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Brasil

Ciclo do ouro: descoberta e declínio do ouro

Ciclo do ouro: descoberta e decadência, onde milhares morreram ou ficaram ricos com os cofres de Portugal tendo sido inundados por ouro.


ciclo do ouro no Brasil
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Escrito por Eudes Bezerra
Leitura: 7 minutos
ciclo do ouro no Brasil
Ciclo do ouro: descoberta e decadência, onde milhares morreram ou ficaram ricos com os cofres de Portugal tendo sido inundados por ouro. Créditos: 1ª imagem: autoria desconhecida; 2ª imagem: Sebastião Salgado retratando Serra Pelada / Montagem: Eudes Bezerra.

Ciclo do ouro: descoberta, histórias e decadência, onde milhares de pessoas morreram ou ficaram ricas na busca por riquezas, tendo os cofres da Coroa portuguesa sido inundados por metais preciosos.

A novidade dos descobertos de ouro circulou rápido pela colônia; em São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador muita gente comentava e enviava mensagens alvoroçadas para parentes em Portugal.

Não havia mais o que fazer.

Nem o esforço da Coroa em manter segredo sobre a localização das Minas, receosa da cobiça das potências rivais, nem o susto das autoridades locais diante da debandada de moradores dos núcleos de povoamento do litoral, nem mesmo a áspera travessia da Mantiqueira, nada conseguia impor limites à ambição desenfreada, e uma massa alucinada se deslocou para aquela região. (SCHWARCZ; STARLING, 2015, p. 114)

O fragmento sintetiza bem o que teria ocorrido com a descoberta do ouro, iniciando um novo momento: o ciclo do ouro.

Boa leitura!

TÓPICOS DO CICLO DO OURO NO BRASIL

1. Decadência do Pau-Brasil e do ciclo açucareiro
2. Expansão para o interior do Brasil Colônia: bandeiras e entradas
⠀⠀2.1 Bandeiras e Entradas
⠀⠀2.2 Desbravamento e expansão territorial
⠀⠀2.3 “Guerras Justas” de escravidão e morticínios de indígenas
3. Expedição de Fernão Dias
⠀⠀3.1 Arraiais de Santana e do Sumidouro
4. Descoberta do Ouro
5. Ciclo do ouro
⠀⠀5.1 Vila Rica do Ouro Preto
⠀⠀5.2 Mudanças na colônia portuguesa e os impostos
6. Declínio do Ciclo do Ouro
Referências

1. DECADÊNCIA DO PAU-BRASIL E DO CICLO AÇUCAREIRO

O auge dos ciclos do Pau-Brasil e da cana-de-açúcar já havia passado, tendo diversas outras atividades complementares.

As capitanias hereditárias foram um fracasso, exceto pelas de Pernambuco e São Vicente.

O ciclo do açúcar, no século XVII ainda era promissor, contudo, com a produção de açúcar pelos holandeses no Caribe (Antilhas) fez o preço do açúcar brasileiro despencar.

Ao passo disso, uma antiga vontade da coroa portuguesa se mantinha acesa: a descoberta de minerais preciosos, ouro e prata principalmente.

Por fim, o processo realizado pelas entradas e bandeiras acabariam por finalmente comtemplar a Coroa portuguesa com o sonho há séculos desejado.

ciclo do ouro e da cana de açúcar maurício de nassau
O auge do ciclo açucareiro havia ocorrido durante o Domínio Holandês quando grande parte do atual Nordeste se encontrava se encontrava sob a bandeira da Holanda e governo do conde alemão Maurício de Nassau. Créditos: Jan de Baen.

2. EXPANSÃO PARA O INTERIOR DO BRASIL COLÔNIA: BANDEIRAS E ENTRADAS

A expansão para o interior do Brasil se fez habitualmente pelas chamadas bandeiras e entradas, que eram expedições com fins de reconhecimento geográfico, aprisionamento de indígenas para escravidão nas chamadas “guerras justas”.

Também havia a esperança de encontrar minerais preciosos e diversas expedições eram realizadas.

2.1 Bandeiras e Entradas

A diferença singular entre bandeiras e entradas recai sobre o fato das bandeiras serem custeadas ou promovidas por particulares.

As entradas, por sua vez, eram as expedições oficiais. Isto é, pagas e realizadas pelo Estado.

No mais, ambas surgiram e partiram de diversas regiões do país, sobretudo atuais Norte e Sudeste do Brasil.

2.2 Desbravamento e expansão territorial

Parte do território nacional, hoje pertencente ao Brasil, decorre dessas expedições que cada vez mais adentravam o interior da colônia portuguesa em busca de algo que pudesse render frutos financeiros, sobretudo ouro.

Durante a União Ibérica, houve uma espécie de “pausa” no Tratado de Tordesilhas, visto que a Espanha se apossou temporariamente da coroa portuguesa e se encontrava concentrada nas suas ricas jazidas de ouro e prata, assim como nos conflitos externos.

2.3 “Guerras Justas” de escravidão e morticínios de indígenas

Durante as expedições, houve a escravização de indígena e principalmente a morte dos nativos por doenças, não raramente também sendo fruto de massacres, onde vilas inteiras eram incendiadas.

Os bandeirantes, guiados por indígenas, eram uma forma bem militarizada cujo propósito era sobreviver mata adentro e com a promessa de obter grandes lucros.

ciclo do ouro e o bandeirante Domingos Jorge Velho
Atualmente, o suposto caráter de heróis dos bandeirantes tem perdido cada vez mais o sentido de “heroísmo”, passando a encontrar termos mais coerentes ainda em discussão, visto que eram interesses econômicos e principalmente privados. Créditos: Domingos Jorge Velho, de Benedito Calixto / Coleção Museu Paulista / Coleção Fundo Museu Paulista.

3. EXPEDIÇÃO DE FERNÃO DIAS

Em 21 de julho de 1674, a bandeira liderada por Fernão Dias partiu de São Paulo de Piratininga em busca de ouro.

Havia relatos indígenas, assim como guias, que conheciam lugares onde se encontrariam o tão almejado mineral.

A expedição de Fernão Dias não logrou o êxito esperado, mas se notabilizou pelo descobrimento de turmalinas (de pouco valor) e principalmente pelo modo com o qual a expedição foi organizada.

3.1 Arraiais de Santana e do Sumidouro

Em meio a morros e mata fechada, Fernão Dias criou os arraiais de Santana e do Sumidouro, no qual uma série produtos agrícolas foram produzidos de forma a se suprir sem a necessidade de rotas com os grandes centros urbanos.

Esses arraiais também funcionavam como postos militarizados contra eventuais ações indígenas e afins, de modo que se ensinou a estratégia de sobrevivência nos sertões (“interiores”).

Esse tipo de estrutura se mostraria vital não apenas para o ciclo do ouro, mas também para o povoamento de regiões mais remotas, como o Sul do Brasil.

4. DESCOBERTA DO OURO

A descoberta do ouro teria ocorrido em algum momento antes mesmo da década de 1690.

Contudo, a Coroa teria sido privada da notícia da descoberta de ouro, já que os colonizadores das regiões próximas não desejavam a interferência de Portugal.

Entretanto, em 1697, o registro oficial da descoberta de metais preciosos na colônia portuguesa incendiou os ânimos da Coroa que implementou uma série de medidas para controle e absorção de impostos.

A partir de São Paulo de Piratininga as expedições começaram a ser cada vez mais frequentes, inicialmente pela Serra da Mantiqueira, um percurso difícil e custoso que levou milhares a morte em busca de ouro.

5. CICLO DO OURO

Com o ciclo do ouro, houve uma inundação de pessoas das mais diferentes classes a se projetar nas regiões auríferas, acabando por descobrir ouro também nos atuais estados de Goiás e Mato Grosso.

O ápice do ciclo do ouro durou cerca de 60 anos. Pouco tempo, mas o suficiente para causar diversas transformações tanto no Reino de Portugal quanto no Brasil Colônia.

ciclo do ouro e o tráfico negreiro
O tráfico negreiro ganhou grande força durante o ciclo do ouro, mas todos se arriscavam na busca por riquezas. Contudo, uma coisa era ir por vontade própria, outra era ser acorrentado. Créditos: Johann Moritz Rugendas.

5.1 Vila Rica do Ouro Preto

Vila rica, a cidade que mais absorveu a riqueza do ciclo do ouro na colônia portuguesa, tornou-se próspera, apesar da sua decadência estar relacionada ao fim dos metais preciosos.

O Barroco de Aleijadinho e mestre Ataíde se destacaram na cidade. Também foram erguidas pontes ornamentadas, tudo feito com pedras, o que indicava uma ideia de continuidade de Vila Rica.

Ainda, Vila Rica também seria o palco da Inconfidência Mineira que, mesmo tendo resultados pífios ou fracassados de acordo com o pretendido (emancipação), serviu de inspiração a outras revoltas nativas do período.

Contudo, boa parte destas revoltas e algumas guerras, que perdurariam até o Brasil Império já no século XVIII, eram inspiradas na independência das Treze Colônias inglesas (EUA) e posteriormente na Revolução Francesa, que fez o intercâmbio de ideias pipocarem por toda colônia portuguesa.

5.2 Mudanças na colônia portuguesa e os impostos

Com a descoberta do ouro (e o seu contrabando), assim como a prevenção de eventuais invasões estrangeiras, a Coroa implementou uma série de medidas.

Entre umas de destaque, encontra-se a transferência da capital da província de Salvador para o Rio de Janeiro e uma série de impostos, como o Quinto e a Derrama.

O Quinto correspondia a 20% do lucro conseguido nas colônias e havia sido instaurado muito antes da descoberta o ouro, ainda durante a fase canavieira.

A Derrama, por outro lado, foi um imposto implementado no ano de 1751 para garantir que a Coroa continuasse a obter determinada quantia dos lucros.

A Derrama equivalia a 100 arrobas de ouro e substituiu o Quinto. Contudo, na década de 1750 o ciclo do ouro se encontrava em decadência, sendo o imposto cobrado dos exploradores para o complemento.

Essa cobrança foi rejeitada pelos que eram cobrados, mas acabou por ser cobrada pelo Estado português.

A Derrama acabaria por ser o estopim de motins e revoltas, como a Inconfidência Mineira, também conhecida como Conjuração Mineira.

clico do ouro em minas gerais, mato grosso e goiás
Não apenas em Minas Gerais foram encontradas jazidas de ouro, mas também em Goiás e Mato Grosso em grandes quantidades. Créditos: Acervo Histórico Ultramarino, Portugal.

6. DECLÍNIO DO CICLO DO OURO

A decadência completa do ciclo do ouro ocorreu na segunda metade do século XVIII, quando pouco ou nada mais era registrado e enviado à Coroa Portuguesa.

Acredita-se que ao menos 35 toneladas de metais preciosos foram enviadas a Portugal, tendo o descaminho e os saque conseguindo evitar uma soma fabulosa que ainda não se tem ideia de valor certo.

Durante todo o turbulento período aurífero, houve bastante contrabando, assaltos e mortes na febre do ouro que mais tarde também seria vista em Serra Pelada.

comparação entre o ciclo do ouro e serra pelada
O chamado formigueiro de Serra Pelada. Créditos: Sebastião Salgado.

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REFERÊNCIA(S):

BRAICK, Patrícia Ramos; MOTA, Myriam Becho. História: das cavernas ao terceiro milênio. 3ª ed. reform. e atual. São Paulo: Moderna, 2007.
FAUSTO, Boris; FAUSTO, Sérgio (colab). História do Brasil. 14ª ed. atual. e ampl., 2º reimpr. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2015.
MELLO, José Antônio Gonsalves de. Tempo dos Flamengos: A influência da ocupação holandesa na vida e cultura do norte do Brasil. 3ª ed. Rio de Janeiro: Top Books, 2001.
MICELI, Paulo. História Moderna. 4ª reimpressão. São Paulo: Contexto, 2020.
SCHWARCZ, Lilia Moritz; STARLING, Heloisa Murgel. Brasil: uma biografia. 1ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
SILVA, Kalina Vanderlei; SILVA, Maciel Henrique. Dicionário de conceitos históricos. 3. ed., 9ª reimpressão. São Paulo: Contexto, 2020.
VINCENTINO, Cláudio; DORIGO, Gianpaolo. História Geral e do Brasil. São Paulo: Scipione, 2002.
WOOLF, Alex. Uma nova história do mundo. São Paulo: M. Books do Brasil Editora Ltda, 2014.
IMAGEM(NS):
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Eudes Bezerra

35 anos, pernambucano arretado, bacharel em Direito e graduando em História. Diligencia pesquisas especialmente sobre História Militar, Crime Organizado e Sistema Penitenciário. Gosta de ler, escrever, planejar e principalmente executar o que planeja. Na Internet, atua de despachante a patrão, enfatizando a criação de conteúdo.

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