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Idade Contemporânea

Carl von Cosel e a sua noiva cadáver

A obsessão de Carl von Cosel: a bonita, desmedida, intrigante e macabra história de amor que venceu a morte, começando onde normalmente tudo acaba.


Cosel de óculos e boneca cadáver
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Escrito por Eudes Bezerra
Leitura: 4 minutos
Cosel homem de óculos e boneca cadáver
Carl von Cosel e sua noiva cadáver. Créditos: autoria desconhecida.

Arrebatado por uma paixão avassaladora, Carl von Cosel procurou cuidar de sua amada até morrer (também). Carl se apaixonou pela bela Elena quando trabalhava em um hospital, mas de pouco tempo dispôs para lhe apresentar seus nobres sentimentos: Elena, infelizmente, não resistiu à doença. A morte causou profundas mudanças de hábito em Carl que, obcecado e se sentindo frustrado por não conseguir salvar a vida de sua amada, fez de tudo para conservar seu corpo — mantendo, inclusive, relações sexuais com sua noiva cadáver.

Carl (ou Karl) Von Cosel nasceu na histórica cidade de Dresden, na Alemanha, em 8 de fevereiro de 1877, e lá teve uma vida considerada por muitos como distinta e promissora: era considerado um homem maduro, bem instruído e dono de títulos.

Em 1927, aos 50 anos de idade, decidido a começar nova vida, Cosel emigrou aos Estados Unidos da América, indo residir na cidade de Key West, na Flórida. Rapidamente começou a trabalhar como radiologista em um hospital da Marinha, onde se apaixonaria pela jovem Maria Elena de Hoyos. Carl acreditava que ela estaria “destinada” a casar consigo — em sonhos, ele teria visto o semblante de sua “prometida”.

Elena, de fato, tratava-se de uma bela e adorável jovem de origem cubana, que por sua estonteante beleza trabalhava como modelo. Em meados de 1930, Elena contraiu tuberculose e seu pai, desesperado, teria subornado um amigo que era médico do hospital da Marinha. Assim, Elena teria sido internada no melhor hospital da região, valendo-se de vasto leque de exames médicos.

Registro de Cosel sobre a primeira vez em que viu Elena:

[Elena] vestia um vestido colorido de primavera cuidadosamente passado. Ao redor de seu pescoço um colar de pérolas artificiais. Tinha pernas esbeltas, um cabelo negro liso e longo que balançava sobre seus suaves e bronzeados ombros. Ele [cabelo] evitou seus olhos, mas não seus seios que insistiam em pular nervosamente no decote por culpa da maldita tosse.” (Metamorfose Digital, s/p, 2015, acréscimo nosso)

A relação dos dois era meramente médico-paciente, contudo, Carl alimentava esperanças amorosas quanto à paciente. Procurou cuidar dela a todo custo, sendo seu ombro amigo enquanto sua vida se esvaia. Dizia-se que Carl Von Cosel “era um homem afável e de trato fácil que surpreendia por sua inteligência e habilidades”.

mulher com laço na cabeça
A obsessão de Cosel, Maria Elena de Hoyos. Créditos: autoria desconhecida.

A morte de Elena: o início da obsessão de Carl Von Cosel

Apesar dos cuidados do bom médico e amigo, Elena de Hoyos morreu em 25 de outubro de 1931. Quando por ocasião do seu enterro, Carl convenceu a família da jovem a construir um mausoléu, no qual o cadáver foi depositado em um caixão metálico que continha dutos para o fornecimento de formol e outras substâncias, para sustentar a conservação do corpo de Elena. Posteriormente, Carl teria passado a visitar o mausoléu de Elena todas as noites até que um dia parou. Ele havia levado o cadáver da jovem para sua casa…

“Durante os seguintes sete anos, Von Cosel fez tudo de humanamente possível para manter a sua amada próxima dele; em corpo e alma. Amarrou os ossos com cordas de piano, preencheu seus órgãos desidratados com trapos empapados em líquido embalsamador e canela chinesa. Parte por parte, foi fortalecendo sua pele com trechos de cera e seda, construindo uma máscara de sua face que lhe servia de molde nas manutenções. Tratava regularmente sua pele com loções, poções e eletro-terapia mediante a bobina de Tesla. Substituiu sua podridão com olhos de vidro, e fabricou uma peruca com os cabelos que perdeu durante tanto tempo. Vestiu-a com um traje de casamento, véu de renda branco, tiara e alianças e, depois de perfumá-la com azeites, ninava-a em sua cama com as melodias que tocava no órgão de fabricação caseira.” (Metamorfose Digital, s/p, 2015)

restos mortais
Os restos de Elena. Créditos: autoria desconhecida.

Quando a doentia e curiosa história foi descoberta, Carl foi a preso. A história do obsessivo Carl Von Cosel e sua Boneca Cadáver — como ficou conhecida — gerou horror e compaixão na/da sociedade. Quando preso, dois admiradores pagaram a fiança de 1.000 dólares e Cosel foi para casa esperar a data do julgamento. A funerária para onde o corpo de Elena foi levado se tornou “ponto turístico”, onde o restante do cadáver acabou exibido por três dias e que teria sido visto por mais de 6.000 pessoas.

Muita gente se sensibilizou com o radiologista, afirmando que ele havia feito algo distinto e maravilhosamente romântico. Os fãs que Carl Von Cosel arrebatou levaram presentes e apoio. Também teria recebido a oferta de um grupo de prostitutas cubanas que ofereceram gratuitamente seus serviços.

O delito de Carl havia prescrito e ele foi posto em liberdade. Estranhamente, foi declarado sensato. “O amor de Carl por Elena foi interminável e assim permaneceu, inquebrantável. Em 3 de julho de 1952 Carl foi encontrado morto abraçado a uma efígie de cera de tamanho natural de sua amada.” (Metamorfose Digital, s/p, 2015)

Cego pela irracionalidade, Carl Von Cosel se tornou marionete de sentimentos, alucinações e paixões. Uma mórbida história de um amor que começa onde acabam as demais. Amor impossível entre um cadáver e seu raptor.

Matéria indicada pelo blog Convulssion.

REFERÊNCIAS:

Convulssion. A Boneca Cadáver de Carl von Consel. Acesso em 8 mar. 2013.
Curious Tendency. Carl Von Cosel and Elena Hoyos – Undying Love or Morbid Obsession?. Acesso em 8 mar. 2013.
Metamorfose Digital. O segredo do túmulo de Elena. Acesso em 8 mar. 2013.
IMAGEM(NS): A equipe do Museu de Imagens buscou informações para creditar a(s) imagem(ns), contudo, nada foi encontrado. Caso saiba, por gentileza, entre em contato.

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Eudes Bezerra

35 anos, pernambucano arretado, bacharel em Direito e graduando em História. Diligencia pesquisas especialmente sobre História Militar, Crime Organizado e Sistema Penitenciário. Gosta de ler, escrever, planejar e principalmente executar o que planeja. Na Internet, atua de despachante a patrão, enfatizando a criação de conteúdo.

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