
Pintura de Aleksandr Nikanorovich Novoskoltsev, 1880.
Durante o reinado do czar Ivan, o Terrível, no século XVI, o embrião do serviço secreto russo foi criado sobre a alcunha de Oprichniki. Trajados em negro, seus cavaleiros transportavam consigo os enigmas da lealdade absoluta e da violência de suas ações em defesa do regime. Infamemente reputados, os chamados “cães do czar” são comparados aos esquadrões da morte contemporâneos e às polícias secretas de regimes ditatoriais pelo histórico de suas ações.
1. A origem Oprichniki
No século XVI, o primeiro czar da Rússia, Ivan IV, ao tentar se precaver de possíveis perseguições de boiardos (nobres), assim como manter seus domínios sobre controle, criou uma sádica espécie de vigilantes especiais para investigar, perseguir e cumprir suas ordens: os oprichniki.
Possivelmente portador de distúrbios psicológicos, Ivan IV ficou conhecido por sua crueldade e pelos surtos paranoicos persecutórios que lhe acompanharam durante toda sua vida. Por suas ações desmedidas, quando não arbitrárias, recebeu a alcunha de Ivan, o Terrível ou o Severo.
Não se sabe a exata origem do Oprichnik. Provavelmente esta organização teria sido criada por volta do ano de 1565, em Moscóvia (Moscou), por exclusiva iniciativa do czar. “Os oprichniki eram chefiados em pessoa por Ivan IV e não tinham qualquer pudor em despejar sua fúria homicida sobre aldeões, numa lealdade cega ao soberano que lhes mereceram a alcunha de cães do czar. O oprichniki mais famoso, Malyuta Skuratov, chegou a assassinar milhares de habitantes da cidade de Novgorod, quase toda a população, homens, mulheres, crianças, esquartejando, queimando vivos e empalando muitos dos infelizes”. (DIOGO, 2013, p. 59, grifo autoral e nosso)

Pintura de Nikolai Nevrev, 1870.
2. A corporação
Com efetivo de poucas centenas de cavaleiros, o destacamento especial era padronizado e portava os signos estabelecidos pelo próprio Ivan IV: os trajes negros que utilizavam eram similares a vestes monásticas, indicando tanto a influência da própria religiosidade do monarca quanto a nítida intenção de impor terror psicológico na confecção dos símbolos de sua guarda especial.
De maneira semelhante, os oprichniki montavam cavalos igualmente vestidos, que transportavam a principal mensagem do czar: crânios de cães presos na sua dianteira — os símbolos da lealdade irracional e cega. Uma vassoura também era levada pelo cavaleiro e significava a limpeza dos inimigos.
3. O Massacre de Novgorod
No ano de 1570, os habitantes da cidade russa de Novgorod foram acusados de traição para com o czar, supostamente por engendrar motins. Ivan, o Terrível, expediu ordem para que sua cavalaria negra saqueasse a cidade e punisse os envolvidos na trama conspiratória: durante alguns meses, os oprichniki pilharam, torturaram e massacraram a população de Novgorod, quase a exterminando.
Embora o soberano da Rússia acreditasse que os responsáveis pela suposta deslealdade fossem os boiardos e os membros da igreja local, a perseguição se estendeu à classe média e ao campesinato com igual brutalidade.
Após a devastadora carnificina gerada pela lâmina dos oprichniki, a fome e o frio elevaram o número de vítimas, o qual incrivelmente diverge entre 2.700 e 60 mil mortos. Pesquisadores atuais acreditam em 7.500 mortos.
4. O fim da polícia secreta, surge o embrião das agências secretas russas
Em 1575, Ivan IV, em raro um momento de lucidez, percebeu a devastação que seus cães raivosos estavam causando sobre a Rússia e resolveu por dissolver a corporação. Entretanto, como última missão, ordenou um último ataque onde 40 nobres foram executados.
Desta forma, o Oprichnik deixou de existir, mas suas lições de terror foram absorvidas pelos herdeiros do déspota. Doravante, organizações equivalentes surgiram e novamente prestaram serviços aos czares, como o Preobrazhensky e a Okhrana.
Atualmente, o Oprichnik é apontado como o princípio dos serviços secretos russos, garantindo-lhe, inclusive, comparações a esquadrões da morte e polícias secretas, como o Einsatzgruppen nazista e a Tcheka soviética, respectivamente.
