Guerras Tratado de Versalhes: os duros termos da paz Forjado de modo vingativo e brutal ao fim da Primeira Guerra, o Tratado de Versalhes se revelaria um grave erro — a Alemanha não esqueceria a humilhação. Guerras • Idade Contemporânea • Períodos • Primeira Guerra Mundial • Segunda Guerra Mundial Autor: Eudes Bezerra Matéria criada em 12 setembro 2013 Atualizada em 10 dezembro 2019 4 minutos A histórica cena em que Georges Clemenceau, o “Tigre Velho da França”, motivado por ressentimentos profundos para com a Alemanha, assina o Tratado de Versalhes. Fotografia cristalizada no Salão dos Espelhos do Palácio de Versalhes, na França, em 28 de junho de 1919. Créditos: Bettmann/Corbis. id: be044473. Ratificado no Palácio de Versalhes, na França, o Tratado de Versalhes obrigou a Alemanha a assumir a total responsabilidade pela Primeira Guerra Mundial. Com 440 dispositivos confeccionados de modo vingativo e brutal, o tratado se revelaria um grave erro — a Alemanha não esqueceria a humilhação. Com o iminente fim da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), começaram os debates sobre os termos do armistício e, essencialmente, sobre o que deveria ou não ser imposto aos países derrotados. Em 8 de janeiro de 1918, Thomas Woodrow Wilson, então presidente dos EUA e futuro Nobel da Paz (1919), expôs o que acreditava ser necessário para se chegar à paz verdadeira. Em Washington, nos EUA, Wilson lançou o que ficaria conhecido como Os Catorze Pontos de Wilson. 1. Os 14 Pontos de Wilson ignorados O projeto de Wilson buscou consideração em relação aos termos do tratado que seria produzido, mas, devido ao forte isolamento dos EUA durante quase toda guerra, pouco foi considerado. Os 14 pontos não previam nenhuma séria sanção para com os derrotados, abraçando a ideia de uma Paz ‘sem vencedores nem vencidos‘. No terreno prático, poucas propostas de Wilson foram aplicadas, pois o desejo de uma ‘vendetta‘ por parte da Inglaterra e principalmente da França prevaleceu sobre as intenções americanas.” (SCHILLING, 2014, s/p, grifo nosso) O presidente estadunidense receava que as fortes imposições que a Tríplice Entente pretendia aplicar causassem nova guerra. Em contraposição, encontravam-se os países europeus, sobretudo Inglaterra e França, que desejavam massivas compensações financeiras dos vencidos. Acreditavam que as compensações seriam justas pelo sofrimento causado pelas armas do kaiser Gulherme II. A Alemanha, na maioria das vezes, não eram retratados como um dos tantos responsáveis pela guerra, mas como a única responsável. 1.1 O ressentimento dos ingleses A Inglaterra, que seria uma das “grandes” vencedoras militar da guerra, saiu com sua economia arruinada e dependente dos EUA. Nunca antes o vencedor de uma guerra de imensurável escala saiu tão arrasado – seu imenso potencial econômico foi avassalado — seu imenso potencial econômico foi avassalado e desejava fazer suas reparações. 1.2 O ódio dos franceses Os franceses, mais que os britânicos, possuíam fortes ressentimentos para impor duras penas à Alemanha – foram motivados por uma vingança que remontava a derrota na Guerra Franco-Prussiana (1870-1971), quando o Reino da Prússia se tornou Alemanha (unificação alemã). Em 18 de janeiro de 1871, o rei da Prússia, Guilherme Hohenzollern, tornou-se Guilherme I, kaiser do recém-criado Império da Alemanha (II Reich). O local escolhido para a proclamação do império e a coroação do Kaiser não poderia ser mais simbólico: o Salão dos Espelhos do Palácio de Versalhes — que, anteriormente, também serviu de hospital de campanha para os soldados alemães. Os franceses se sentiram ultrajados, mesmo tendo sido os responsáveis pela Guerra Franco-Prussiana. 2. O Tratado de Versalhes Sem flexibilidade, a elaboração do documento — o Tratado de Versalhes — iniciou-se no princípio de 1919 e ficou pronto após quatro meses de difíceis negociações, sendo apresentado à Alemanha no dia 7 de Maio. Os dispositivos do Tratado causaram revolta na delegação alemã. O embaixador alemão, Brockdorff-Rantzau, disparou: “perdemos o fôlego quando lemos as exigências que nos foram feitas, a violência vitoriosa de nosso inimigos. Quanto mais penetramos no espírito desse tratado, mais nos convencemos que é impossível levá-lo adiante”. Punitivo, o calhamaço tem 440 artigos e mais um florilégio de apêndices, anunciando de alguma forma a responsabilidade da Alemanha por todas as agruras sofridas no planeta nestes últimos anos.” (Veja na História, 2013, s/p) Em 28 de Junho de 1919, Hermann Müller, Ministro alemão do exterior, assinou o Tratado de Versalhes, que foi ratificado na recém-criada Liga das Nações (embrião da ONU) e entraria em cumprimento em 10 de Janeiro de 1920. Após a ratificação, ao que parece, somente uma coisa parecia encontrar unanimidade entre as delegações: o incerto e sombrio futuro da Europa ao fim da Grande Guerra. 2.1 A desconfiança certa após Versalhes Após a assinatura do documento de Versalhes, uma saraivada de menções expuseram a fragilidade do ato que acabara de nascer: Isto não é a paz. É apenas um armistício válido pelos próximos vinte anos” — lamentou o marechal e herói Ferdinand Foch, comandante supremo da Tríplice Entente. A Alemanha acorrentada e escravizada será sempre uma ameaça à Europa” — ameaçou a publicação holandesa Algemeen Handelsblad. Esta guerra, como aquela que se seguirá, é uma guerra para acabar com todas as guerras” — eternizou o estadista britânico, David Lloyd George. As consequências do Tratado de Versalhes levariam caos ao pós-guerra alemão. A década de 1920 alemã seria marcada por grandes crises e acirradas disputados políticas. O Tratado de Versalhes teve efeito contrário ao pretendido e ajudou Adolf Hitler a abocanhar o poder. 2.2 Dentre as exigências impostas à Alemanha, encontravam-se: Admissão de culpa e responsabilidade única da Alemanha pela ocorrência da Grande Guerra; Proibição da união entre Alemanha e Áustria; Compromisso de reparações financeiras a definir (especialistas falam em uma quantia superior a 20 bilhões de dólares); Concordância com julgamento internacional do Kaiser e de outros líderes de guerra; Devolução da Alsácia e da Lorena à França; Cessão de Eupen-Malmedy à Bélgica, de Memel à Lituânia e do distrito de Hultschin à Checoslováquia; Entrega da Poznania, Silésia setentrional e Prússia oriental à Polônia restabelecida; Entrega das possessões ultramarinas na China, África e Pacífico; Transformação de Danzig em cidade livre; Desmilitarização permanente e ocupação aliada por 15 anos da província do Reno; Limitação do Exército Alemão a 100.000 homens, para segurança interna, sem tanques, sem artilharia pesada, sem suprimentos de gás, sem navios ou aviões; Limitação da Marinha Alemã a belonaves inferiores a 100.000 toneladas e proibição de submarinos. REFERÊNCIAS ALMEIDA, André Luiz. O Tratado de Versalhes. Acesso em: 25 maio 2013. BLAINEY, Geoffrey. Uma Breve História do Século XX. São Paulo, SP: Fundamento, 2008. HOBSBAWM, Eric. A Era dos Extremos: O Breve Século XX: 1914-1991. trad. Marcos Santarrita. 2 ed. 46 imp. São Paulo: Companhia de Letas, 2012. HOLMES, Alex Selwyn. The Treaty of Versailles. Acesso em: 23 maio 2013. SCHILLING, Voltaire. I Guerra Mundial – Os “14 Pontos do Presidente Wilson”. Acesso em: 23 maio 2013. Veja na História. A Paz, em termos. Acesso em: 24 maio 2013. Veja na História. Um herói contrariado. Acesso em: 26 maio 2013. Eudes Bezerra37 anos, recifense, graduado em Direito e História. Diligencia pesquisas especialmente sobre Antiguidade, História Militar, Crime Organizado e Sistema Penitenciário. Gosta de ler, escrever, planejar e executar o que planeja. Tags usadas: primeira guerra mundial 1 response to “Tratado de Versalhes: os duros termos da paz” Excelente texto sobre o Tratado de Versalhes, e observações sobre as suas consequências. Oto R. Bornmann Responder Deixe um comentário Cancelar respostaO seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *Comentário * Nome E-mail Veja tambémCaporegime: Entre o Don e o gatilhoBombardeio com as mãos na Grande GuerraEstandarte do Espírito MongolSelo da câmara de Tutancâmon
Excelente texto sobre o Tratado de Versalhes, e observações sobre as suas consequências. Oto R. Bornmann Responder