parte dos saques das cidades recém-conquistadas. O exército cruzado (aproximadamente 20 mil homens) marchou em direção à cidade de Niceia, deixando mulheres, crianças, idosos e doentes, sem qualquer proteção adequada. O sultão Kilij Arslan teria dito: Observem que os francos, contra quem marchamos, estão à disposição. Retiremo-nos da floresta e das montanhas e vamos para uma planície aberta, onde poderemos entrar em batalha com eles e eles não encontrarão refúgio”.(WATERSON, 2012, p. 35) Em campo aberto, os pesados e débeis cruzados foram trucidados pelos velozes arqueiros montados seljúcidas (com técnica similar a das hordas mongóis de Gêngis Khan). O acampamento também foi atacado e todos, exceto crianças e os que se renderam, foram mortos. Após o colapso total da Cruzada dos Mendigos, dentre os poucos sobreviventes, encontrava-se o próprio Pedro, o Eremita, que buscou se juntar à Cruzada dos Barões ao retornar à cidade de Constantinopla. Galtério Sem-Haveres foi morto na planície — teria sido crivado de flechas logo no início da batalha. REFERÊNCIAS: FERNANDES, Fátima Regina. Cruzadas na Idade Média. In. MAGNOLI, Demétrio (org.). História das Guerras. 5 ed. São Paulo: Contexto, 2011. JESTICE, Phyllis G. História das Guerras e Batalhas Medievais. O Desenvolvimento de Técnicas, Armas, Exército e Invenções de Guerra na Idade Média. trad. Milton Mira de Assumpção Filho. São Paulo: M. Books, 2012. SOUSA, Rainer. A Cruzada dos Mendigos. Acesso em: 28 out. 2013. WATERSON, James. Espadas Sacras: Jihad na Terra Santa, 1097-1291. trad. Giancarlos Soares Ferreira. São Paulo: Madras, 2012. Eudes Bezerra37 anos, recifense, graduado em Direito e História. Diligencia pesquisas especialmente sobre Antiguidade, História Militar, Crime Organizado e Sistema Penitenciário. Gosta de ler, escrever, planejar e executar o que planeja. Tags usadas: cruzadas Deixe um comentário Cancelar respostaO seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *Comentário * Nome E-mail Veja tambémCaporegime: Entre o Don e o gatilhoBombardeio com as mãos na Grande GuerraEstandarte do Espírito MongolSelo da câmara de Tutancâmon