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Addiopizzo: jovens enfrentam a Máfia

O secular pagamento da Máfia combatido por jovens empreendedores italianos, que deram calote e ensejaram movimento internacional antimáfia, o Addiopizzo!


adesivo do movimento addio pizzo
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Autor: Eudes Bezerra
4 minutos
adesivo do movimento addiopizzo
Adesivo fixado em vitrine com um dos lemas do movimento: “Consumo Crítico” (Consumo Grave) saindo de um círculo quebrado e preenchido com uma X. Fotografia cristalizada em 18 de outubro de 2007, na Itália, por Giuseppe Piazza / Reuters.

O secular pagamento da Máfia finalmente foi obstinadamente combatido por jovens empreendedores, que deram “calote” e ensejaram movimento de abrangência internacional antimáfia, eis o AddioPizzo!

O movimento Addiopizzo (“Adeus Renda”, em tradução literal) encontra origem na reação de cinco jovens italianos que decidiram não pagar a “taxa de proteção” conhecida como pizzo, para abrir um bar na cidade de Palermo, na Sicília, Itália — o reduto da poderosa Cosa Nostra.

No início de 2004, os jovens recém-formados foram abordados por mafiosos locais, sendo comunicados de que teriam que “contribuir” pecuniariamente por suposta compra de proteção. Revoltados com a cobrança, resolveram não pagar e ofereceram corajosa resposta ao colar, da noite ao dia, vários cartazes pela cidade de Palermo onde se lia: Un intero popolo che paga il pizzo è un popolo senza dignità — “Todo um povo que paga a renda é um povo sem dignidade”.

cartaz protestando contra extorsão da máfia
“Todo um povo que paga a renda é um povo sem dignidade”.
Cópia do cartaz publicado pelos cinco jovens.

A atitude dos jovens se mostrou eficaz, pois propiciou a mobilização de diversos setores da sociedade italiana contra as atividades da Máfia, incluindo na fomentação de levantes similares noutros países, como a Alemanha, que, em 2007, viu seis jovens serem covardemente assassinados por causa disputas entre famílias da Ndrangheta (outra família mafiosa de origem italiana).

No passado, muitos outros tentaram enfrentar a Máfia, mas invariavelmente acabaram assassinados, como Libero Grassi, um empresário da cidade de Palermo que em janeiro de 1991, recusou-se a pagar o pizzo e publicou uma carta aberta como resposta e endereçada com um simples “querido extorsionista” no Giornale di Sicilia, causando tumulto na pequena ilha do Mediterrâneo. Entretanto, em agosto do mesmo ano Grassi estava morto.

passeatas do movimento addiopizzo contra a extorsão da máfia
Jovens seguram faixa onde se lê “livre da renda”. Créditos: autoria desconhecida.

Aprofundando o assunto, o chamado pizzo corresponde ao pagamento de suposta “venda de proteção” comercializada por organizações criminosas. Trata-se de uma taxa cobrada de todos aqueles – comerciantes, moradores, transeuntes, etc. — que estejam dentro de zona controlada por alguma organização criminosa. Sendo enfático, trata-se da mais pura extorsão e o não pagamento quase sempre acarreta a quitação do débito através de dinheiro ou sangue.

Ademais, o pizzo é o “dinheiro com o qual a organização pode contar como ‘fixo’. Além disso, a prática de outras atividades criminosas rende outros valores que entram na escala do ‘lucro’. Se faltarem, ao menos com o dinheiro da extorsão eles podem contar. Por isso os agentes criminosos ‘punem’ — sempre — os empresários que não pagam. Primeiro ameaçam, depois passam a agressões físicas, e a escala da violência contra eles e seus amigos ou familiares aumenta na medida em que reincidem na falta de pagamento, chegando a sequestros, assassinatos, e por fim, em casos de resistência total da vítima, colocam bombas ou incendeiam os negócios”. (MENDRONI, 2009, p. 193)

Site da organização Addiopizzo: http://www.addiopizzo.org/


Pano de fundo

Os mecanismos de controle financeiro atuantes no planeta não conseguem identificar o exato número, mas se estima que o resultado do recolhimento das taxas certamente é contado na cifra de bilhões de euros anualmente. Não se trata apenas da Itália, a extorsão camuflada é um problema que diversas organizações criminosas executam regularmente, incluindo os organismos semimafiosos brasileiros como o Comando Vermelho (CV) e Primeiro Comando da Capital (PCC).


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REFERÊNCIAS:
AddioPizzo (Org). nascita del movimento. Acesso em: 11 abril 2014.
BEZERRA, Eudes de Oliveira. Crime Organizado: Bureau de Investigação Anticrime Organizado. Monografia (Bacharelado em Direito) – UNIVERSIDADE SALGADO DE OLIVEIRA, CAMPUS RECIFE, 2011 – Pernambuco.
CAWTHORNE, Nigel. A História da Máfia. trad. Guilherme Miranda. São Paulo: Madras, 2012.
HUMPHREYS , Adrian. Beating the Mafia at their own game: After years of paying a ‘protection’ tax, Palermo businesses came together to fight back. Acesso em: 11 abril 2014.
MENDRONI, Marcelo Batlouni. Crime Organizado: aspectos gerais e mecanismos legais. 3. ed. São Paulo: Atlas. 2009.
SMITH, Jo Durden. A História da Máfia. trad. Beatriz Medina. São Paulo: M. Books do Brasil, 2015.
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Eudes Bezerra

37 anos, recifense, graduado em Direito e História. Diligencia pesquisas especialmente sobre Antiguidade, História Militar, Crime Organizado e Sistema Penitenciário. Gosta de ler, escrever, planejar e executar o que planeja.

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