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Batalhas Históricas

Batalha de Teutoburgo, ano 9: Armínio barra o avanço romano

Ao tentar expandir suas fronteiras sobre a Germânia, Roma amargou uma de suas maiores derrotas ao ter três legiões arrasadas na Floresta de Teutoburgo.


batalha de teutoburgo
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Escrito por Eudes Bezerra
Leitura: 4 minutos
Batalha de Teutoburgo
Pântano, tempestade torrencial, árvores caindo, gritos, deserções e um fulminante ataque surpresa iniciado com lanças e flechas. Uma emboscada… E assim três legiões romanas foram completamente arrasadas na Floresta de Teutoburgo (Alemanha) em 9 d.C., destruindo de vez qualquer pretensão de conquista do Império Romano sobre a Germânia. Créditos: Batalha de Teutoburgo, de Paja Jovanovic.

No ano 9 da era cristã, o Império Romano se aproximava do auge do seu poder, mas, ao tentar expandir suas fronteiras sobre a Germânia, amargou uma de suas maiores derrotas nas florestas negras de Teutoburgo. Com três legiões completamente arrasadas, Roma abandonou seus sonhos de conquista. A derrota em momento tão próspero do império fez com que o imperador César Augusto tivesse surtos de pranto pela perda.

1. Armínio, o comandante germano

Sun Tzu, no célebre A Arte da Guerra, imortalizou a seguinte máxima: “Faça com que seus planos sejam tão obscuros e impenetráveis quanto a noite e, quando se movimentar, caia como um raio”. O respeitado líder germânico fez perfeito uso deste e outros antigos estratagemas.

Armínio, comandante germânico que pretendia libertar seu povo do jugo romano, pediu para que uma tribo distante simulasse uma rebelião objetivando a atenção e o deslocamento do exército romano estacionado em solo alemão.

Indicado como “bravo na hora de agir, aprendia com rapidez e tinha uma mente que o colocava muito acima do estado de barbarismo”, Armínio gozava de prestígio em Roma, então sua suposta aliada. Também conhecia o ímpeto do comandante das legiões sediadas na Alemanha, Públio Quintílio Varo. Valeu-se do seu temperamento displicente para vencê-lo, mantendo-se ao lado de Varo durante o deslocamento romano — “manteve seus aliados perto, seus inimigos mais ainda”.

germanos nas florestas de Teutoburgo
A avalanche germânica liderada por Hermann (Armínio) contra três legiões romanas nas densas florestas de Teutoburgo. Pintura: Hermann Knackfuss.

2. A soberba romana

Nas florestas de Teutoburgo, na Alemanha, aproximadamente 25 mil soldados, dispostos em 15/18 mil legionários, tropas auxiliares de infantaria e cavalaria aliadas, além de outros 8/10 mil não combatentes, como vivandeiros (comerciantes) e prostitutas, encontraram seu fim pela chuva de dardos e flechas disparados pelos soldados de Armínio (posteriormente rebatizado de Hermann).

Confiantes em sua destreza militar e liderados por Públio Quintílio Varo (dito como pervertido e corrupto), três legiões estacionadas na Germânia foram deslocadas para suprimir revolta em local próximo. Sem tomar as devidas precauções, a coluna se estendia por cerca de incríveis 15 quilômetros.

Varo fora alertado sobre a densa floresta de Teutoburgo e do possível plano de Armínio, mas o desprezou acreditando ser intriga de seu conselheiro Segestes (Armínio e Tusnelda, filha de Segestes, haviam fugido para se casar quando o pai dela se opôs ao matrimônio).

3. A emboscada

O local onde deveria ocorrer a emboscada foi escolhido a dedo por Armínio: uma estreita faixa de terra onde chuvas sazonais encharcavam a terra e tornavam qualquer movimentação difícil. Com uma densa floresta espremida por uma colina ao sul e um pântano ao norte, além da grande possibilidade de fortes chuvas, o cenário era perfeito para o plano alemão.

Varo não tomou as precauções da marcha nem quando Armínio repentinamente desapareceu da coluna. Na frente da coluna, apenas engenheiros que tratavam de fazer obras para driblar os obstáculos.

germanos desabando sobre romanos em teutoburgo
Batalha de Teutoburgo, de Paja Jovanovic.

4. A avalanche germana, a ruína romana

Teria sido bíblico: uma tempestade desabou sobre a floresta prenunciando o fim das legiões romanas. Árvores caídas se juntaram à confusão. Armínio atacou a retaguarda romana e logo toda a coluna de César estava sob o crivo das lanças disparadas pelos germanos. Varo ficou chocado quando descobriu que sua cavalaria leve — auxiliares germanos — havia desertado.

O pântano dificultou a vida dos soldados de Roma que mal conseguiam se mexer e erguer seus escudos, muito pesados por estarem encharcados. Os germanos atacaram os cavalos, que ficaram incontroláveis, e derrubaram mais árvores causando mais terror aos homens de Varo.

Passado a noite em meio aos ataques de guerrilha, “a manhã trouxe uma tempestade violenta. Desorientados pelos ventos vivantes e chuva fustigante, e incapazes de fazerem manobras na lama, os romanos foram trucidados, e Varo, desonrado, cometeu suicídio.”

Dos três estandartes Águia das legiões de Varo — XVII, XVIII e XIX —, dois foram capturados e o terceiro foi para no fundo do pântano com o vexillarius (porta-bandeira) para que não fosse tomado — perder sua bandeira era motivo de desonra.

Os relatos da selvageria para com os sobreviventes rendidos foram trágicos: crucificados, enterrados vivos e sacrificados para os deuses germânicos. A cabeça de Varo foi enviada para o imperador César Augusto, que mesmo muito tempo depois da trágica emboscada, gritava Quinctili Vare, leiones redde! — Quintílio Varo, devolva as minhas legiões!.

Os estandartes das legiões trucidadas — XVII, XVIII, XIX — passaram a ser considerados amaldiçoados. Jamais foram atribuídos a outra legião.

5. Consequências da Batalha de Teutoburgo

Com a vitória, Armínio não havia unido o povo alemão; entretanto, conseguiu manter o que viria um dia a ser a Alemanha longe da influência do Império Romano — por isso, ficou conhecido como liberator haud dubie Germanie (“o libertador da Alemanha”).

A Batalha da Floresta de Teutoburgo pôs fim à expansão romana ao centro do continente Europeu. Armínio tornou-se um herói alemão sendo rebatizado de Hermann por barrar o avanço dos Césares e preservar a cultura da região. Também é tido como um dos grandes generais da história. Teria dito: “Minha luta tem sido aberta, não traiçoeira. E tem sido contra homens armados, não mulheres“.

REFERÊNCIAS:
CAWTHORNE, Nigel. As Maiores Batalhas da História: Estratégias e Táticas de Guerra que Definiram a História de Países e Povos. trad. Glauco Dama. São Paulo: M. Books, 2010.
CAWTHORNE, Nigel. Os 100 Maiores Líderes Militares da História. trad. Pedro Libânio. Rio de Janeiro: DIFEL, 2010.
DÁROZ, Carlo. A Batalha da Floresta de Teutoborg (ano 9). Acesso em: 12 nov. 2013.
GIBRIN, Maurício. A Emboscada de Teutoburgo. Coleção Grandes Guerras. São Paulo: Abril, n. 4, fev., 2005.
GILBERT, Adrian. Enciclopédia das Guerras: Conflitos Mundiais Através dos Tempo. trad. Roger dos Santos. São Paulo: M.Books, 2005.
NEWARK, Tim. História Ilustrada da Guerra. trad. Carlos Matos. São Paulo: Publifolha, 2011.
TZU, Sun. A Arte da Guerra. trad. Candida Bastos. São Paulo: Golden Books, 2007.
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Eudes Bezerra

35 anos, pernambucano arretado, bacharel em Direito e graduando em História. Diligencia pesquisas especialmente sobre História Militar, Crime Organizado e Sistema Penitenciário. Gosta de ler, escrever, planejar e principalmente executar o que planeja. Na Internet, atua de despachante a patrão, enfatizando a criação de conteúdo.

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