
Créditos: Gösta Florman.
Criado para incentivar e contemplar os que se dedicam à física, à química, à economia, à medicina, à literatura e à paz, o Prêmio Nobel encontra sua origem em tragédias que custaram inúmeras vidas. Criado pelo sueco Alfred Nobel, a premiação anual parece ser fruto de um arrependimento pessoal e ainda hoje é financiada pela herança, ora maldita ora benigna, de seu instituidor que morreu em 1896.
1. Alfred e as explosões: a origem do Prêmio Nobel
Durante o século XIX, mais do que nunca, tentou-se encontrar algum substituto viável para a milenar pólvora, que era extremamente sensível à umidade, gerava imensas concentrações de fumaça tóxica e possuía baixa potência para os usos do mundo moderno.
Em 1845 o químico suíço-alemão Christian Schönbein conseguiu acabar com o problema da fumaça em um teste que quase lhe custou a casa (e o casamento), quando meio que por acaso na cozinha de sua residência acabou criando o algodão-pólvora, que logo veio a cair nas graças dos militares.
Apenas dois anos após o êxito de Schönbein, o químico italiano Acanio Sobrero criou a nitroglicerina, o componente que aumentaria drasticamente a baixa potência da pólvora. Sobrero teria ficado tão horrorizado com o poder destrutivo de sua criação que passaria um ano sem anunciá-la.
Tanto o algodão-pólvora quanto a nitroglicerina eram extremamente instáveis e se buscava algo que conseguisse conciliá-los e assegurar estabilidade para o manuseio seguro. Outras misturas vinham sendo constantemente pesquisadas e aperfeiçoadas em diversos laboratórios, mas a perigosa e incessante instabilidade já havia mandado pelos ares fábricas, escritórios e cientistas, causando imensos estragos e gerando notório receio mundial.

O próprio Alfred Nobel sofreu com suas pesquisas: perdeu o irmão mais novo, Emil Nobel, e outros quatro trabalhadores, quando uma fábrica próxima a Estocolmo, na Suécia, explodiu em 1864. Posteriormente, outra fábrica ao norte da Alemanha, que manuseava “óleo explosivo” (composto de nitroglicerina e pólvora), sofreu duas explosões. O mesmo aconteceu com o escritório da Wells Fargo Company em São Francisco, na Califórnia, EUA, que transportava o “óleo explosivo” de Nobel para a construção civil.
Com tantas explosões e perdas humanas, diversas nações restringiram ou mesmo proibiram o manejo e transporte de substâncias tão instáveis e perigosas. Alfred, sentindo-se pressionado para encontrar uma solução, teve sua epifania no fim da década de 1860, quando finalmente conseguiu reduzir o risco de explosões ao criar a dinamite, unindo a nitroglicerina e o diatomito, uma rocha sedimentar com qualidades absorventes.
Ainda que não totalmente estabilizada, a dinamite de Nobel logo se tornou popular na engenharia civil, onde passou a ser usada na criação estradas e túneis, assim como em pedreiras em geral. Trabalhos que antes duravam anos para serem concluídos com picaretas e pás agora não necessitavam mais do que alguns meses.
A mesma popularidade alcançada na engenharia civil, também recebeu a dinamite no meio militar que há décadas procurava um substituto para a pólvora. Ainda no fim do século XIX, durante a Paz Armada, ocorreu uma infinidade de desdobramentos com outros materiais explosivos, incluindo gelatinosos, que acabariam por ser largamente utilizados na Primeira Guerra Mundial (1914–1918).

Por recear o uso maléfico e inadequado de seus inventos, Alfred Nobel, em 27 de novembro de 1895, ratificou secretamente em seu testamento que quase toda sua fortuna fosse entregue na forma de prêmios concedidos àqueles que se destacassem nas áreas da Física, Química, Medicina, Literatura e Paz. O objetivo do magnata sueco era estimular e congratular pessoas envolvidas no progresso da paz, de modo que só os que se empenhassem poderiam conquistar tal prêmio.
Pensamentos pró e contra à memória de Alfred Nobel ainda hoje persistem e não raramente são acalorados. O prêmio Nobel, inclusive, teria sido inspirado quando Alfred leu seu próprio obituário que fora erroneamente publicado por ocasião da morte de seu irmão, Emil, em 1864.
Quando faleceu o irmão caçula de Nobel, Emil, um jornal publicou um longo obituário de Alfred, por engano, acreditando que fora ele a falecer. Assim, Nobel teve uma oportunidade concedida a poucas pessoas: ler seu próprio obituário ainda em vida. Aquilo que leu o horrorizou. O jornal o descreveu como um homem que tornara possível matar mais pessoas, mais rapidamente, que qualquer outro na história da humanidade. Naquele momento, Nobel percebeu duas coisas: que ele seria lembrado daquela maneira, e que não era assim que ele desejava ser lembrado. (ALTMAN, 2016, s/p)


2. O Prêmio Nobel
Possivelmente a mais famosa premiação do planeta, o Prêmio Nobel ocorre todos os anos em dois países nórdicos — Suécia e Noruega —, sendo considerada uma agremiação tipicamente sueca (a Noruega era parte do Reino da Suécia quando o prêmio fora instituído) e agraciando vencedores em seis categorias, quais sejam: Física, Química, Economia, Literatura, Medicina e o da Paz.
Diferentemente do imaginado, a Fundação Nobel não é a instituição responsável pela escolha dos vencedores, restando-lhe apenas a administração dos recursos financeiros. Os prêmios de Física, Química e Economia são entregues pela Academia Real das Ciências da Suécia; o de Literatura pela Academia Sueca; o de Medicina/Fisiologia pelo Instituto Karolinska (também da Suécia); e o da Paz por um comitê de cinco membros designado pelo parlamento norueguês.
Originalmente, apenas o Nobel de Economia não remonta seu instituidor, tendo sido acrescentado em 1968 – em memória de Alfred Nobel – e entregue pela primeira vez em 1969. Todas as demais condecorações recordam sua origem em 1901, quando desde então vêm sendo concretizadas nos meses de outubro (anúncio dos vencedores) e dezembro (entrega do prêmio).

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