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Batalhas Históricas

A Guerra Russo-Japonesa: o polvo japonês abraça o urso russo

Durante a Guerra Russo-Japonesa, o Japão impôs sua força ao mundo ao ser o primeiro país não europeu a derrotar uma potência europeia na guerra moderna.


multidão comemorando vitória na guerra russo-japonesa
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Escrito por Eudes Bezerra
Leitura: 5 minutos
multidão comemorando vitória na guerra russo-japonesa
Vista da parada militar comemorativa da vitória japonesa na Guerra Russo-Japonesa, 1905. Créditos: ©Underwood & Underwood/Corbis – ID: VV15081.

Após o desfecho da Primeira Guerra Sino-japonesa, os Impérios da Rússia e do Japão se alinharam em inevitável rota de colisão pelo controle regional do Pacífico Norte. Almejando metas similares e dispostos a defender militarmente seus interesses, o duelo entre o Polvo japonês e o Urso Russo interferiu na política das potências ocidentais através da Guerra Russo-Japonesa (1904-1905). Ao seu final, o Japão havia humilhado o exército imperial russo, tornando-se o mandachuva da região. Foi a primeira vez, na história moderna, que uma potência europeia foi derrotada por outro Estado não europeu através da guerra.

1. Antecedentes da Guerra Russo-Japonesa

Uma década antes do conflito entre russos e japoneses, ocorreu a ratificação do Tratado de Shimonoseki a 17 de abril de 1895, que encerrou oficialmente a Primeira Guerra Sino-Japonesa (1894–1895). O Japão, mesmo como vencedor, teve suas ambições refreadas pela influência política e militar que irradiava de Moscou, a capital da Rússia.

A ira teria tomado conta de Edo (então capital japonesa) e seria questão de tempo para que as duas potências duelassem, pois a traumática reabertura do Japão havia ensinado aos nipônicos como funcionava cartilha imperialista.

Sob o crivo dos imperialistas, encontravam-se o domínio de territórios na China, Manchúria e Coreia, além dos mares circundantes. De olho no atrito gerado entre China, Rússia e Japão, as potências econômicas europeias e os Estados Unidos da América fizeram suas apostas — interferindo ou não.

Grandemente interessada no possível conflito, encontrava-se a Grã-Bretanha: preocupada com suas possessões na Ásia, viu o Grande Império do Japão como um potente aliado na luta contra a ameaçadora expansão russa. As articulações políticas entre Londres e Edo foram feitas, resultando na Aliança Anglo-Nipônica assinada no dia 30 de novembro de 1902 — interferência militar caso algum dos dois países entrasse em guerra contra dois ou mais países, além do fechamento de rotas marítimas sob o controle inglês para esquadras russas em deslocamento ao Extremo Oriente.

pintura japonesa incitando a vitória dos japoneses sobre russos
Propaganda japonesa para a Guerra Russo-Japonesa. Créditos: autoria desconhecida.

2. Os objetivos do Japão e os números

No tabuleiro de guerra japonês, os cálculos indicavam que três objetivos deveriam ser alcançados: 1º Captura de Porto Arthur; 2º expulsão do exército russo da Manchúria; 3º a destruição da frota russa nos mares do Pacífico Norte.

Embora exista grande divergência sobre os números, estima-se que o exército imperial russo dispunha de aproximadamente 4,5 milhões de soldados, ao passo que o japonês apenas 280 mil (+ 400 mil reservistas).

Apesar da superioridade russa, o oficialato nipônico sabia que apenas 150 mil russos estavam ao alcance imediato de Porto Arthur. O grosso do exército russo — baseado na Europa — demoraria considerável tempo para cruzar toda a Ferrovia Transiberiana — mais de 9.300 km — para desembarcar na região. Seria necessária uma rápida e devastadora ofensiva japonesa, para pôr freio ao futuro contra-ataque russo.

Os japoneses haviam recebido treinamento militar da Alemanha (exército) e da Inglaterra (marinha), resultando em oficiais bem treinados, técnicos e extremamente disciplinados, diferentemente dos oficiais russos que pareciam não gozar de técnica adequada aos embates da nova era que se iniciava, o que seria comprovado uma década depois, na Primeira Guerra Mundial (1914–1918).

3. Começa a guerra Russo-japonesa

3.1 Objetivo 1: a captura de Porto Arthur

No dia 8 de fevereiro de 1904 a frágil paz no Extremo Oriente foi finalmente desfeita, quando a frota japonesa do almirante Togo Heihachiro cuspiu fogo sobre o estratégico Porto “chinês” de Arthur (aquartelamento russo) — oficialmente, a guerra só foi declarada dois dias depois.

Embora em menor número, os russos estavam bem guarnecidos e dispunham de grande número de armas. A disputa por Porto Arthur ocorreu em mar e terra e perdurou até o dia 2 de janeiro de 1905, quando finalmente os russos se renderam. Embora sitiados desde junho do ano anterior, os russos defenderam Porto Arthur bravamente impondo pesadas baixas aos invasores.

visão aérea do porto arthur china
Porto Arthur durante a Guerra Russo-Japonesa. Créditos: Corbis, ID: NA008905.

3.2 Objetivo 2: a expulsão do exército russo da Manchúria

Paralelamente ao sítio de Porto Arthur, as tropas japonesas empurravam as russas da Coreia para Manchúria (a nordeste da China). Os russos recuaram até Mukden (centro de operações russas) e, por seu imenso valor estratégico, não poderia cair sob o risco perda da Manchúria.

A Batalha de Mukden, já em 1905, alcançou a gigantesca soma de 600 mil combatentes (aproximadamente 300 mil de cada lado). O confronto foi um prelúdio da Primeira Guerra Mundial, onde as tropas se entrincheiraram por cerca de 60 km. Russos e japoneses duelaram de 21 de fevereiro a 10 de março, quando, estreitamente, a batalha foi vencida pelas forças japonesas.

3.3 Objetivo 3: a destruição da Frota Báltica da Rússia no Extremo Oriente

Ao fim da Batalha de Mukden, estavam encerradas as operações em terra. O Porto Arthur e a Manchúria, assim como a Coreia, haviam caído sob o jugo japonês. Restava o terceiro objetivo — destruição da armada russa nos mares do Pacífico norte.

Ainda no início da Guerra, o Czar Nicolau II havia ordenado o deslocamento da frota báltica (Europa) para as proximidades do Japão. O Czar esperava que tal frota se sobressaísse à armada adversária. Entre os dias 27 e 28 de maio ocorreu a humilhante Batalha de Tsushima, quando a versátil e rápida frota japonesa — liderada por Togo Heihachiro — arrasou a poderosa, mas lenta frota russa comandada por Zinovi Rojdestvenski.

A Batalha de Tsushima “permanece um dos mais taticamente decisivos confrontos navais de todos os tempos. A frota báltica percorrera metade do mundo somente para ser aniquilada nos estreitos entre a Coreia e o Japão. Os navios de Togo sobrepujaram os russos na artilharia e nas manobras. Durante dois dias de batalha, a frota russa — de oito couraçados, oito cruzadores, nove destroieres e uma série de embarcações menores — foi dizimada por canhões de longo alcance e torpedeamentos”. (GILBERT, 2005, p. 209, grifo nosso)

3.3.1 Baixas da batalha naval

Russas: 21 embarcações afundadas e seis capturadas (+ outras tantas avariadas e guarnecidas em portos neutros); 4.380 marinheiros mortos e 5.917 capturados; Japonesas: três torpedeiros destruídos; 117 marinheiros mortos e 583 feridos.

ilustração mostrando russos se rendendo aos japoneses
Ilustração sobre a rendição russa em Tsushima. Créditos: autoria desconhecida.

4. Desfecho final

Após as derrotas em terra e com a trágica perda no mar, os russos decidiram encerrar a guerra. Mediado pelo Presidente dos EUA, Theodore Roosevelt, o grande Urso Russo, em 6 de setembro de 1905, curvou-se diante dos termos do Tratado de Portsmouth.

Tal capitulação, além de pôr fim à contenda, de gerar o reconhecimento da influência japonesa na região, atribular a política de alianças para Primeira Guerra Mundial e acelerar a Revolução Bolchevique (1917), criou um marco no tempo: pela primeira vez na história moderna, uma potência da Europa foi derrotada militarmente por um estado não europeu.

REFERÊNCIAS:
BLAINEY, Geoffrey. Uma Breve História do Século XX. São Paulo, SP: Fundamento, 2008.
FREIRE, José Miguel Moreira. Há Cem Anos a Guerra Russo-Japonesa. Consequências Diplomáticas.
quilíbrio Internacional e Europeu. Acesso em: 29 jan. 2015.
GILBERT, Adrian. Enciclopédia das Guerras: Conflitos Mundiais Através do Tempo. trad. Roger dos Santos. São Paulo: M. Books, 2005.
LÊNIN, Vladimir Ilitch. A verdade sobre a Guerra Russo-Japonesa. Acesso em: 29 jan. 2015.
HICKMAN, Kennedy. Russo-Japanese War: Admiral Togo Heihachiro. Acesso em: 29 jan. 2015.
______ Russo-Japanese War: Battle of Tsushima. Acesso em: 29 jan. 2015.
______. Russo-Japanese War: Siege of Port Arthur. Acesso em: 29 jan. 2015.
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Eudes Bezerra

35 anos, pernambucano arretado, bacharel em Direito e graduando em História. Diligencia pesquisas especialmente sobre História Militar, Crime Organizado e Sistema Penitenciário. Gosta de ler, escrever, planejar e principalmente executar o que planeja. Na Internet, atua de despachante a patrão, enfatizando a criação de conteúdo.

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