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Batalhas Históricas

Batalha das Termópilas, 480 a.C.: o rugido de Leônidas

Diante do colossal exército persa, o rei Leônidas de Esparta liderou a histórica resistência e personificou a coragem espartana nas Termópilas.


batalha das termópilas
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Escrito por Eudes Bezerra
Leitura: 5 minutos
batalha das termópilas
“O exército persa se viu incapaz de superar a pequena força que guardava as Termópilas”. (GILBERT, 2005, p.17) Créditos: autoria desconhecida.

Marchando para combater o maior exército até então reunido, Leônidas, rei de Esparta, liderou a histórica resistência grega nas estreitas Termópilas. Digladiando-se por três dias contra o exército de Xerxes, muitos gregos abraçaram a derradeira batalha. Perderam-na, mas seus últimos combatentes a tombar, tombaram nos braços da glória. Entretanto, diferentemente do amplamente exposto, não apenas espartanos compunham a resistência.

Para um jovem pastor escondido atrás das pedras, aquilo se teria assemelhado ao mundo todo em movimento; é certo que jamais se tinha visto tanta gente reunida ao mesmo tempo naquelas regiões remotas e pedregosas do Nordeste da Grécia. Havia assírios barbudos com porretes de ferro tacheados; citas com seus arcos pequenos; indianos com suas vestes de algodão; tribos do Cáspio com cimitarras; etíopes cobertos de pinturas de guerra branca e vermelha, que portavam escalpos de cavalo — com as orelhas e crinas ainda presas — como enfeites; árabes e outros povos do Cáucaso e da Antioquia — como afirmou Heródoto, todas as nações antigas da Ásia.” (CUMMINS, 2012, p. 8)

A Batalha das Termópilas (480 a.C.) deu fama eterna ao rei Leônidas, que acabou por personificar a coragem espartana. Leônidas (“aquele que tem o espírito do leão“), como outros espartanos, acreditava ser descendente do semideus Hércules.

Quando o gigantesco exército da Pérsia marchou em direção à Grécia, em 481 a.C., Atenas e Esparta, de forma inédita, uniram-se para liderar a guerra contra o futuro invasor. Ficou acordado que Esparta comandaria a luta terrestre e Atenas a naval.

1. Números absurdos

O número aproximado da força persa gera bastante divergência (absurdamente, varia de 100 mil a dois milhões). O mais provável é que se situe entre 100 e 250 mil. Contra a formidável força de Xerxes, Leônidas dispunha de 4 mil peloponésios, incluindo exatos 300 espartanos (sua Guarda Real). Talvez, um contingente de hilotas (servos gregos) possa ter aumentado seu número até 7 mil.

2. As Termópilas: onde poucos conseguem barrar muitos

Leônidas, objetivando barrar o avanço do colossal exército persa, marchou para as Termópilas (“portas quentes”) — estratégicas porque controlavam a rota entre o norte e o sul da Grécia. Espremida por altos penhascos de um lado e pelo mar de outro, o desfiladeiro representava uma posição de defesa perfeita em que a vantagem numérica persa seria anulada.

Para impedir que os gregos em terra fossem flanqueados pelo mar, a esquadra ateniense comandada por Temístocles ficou estacionada no estreito de Artemísia — e teve combates tão espetaculares quanto Leônidas onde também poucos lutaram contra muitos. No mar, os gregos, com sua superioridade na guerra naval e lutando em águas conhecidas, levaram a melhor.

batalha das Termópilas
Sob as muralhas elevadas do monte Calídromo, perto das fontes sulforosas das Termópilas, os trezentos espartanos de Leônidas corajosamente retardam o avanço das pesadas forças persas. Pintura de Massimo Taparelli D’Azeglio, 1832. The Bridgeman Art Library International.

3. Defendendo a passagem: começa a histórica batalha

A batalha durou três dias e teria sido travada em agosto de 480 a.C.. Embora sobrepujados em número, os gregos aplicaram  estratégia semelhante à Batalha de Maratona (490 a.c.), onde números não representaram fator decisivo, mas estratégia, técnica e ferocidade, sim.

Segundo Heródoto, um mensageiro em nome de Xerxes teria dito a Leônidas: “Renda-se e entregue suas armas!” — “Venham buscá-las!” — respondeu o rei espartano. Depois da recusa de rendição, o emissário profetizou: “Estejam prontos para morrer. Nossas flechas cobrirão o Sol“, e Dienekes, um “tenente” espartano, teria rebatido: “Melhor, lutaremos à sombra!“.

3.1 Primeiro dia: Os persas contam seus mortos

Milhares de arqueiros iniciaram a batalha despejando suas setas sobre a formação grega, mas apenas causando pequenos danos aos couraçados hoplitas (infantaria grega padrão). Ao longo do dia, os gregos repeliram facilmente as investidas persas. Estes, apenas somaram cadáveres.

Logo no primeiro dia os gregos tiveram a chance de conhecer culturas completamente desconhecidas, principalmente as vindas do Oriente.

3.2 Segundo dia: os Imortais de Xerxes Vs Guarda Real Espartana

No segundo dia, Xerxes atacou com o que possuía de melhor — “Os Imortais” (alcunha dada pelos gregos). Comandados por Hinardes, a infantaria pesada dispunha do melhor armamento que a Pérsia poderia fornecer e somava exatos 10 mil membros — quando um era ferido ou morto, ocorria a imediata substituição dando a impressão de que os 10 mil ainda estavam lá.

A elite persa, sempre silenciosa e supostamente mascarada, foi de encontro aos 300 espartanos que logo arrancaram seus gritos. A técnica espartana era superior, além de profissional, e muitos persas tiveram seus corpos varados pelas longas doris (lanças) gregas, depois de serem barrados pelo paredão de escudos espartano — Os Imortais foram derrotados.

3.3 A trilha de bodes

Ainda no final do segundo dia, Xerxes teria tomado conhecimento de uma trilha em que poderia chegar à retaguarda grega. Diz-se que tal informação teria sido fornecida por Efialtes — a quem há imensas divergências sobre sua real identidade.

Xerxes teria despachado grande parte dos seus Imortais — mais tropas auxiliares — para o contorno do Monte Kalidromo. Sabendo dessa possibilidade, Leônidas havia posto mil gregos da Fócida para defendê-la.

Os fócios, ao avistarem os persas, presumiram que iriam lutar e se retiraram para posição mais elevada (o que lhes daria vantagem de terreno na luta), mas simplesmente foram ignorados pelos persas que seguiram seu rumo. Há referências afirmando que os fócios teriam simplesmente debandado; outra, que voltaram para defender sua Cidade-Estado, a Fócida.

3.4 Terceiro dia: crepúsculo nas Termópilas. A vitória é persa, mas a glória é grega

“Quando os gregos souberam que haviam sido flanqueados, alguns imploraram ao rei para bater em retirada. Outros simplesmente fugiram. Mas os espartanos não bateram em retirada. Leônidas dispensou quem quisesse ir embora e ficou para combater na passagem com seus 300 espartanos, 400 tebanos e 700 tespienses.” (CAWTHORNE, 2010, p. 12)  Aos que ficaram, Leônidas teria dito durante a madrugada: “Comam bem… À noite jantaremos no mundo dos mortos.

Com espadas e flechas desafiando a vanguarda, retaguarda e parcialmente o flanco esquerdo dos gregos, a formação habitual da falange foi abandonada. Deflagrando a ofensiva, os gregos partiram para cima dos Imortais. Os espartanos teriam avançado muito mais do que haviam feito nos dias anteriores e formado um grande círculo dentro das linhas inimigas.

Ao fim da melancólica, mas brava luta que assegurou a evacuação completa de Atenas que viria a ser incendiada pelos persas, todos os gregos estavam mortos. Leônidas teria sido morto por flechas e seu corpo protegido por sua guarda até a queda do último espartano.

4. Saldo positivo e fama reconhecida

Acredita-se que ao fim dos três dias de batalha, a pequena força grega tenha eliminado surpreendentes 20 mil soldados persas. Os persas perderiam a guerra após as desastrosas batalhas de Salamina e Plateia.

Duas coisas costumam ser relacionadas à morte de Leônidas sem gerar discussão (visto que foi um rei que liderou diretamente o combate suicida): primeira, Leônidas certamente teria desejado a glória de uma morte tão heroica; segunda, acreditando na previsão de um oráculo (“Esparta pereceria ou um de seus reis morreria”), a aceitou de bom grado — e até como desafio à própria morte. Esparta, tradicionalmente, possuía dois reis.

REFERÊNCIAS:
BOTELHO, Francisco. Gregos x Persas: Golpe de Mestre. Coleção Grandes Guerras. São Paulo: Abril, n.3, p.50-55, jan. 2005.
CAWTHORNE, Nigel. Os 100 Maiores Líderes Militares da História. trad. Pedro Libânio. Rio de Janeiro: DIFEL, 2010.
CUMMINS, Joseph. As Maiores Guerras da História. trad. Vania Cury. Rio de Janeiro: Ediouro, 2012.
GILBERT, Adrian. Enciclopédia das Guerras: Conflitos Mundiais Através do Tempo. trad. Roger dos Santos. São Paulo: M. Books, 2005.
VILELA, Túlio. Batalha de Termópilas: A verdadeira história dos 300 de Esparta.
VINCENTINO, Cláudio; DORIGO, Gianpaolo. História Geral e do Brasil. São Paulo: Scipione, 2002.
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Eudes Bezerra

35 anos, pernambucano arretado, bacharel em Direito e graduando em História. Diligencia pesquisas especialmente sobre História Militar, Crime Organizado e Sistema Penitenciário. Gosta de ler, escrever, planejar e principalmente executar o que planeja. Na Internet, atua de despachante a patrão, enfatizando a criação de conteúdo.

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