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Batalhas Históricas

Evacuação de Dunquerque, 1940: a Operação Dínamo

Quando a fúria alemã desabou sobre o solo francês impondo à Inglaterra e à França uma das maiores humilhações da História Militar: a Evacuação de Dunquerque


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Escrito por Eudes Bezerra
Leitura: 6 minutos
soldados desesperados dentro do mar tentando chegar aos navios
Evacuação de Dunquerque, Retirada de Dunquerque, Milagre de Dunquerque ou Operação Dínamo, o evento histórico marcou para sempre a História Militar e pôs o mundo de joelhos perante Adolf Hitler. Créditos: Departamento de Guerra dos Estados Unidos.

Em apenas duas semanas de campanha, as tropas alemãs selaram o destino da França na Segunda Guerra Mundial. Em 1940, a furiosa avalanche de aço germânica havia irrompido sobre o solo francês impondo à Inglaterra e à França uma das maiores humilhações da história militar: a Evacuação de Dunquerque. Hitler consternou Gamelin, deixou Churchill deprimido, assustou Stalin e surpreendeu o mundo com um novo e implacável modo de guerrear, a blitzkrieg (guerra relâmpago).

Os franceses jamais vão esquecer o que aconteceu em 4 de junho de 1940, quando as tropas nazistas marcharam pelos bulevares parisienses e a bandeira alemã com a cruz suástica foi afixada na Torre Eiffel.” (TOTA, 2009, p. 367)

Iniciada em 1º de setembro de 1939, a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) só chegou à França no ano seguinte, em 1940, ficando este período conhecido como Guerra de Mentira (ao menos na porção oeste da Europa, pois a leste já vivenciava o inferno do que seria a maior guerra da história).

1. A desesperada Evacuação de Dunquerque

Em Dunquerque, a gigantesca evacuação se deu entre 25 de maio e 4 de junho de 1940. Para alguns, diz-se que ocorreu a desesperada Batalha de Dunquerque; para outros, entretanto, apesar de ser chamada de Batalha, não passou de uma evacuação meramente fustigada.

mapa da evacuação de dunquerque
Mapa mostrando o drama aliado.
Créditos: Origem: Reader´s Digest, A História Secreta da Última Guerra, autoria desconhecida.

A dramática história da evacuação no porto de Dunquerque foi marcada basicamente por três pontos: primeiro, o desespero das tropas aliadas que pareciam não crer no acontecido; segundo, a Operação Dínamo: o resgate de mais de 338 mil soldados aliados com todo e qualquer tipo de embarcação que pudesse atravessar o Canal da Mancha, o que incluiu até barcos comerciais e pesqueiros; e o terceiro até hoje sem explicação clara: Hitler simplesmente mandou que suas divisões panzers parassem — evitando um possível “genocídio” aliado.

Inúmeras divisões anglo-francesas se espremiam ao longo da orla francesa e se preparavam para o pior, pois o exército alemão havia fechado o perímetro e a única saída possível seria através do Canal da Mancha. No entanto, Hitler, por motivos próprios, expediu ordem para que suas tropas em terra interrompessem o avassalador avanço – estavam a apenas 25 km do porto de Dunquerque.

Entre os diversos motivos que teriam convencido Hitler, estão: o ditador germânico pretendia paz com os britânicos e o feito em Dunquerque poderia ser uma reaproximação anglo-germânica; que Göring, chefe da Luftwaffe (Força Aérea Alemã), poderia dar cabo sozinho dos aliados; e ainda, que as divisões panzers deveriam ser preservadas uma vez que a vitória sobre a França estava praticamente consolidada.

A única certeza é a de que a mensagem para que o avanço alemão fosse interrompido foi emitida sem código. Isto é, em linguagem clara, o Alto Comando Alemão mandou que suas tropas parassem — o que teria sido feito justamente para que os ingleses interceptassem.

soldados tentando chegar aos barcos de evacuação
Cena dramática da Operação Dínamo. Créditos: autoria desconhecida.
milhares de soldados perfilados na praia a espera de socorro
Tropas prontas para a evacuação em Dunquerque, 1º de junho de 1940. Créditos: Hulton-Deutsch Collection/CORBIS, ID: HU030969.
soldados se defendendo dos aviões de Hitler
Soldados britânicos na retaguarda tentando proteger os outros que chegavam à costa de Dunquerque, na França. A maioria dos 300.000 homens foi resgatada por pequenos barcos civis. Créditos: Soldados britânicos que lutaram em Dunquerque, 1º de junho de 1940.
Créditos: © Hulton-Deutsch / CORBIS, ID: HU030981.

1.1 Saldo da Batalha de Dunquerque

Aliados: 68.000 soldados mortos e 34.000 capturados; 9 contratorpedeiros destruídos e mais de 200 outras embarcações afundadas; 177 aviões abatidos.

Alemães: 132 aviões abatidos; desconhecido número total de soldados mortos.

Outro fato costumeiramente “esquecido” é que próximo a Dunquerque, outros 220 MIL soldados também foram evacuados. Mais de meio milhão de soldados tiveram a vida poupada — soldados que consubstanciavam grande parte da experiência dos exércitos britânicos e franceses.

O episódio foi tão dramático que a fuga em massa foi comemorada como vitória na Inglaterra, que calorosamente acolhia seus filhos de volta. Churchil, antes da evacuação, teria dito: “toda a raiz, o núcleo e o cérebro do Exército Britânico”, referindo-se aos soldados encurralados em Dunquerque.

pintura mostrando e evacuação de dunquerque
“A França – considerada por muitos a maior potência bélica do ocidente durante a década de 30 – às vésperas da invasão alemã em 1940 era não mais do que uma mera sombra do que fora durante as sangrentas batalhas de trincheiras da Primeira Guerra Mundial.” (LUKACS, 2015, os/p) Créditos: autoria desconhecido.

2. A Batalha da França

No quadro geral, a Invasão da França foi iniciada em 10 (ou 11) de maio de 1940 e terminou em 4 de Junho do mesmo ano, com os franceses assinando sua capitulação na floresta de Compiègne, na França — no exato lugar onde 22 anos antes os alemães se renderam à Tríplice Entente encerrando a Primeira Guerra Mundial (1914–1918).

Deflagrando inédita e irresistível campanha militar, as tropas de Hitler invadiram e domaram rapidamente a Holanda, Bélgica, Luxemburgo e França. “O avanço foi tão rápido que até mesmo o alto comando alemão preocupou-se com a possibilidade de estar vulnerável. Contudo, a resistência francesa entrou em colapso (…). Os franceses e os britânicos repentinamente descobriram que estavam lutando a guerra errada.”

O efetivo aliado na França beirava os 3 milhões de combatentes dispostos em 10 exércitos. Estes estavam divididos três grupos de exército (A, B e C). O ponto crucial para o prematuro colapso da defesa da França ocorreu pelo fato incontestável desta estar presa ao passado: a França se preparava para uma guerra de trincheiras, de estabilidade, como ocorrida na Grande Guerra.

Os alemães, sempre à frente no tocante à guerra, apresentaram ao mundo uma nova guerra onde a velocidade, técnica e sincronia entre as tropas constituiriam seu grande trunfo.

3. Londres, Inglaterra

Em Londres, Winston Churchill já temia que os alemães atacassem Londres com unidades aerotransportadas ou mesmo que realizassem um desembarque na costa inglesa. Temores que fizeram o primeiro-ministro britânico ordenar a construção de barricadas nas proximidades de prédios do governo. Soldados as guarneceram com uniforme e armamento completo.

A energia de Churchill, evidente em sua atenção a incontáveis detalhes, era assombrosa. Mas na terça-feira, 21 de maio, ele ficou deprimido à medida que o dia avançava. Os nervos, o ânimo, até o autocontrole foram afetados pelo caótico colapso nas comunicações no lado oposto da Mancha. Ele não sabia mais o que estava acontecendo em Flandres. Tinha dificuldade até para fazer contato com Paris. Segurando o fone na mão, virou-se para Colville [principal secretário britânico] e murmurou: ‘Em toda a história da guerra, nunca vi tamanha desorganização’. ‘Eu nunca havia visto Winston tão deprimido’, escreveu Colville no seu diário.” (BALL, 2006)

Foi com esse dramático pano de fundo que, em 4 de junho de 1940, Winston Churchill lançou seu mais famoso discurso: We hall never surrender!

Vamos até o fim. Defenderemos nossa ilha em qualquer que seja o curso, lutaremos nas praias, lutaremos onde descerem, lutaremos nos campos e nas ruas, lutaremos nos montes, nunca nos renderemos!”. (BALL, 2006)


Comentário pessoal

Ao criticar a veracidade dos fatos, deparo-me com a célebre frase de George Orwell: “a história é escrita pelos vencedores”. Reflito um pouco sobre Dunquerque e imagino que os alemães tenham feito ainda mais, mas perderam a guerra e alguns “relatos marcantes” da surra levada pelos Aliados foram abafados. Foi um péssimo dia.


REFERÊNCIAS:
BALL, Stuart. Winston Churchill: Vidas históricas. trad. Gleuber Vieira. Rio de janeiro: Nova Fronteira, 2006.
CAWTHORNE, Nigel. As Maiores Batalhas da História: Estratégias e Táticas de Guerra que Definiram a História de Países e Povos. Trad. Glauco Dama. São Paulo: M. Books, 2010.
GILBERT, Adrian. Enciclopédia das Guerras: Conflitos Mundiais Através do Tempo. Trad. Roger dos Santos. São Paulo: M.Books, 2005.
Grandes Guerras. A Retirada de Dunquerque. Acesso em 21 maio 2015.
LUKACS, John. O milagre de Dunquerque?. In.: ZAHAR, Jorge. O duelo Churchill x Hitler. Acesso em 21 maio 2015.
MASSON, Philippe. A Segunda Guerra Mundial: História e Estratégias. trad. Angela M. S. Corrêa. São Paulo: Contexto, 2011.
TOTA, Pedro. Segunda Guerra Mundial. In.: MAGNOLI, Demétrio (org.). História das Guerras. 5 ed. São Paulo: Contexto, 2011.
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Eudes Bezerra

35 anos, pernambucano arretado, bacharel em Direito e graduando em História. Diligencia pesquisas especialmente sobre História Militar, Crime Organizado e Sistema Penitenciário. Gosta de ler, escrever, planejar e principalmente executar o que planeja. Na Internet, atua de despachante a patrão, enfatizando a criação de conteúdo.

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