Biografias George Bugs Moran, o Louco O assassino Bugs Moran, com os gangsteres da North Side, por pouco, bem pouco, não tomou a fama e o controle de Chicago do seu maior rival, Al Capone. Biografias • Crime Organizado • Criminosos • Idade Contemporânea • Períodos • Personalidades Autor: Eudes Bezerra Matéria criada em 25 junho 2014 Atualizada em 2 maio 2018 8 minutos George Clarence Monran, o Louco. Créditos: autoria desconhecida / Everett. Quando Al Capone não era o senhor absoluto da cidade de Chicago, ele possuía um rival à altura, sendo este igualmente truculento e sem escrúpulo, seu nome era George “Bugs” Moran, o assassino louco. Na organização North Side, Moran por pouco, bem pouco, não abreviou os dias de glória de Capone. Foi uma negligência. Hymie devia ter limpado as [minhas] digitais, mas se esqueceu” — palavras de Moran à imprensa após um juiz corrupto lhe absolver, ao dispensar prova que continha suas digitais na cena do crime. Origem, infância e primeiros passos Filho de um irlandês e uma polonesa, George Clarence Moran veio ao mundo em 21 de agosto de 1893 na agitada cidade de Saint Paul, em Minnesota, Estados Unidos. Pouco menos de seis anos depois, em 1899, a família Moran já contava quatro filhos e, desejando o melhor para eles, estabeleceu-se ao norte de Chicago, em Kilgubbin, um território amplamente habitado por irlandeses e seus descendentes. A vizinhança de St. Paul não era das melhores, mas a nova moradia também não se encontrava nos seus melhores dias — Kilgubbin era, por vezes, chamada de “Cozinha do Inferno” ou “Pequeno Inferno” —. Contudo, era Saint Paul que se tornaria o “Paraíso dos bandidos”, como mais tarde diria o inimigo público número 1, Alvin Karpis. Ainda na adolescência, Bugs começou a se afastar da escola, ao passo que fazia novas amizades e não demorou para que iniciasse pequenos furtos. Sentia as dificuldades que os pais, honestamente, tinham para prover o sustento da casa. Diz-se que isso o incomodava profundamente e que ainda cedo “o jovem aprendeu uma lição extremamente valiosa: por mais duramente que o pai trabalhasse, dificilmente ganharia dinheiro suficiente para alimentar e sustentar a família. Numa tentativa de ajudar o pai, Bugs começou a ganhar umas moedas roubando cavalos de carga e escondendo-os até os donos pagarem uma espécie de resgate pelos animais.” (CARTER, 2005, p.192) “Senhor Doutor Juiz, é um belo diamante esse que aí tem. Se alguém lho roubar uma dessas noites, prometa-me que não vai atrás de mim. Estou a dizer-lhe agora que sou inocente” — Moran, no tribunal, dirigindo-se ao juiz John H. Lyle. Créditos: Hulton Archive / Getty Images. Pelos roubos de cavalos, Bugs Moran acabou sendo preso em 1910. Ainda nesta década cometeu vários crimes, foi encarcerado outras duas vezes e fez novos amigos que se destacavam na vizinhança irlandesa, como Charles Dean O’Banion, Hymie Weiss e Vincent Drucci. O’Banion, um florista que gozava de respeito e temor alheios, assemelhava-se a Robin Hood e enxergava Moran com bons olhos, principalmente quando descobriu que ele não havia delatado seus camaradas em sua estadia na mal-afamada instituição prisional de Joliet, após um roubou malsucedido a um armazém. “Nenhuma prisão é um palácio, mas Joliet era excepcionalmente de baixo nível. As condições de vida eram sórdidas, o trabalho monótono e os guardas violentos. Moran manteve a cabeça baixa, cumpriu a pena e, quando foi libertado, voltou diretamente para a quadrilha, que o recebeu de braços abertos. O’Banion, em particular, estava impressionado com Moran por este não ter entregue os outros”. (CARTER, 2005, p. 193) A guerra Outfit Chicago-North Side Algum tempo depois, quando já fortes o suficiente, O’Banion e Hymie Weiss convidaram Moran e Drucci ao dar origem a North Side, que logo se tornaria a mais forte organização criminosa de Chicago. O grupo irlando-americano progrediu sem maiores percalços até entrar em guerra com outras organizações, como a recém-chegada Outfit Chicago, grupo de origem italiana e encabeçada por Johnny “The Fox” Torrio e seus homens de confiança, Frank Yale e Alphonse Capone (Al Capone). Após um consenso e breve paz entre os anos de 1921 a 1924, intrigas e atentados mútuos se iniciaram levando tiroteios ao centro e subúrbio da cidade de Chicago. Em 19 de maio de 1924, o florista O’Banion disparou uma armadilha na qual Torrio acabaria condenado a nove meses de prisão: previamente informado que uma de suas destilarias sofreria uma batida policial, o líder North Side pôs a fábrica de bebidas à venda oferecendo a Torrio e marcando uma reunião de negócios. Tudo sob o pretexto de que iria se retirar do ramo. Entretanto, quando o italiano chegou ao encontro, acabou sendo preso por sua segunda infração à Lei Seca, o que significava prisão certa. O grande rival da North Side: Al Capone, Scarface. Créditos: autoria desconhecida / Ap Photo. Quando Torrio descobriu a armação do florista, tratou de encomendar a morte de O’Banion com os Irmãos Genna, do West Side, e em 10 de novembro de 1924 O’Banion foi crivado à bala em sua floricultura. Após sua morte, Torrio decidiu viajar à Europa em uma espécie de férias sem-fim, deixando Al Capone a cargo de suas atividades. Bugs Moran, Weiss e Drucci, profundamente tristes e irritados com a morte do patrão-irmão, iniciaram uma tremenda guerra contra as demais organizações, principalmente contra a Outfit de Capone. Em pouco tempo, todos os seis irmãos Genna, que dominavam o West Side, assim como muitos outros, estavam mortos ou desaparecidos. Os ataques Outfit-North Side se proliferaram de modo tão avassalador, que parece ser certo que as clássicas disputas a tiros entre gangsteres nasceram nas ruas de Chicago — tiroteios eletrizantes abordo de veículos velozes amplamente reproduzidos por filmes de Hollywood —. A luta embarcou em uma selvageria em que não se respeitava mais nada, a polícia pouco podia fazer e o número de mortos dos dois lados do conflito crescia regularmente dia após dia. Em 12 de janeiro de 1925, quando Al Capone se direcionava a entrada de um restaurante entre as avenidas State e 55.ª, Bugs Moran, Drucci e Weiss passaram abordo de um carro descarregando suas tommy guns (submetralhadoras). Capone e seus homens se jogaram no chão a tempo e saíram ilesos. Somente Sylvester Barton, o motorista, foi ferido. Após o atentado Scarface (Capone) mandou blindar alguns de seus carros. Ainda no mesmo mês, no dia 24, Torrio, que já havia retornado da Europa, sofreu um atentado que por pouco não lhe tirou a vida: quando voltava para casa após fazer compras com a esposa, Bugs Moran e Hymie Weiss abriram fogo ferindo-o gravemente por todo o corpo, incluindo o seu rosto. Com Torrio caído no chão, Moran se aproximou, apontou a arma automática para a têmpora do seu alvo e puxou o gatilho — um clique surdo, seguido de outros… Para a surpresa do irlando-americano — e felicidade do italiano —, a arma estava descarregada. A essa altura do atentado, a vizinhança, carros e pessoas já se aglomeravam nos arredores, acabando por fazer com que os atacantes fugissem. Torrio foi levado ao hospital, recuperou-se, honrou a omertà (“lei do silêncio”), ao não dizer nada às autoridades, e decidiu de vez se mudar para a Itália, passando seus negócios em Chicago a Al Capone. Posteriormente, em 13 de junho de 1925, Bugs Moran e Drucci quase foram mortos, quando, no cruzamento entre as avenidas Sangamon e Congress, homens passaram em uma limusine negra metralhando os dois, que gravemente feridos foram socorridos ao hospital onde passaram semanas internados. O atentado ao Anton’s Hotel Em 20 de setembro de 1926, em Cícero, cidade vizinha a Chicago, ocorreu uma das mais espetaculares tentativas de assassinato da história do crime organizado: uma caravana de seis carros com membros da North Side desceu a 22ª Avenida em direção ao Anton’s Hotel onde Capone jantava. Com suas submetralhadoras expostas do fora dos carros, os soldados do norte de Chicago destruíram a balas diversos estabelecimentos no coração do território de Al Capone – ousadia que o teria decidido encerrar a guerra. As ruas estavam apinhadas de gente quando o tiroteio começou à porta do Anton’s Hotel. As metralhadoras varreram de ponta a ponta as montras da barbearia de Angelo Gurdi, onde Capone fazia diariamente a barba, uma charcutaria, uma lavandaria e o Restaurante Hawthorne. Numa saraivada assassina final, um homem envergando um macacão de caqui desceu de um dos carros e aproximou-se da entrada principal do Hotel Hawthorne. Com a metralhadora repousando sobre o joelho, pulverizou o átrio [aposentos] da mesma maneira que um jardineiro apontaria a mangueira para um relvado sequioso. Depois, os carros atacantes ganharam velocidade, cruzando os limites da cidade de regresso a Chicago”. (CARTER, 2005, p. 200) O declínio da North Side A 4 de outubro de 1926, a Outfit tentou uma conciliação com a North Side sem efeito. A Capone foi exigido que entregasse os assassinos de O’Banion, coisa que o chefe ítalo-americano se recusou a fazer. Então Al Capone partiu mais uma vez para o ataque, sendo mais eficiente que os rivais: em 11 de outubro de 1926, Hymie Weiss e outros homens foram baleados. Weiss morreu a caminho do hospital. Após a morte de Weiss, novo acordo de paz foi selado entre os grupos, mas, no dia 4 de abril de 1927, Vinnie Drucci foi morto por um policial que o avistara tentando desarmar outro policial. Drucci havia tentado saquear um gabinete eleitoral (prática comum e a pedido de políticos envolvidos com o crime). Agora, George “Bugs” Moran se encontrava privado de seus antigos amigos de confiança, ao passo que seu império do crime desmoronava. O Massacre do Dia de São Valentim Em 14 de fevereiro de 1929, Al Capone organizou o épico ataque a um dos quarteis generais de Moran, que ficaria mundialmente conhecido com o Massacre do Dia de São Valentim. O ataque teve como palco a Garagem da SMC Cartage Company, na North Clark Street, mas que, na verdade, tratava-se de um quartel general da North Side. Dois policiais entraram na garagem e abordaram os principais soldados de Bugs Moran, no que parecia se tratar de uma batida policial. Moran, que se encontrava atrasado para a reunião, evadiu-se do local ao avistar o carro da polícia, também imaginando se tratar de uma simples batida. Todavia, não se tratava de batida nem de policiais, era o alto escalão de Capone executando seu plano para encerrar a guerra. “Os ‘policiais’ colocaram todos os homens contra parede, de pernas abertas e mãos para o alto. Os homens foram revistados, suas armas apreendidas e apenas aguardavam as algemas. Outros dois homens, supostamente “detetives” e vestindo sobretudos, entraram armados com submetralhadoras Thompson (“tommy gun”). Encostados na parede e de costas para os seus carrascos, os sete homens foram destruídos com mais de 100 tiros à queima roupa.” (BEZERRA, 2014, s/p, adaptado). Créditos: Hulton-Deutsch Collection / Corbis. ID: HU010546. O fim de George Bugs Moran Após o Massacre do Dia de São Valentim, Moran teve sua força reduzida e se tornou incapaz de vencer Scarface. Em meados da década de 1930 fogiu para o estado de Wisconsin. Na década de 1940, reduzido a bandido pequeno e divorciado, nem de longe lembrava aquele George “Bugs” Moran que controlava o North Side. Em 1946, foi preso pela Agência Federal de Investigação (FBI) e condenado pela Justiça por ter participado de um assalto a banco. Após 10 anos vendo o sol nascer quadrado, Moran, que estava para ser solto, recebeu nova condenação na mesma quantidade de pena por crime de igual gênero. George Moran com seu advogado George Bieber no tribunal de Chicago, onde Moran era acusado de liderar a North Side, 23 de abril de 1938. Créditos: Bettmann / Corbis. ID: U444527ACME. Em 25 de fevereiro de 1957, aos 65 anos de idade, George “Bugs” Moran faleceu em decorrência de câncer de pulmão. Para quem caminhou com grandes homens de seu tempo e certamente se assemelhou a um poderoso chefão da Máfia, Moran morreu com míseros U$ 100,00 em seu nome e foi enterrado em uma vala de indigente. REFERÊNCIAS: BARDSLEY, Marilyn. Al Capone: Chicago’s Most Infamous Mob Boss. Acesso em: 16 abril 2014. BEZERRA, Eudes. O Massacre do Dia de São Valentim. Acesso em: 18 abr. 2014. CARTER, Lauren. Os maiores gângsters da História. trad. Isabel Teresa Santos. Lisboa: Editorial Estampa, 2005. CAWTHORNE, Nigel. A História da Máfia. trad. Guilherme Miranda. São Paulo: Madras, 2012. KERR, Gordon. Assassinos Profissionais. trad. Alexandre Martins. Larousse do Brasil: São Paulo, 2010. IMAGEM(NS): Buscou-se informações para creditar a(s) imagem(ns), contudo, nada foi encontrado. Caso saiba, por gentileza, entrar em contato: contato@incrivelhistoria.com.br Eudes Bezerra37 anos, recifense, graduado em Direito e História. Diligencia pesquisas especialmente sobre Antiguidade, História Militar, Crime Organizado e Sistema Penitenciário. Gosta de ler, escrever, planejar e executar o que planeja. Tags usadas: gângsteres Deixe um comentário Cancelar respostaO seu endereço de e-mail não será publicado. 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