
O secular pagamento da Máfia finalmente foi obstinadamente combatido por jovens empreendedores, que deram “calote” e ensejaram movimento de abrangência internacional antimáfia, eis o AddioPizzo!
O movimento Addiopizzo (“Adeus Renda”, em tradução literal) encontra origem na reação de cinco jovens italianos que decidiram não pagar a “taxa de proteção” conhecida como pizzo, para abrir um bar na cidade de Palermo, na Sicília, Itália — o reduto da poderosa Cosa Nostra.
No início de 2004, os jovens recém-formados foram abordados por mafiosos locais, sendo comunicados de que teriam que “contribuir” pecuniariamente por suposta compra de proteção. Revoltados com a cobrança, resolveram não pagar e ofereceram corajosa resposta ao colar, da noite ao dia, vários cartazes pela cidade de Palermo onde se lia: Un intero popolo che paga il pizzo è un popolo senza dignità — “Todo um povo que paga a renda é um povo sem dignidade”.

Cópia do cartaz publicado pelos cinco jovens.
A atitude dos jovens se mostrou eficaz, pois propiciou a mobilização de diversos setores da sociedade italiana contra as atividades da Máfia, incluindo na fomentação de levantes similares noutros países, como a Alemanha, que, em 2007, viu seis jovens serem covardemente assassinados por causa disputas entre famílias da Ndrangheta (outra família mafiosa de origem italiana).
No passado, muitos outros tentaram enfrentar a Máfia, mas invariavelmente acabaram assassinados, como Libero Grassi, um empresário da cidade de Palermo que em janeiro de 1991, recusou-se a pagar o pizzo e publicou uma carta aberta como resposta e endereçada com um simples “querido extorsionista” no Giornale di Sicilia, causando tumulto na pequena ilha do Mediterrâneo. Entretanto, em agosto do mesmo ano Grassi estava morto.

Aprofundando o assunto, o chamado pizzo corresponde ao pagamento de suposta “venda de proteção” comercializada por organizações criminosas. Trata-se de uma taxa cobrada de todos aqueles – comerciantes, moradores, transeuntes, etc. — que estejam dentro de zona controlada por alguma organização criminosa. Sendo enfático, trata-se da mais pura extorsão e o não pagamento quase sempre acarreta a quitação do débito através de dinheiro ou sangue.
Ademais, o pizzo é o “dinheiro com o qual a organização pode contar como ‘fixo’. Além disso, a prática de outras atividades criminosas rende outros valores que entram na escala do ‘lucro’. Se faltarem, ao menos com o dinheiro da extorsão eles podem contar. Por isso os agentes criminosos ‘punem’ — sempre — os empresários que não pagam. Primeiro ameaçam, depois passam a agressões físicas, e a escala da violência contra eles e seus amigos ou familiares aumenta na medida em que reincidem na falta de pagamento, chegando a sequestros, assassinatos, e por fim, em casos de resistência total da vítima, colocam bombas ou incendeiam os negócios”. (MENDRONI, 2009, p. 193)
Site da organização Addiopizzo: http://www.addiopizzo.org/
Pano de fundo
Os mecanismos de controle financeiro atuantes no planeta não conseguem identificar o exato número, mas se estima que o resultado do recolhimento das taxas certamente é contado na cifra de bilhões de euros anualmente. Não se trata apenas da Itália, a extorsão camuflada é um problema que diversas organizações criminosas executam regularmente, incluindo os organismos semimafiosos brasileiros como o Comando Vermelho (CV) e Primeiro Comando da Capital (PCC).