
Por 300 anos, os exímios cavaleiros guaicurus frustraram toda tentativa europeia de conquista do pantanal brasileiro. Conhecendo bem sua região, dispondo de cavalos e armados com armas de ferro, os ameríndios ofertaram brava resistência aos invasores e, por nunca conseguir vencê-los, o Brasil imperial acabou por encerrar séculos de lutas com uma aliança de cooperação.
São tão soberbos que a todas as nações dos gentios confinantes tratam com desprezo; a todas fazem crua guerra, sendo delas de alguma sorte respeitados e temidos pela vantagem que têm na cavalaria e armas de que usam.” (CASAL, apud: IANSEN, 2014, s/p)
Dominando o Pantanal brasileiro e o Chaco paraguaio, os aguerridos índios guaicurus defenderam seus domínios dos portugueses, espanhóis, brasileiros, paraguaios e tantos outros europeus que tentaram cruzar, explorar e principalmente conquistar suas terras. Suas maiores vítimas, os bandeirantes, sofreram inúmeros e ingratos revezes, de modo à nunca conseguir superar a força indígena.
As escaramuças entre europeus e índios começaram ainda na primeira parte do século XVI, onde estes teriam tido o primeiro contato com os cavalos trazidos por aqueles. Não se sabe exatamente como os guaicurus adquiriram seus primeiros equinos, mas é contundente afirmar que foi crucial para o avanço da guerra guaicuru. Surpreendentemente, calcula-se que os ameríndios tinham cerca de 8 mil em meados do século XVIII.
“Ao longo dos séculos 17 e 18, a situação não melhorou para os europeus que tentavam atravessar a bacia do Paraguai. Os cavaleiros guaicurus se aliaram aos paiaguás, que, com suas canoas velozes e remos que viravam lanças, faziam dos rios seu domínio absoluto. A dobradinha passou a prevalecer tanto nas planícies quanto nos rios que as cortavam.” (LOPES, 2005, p. 55)
No fim do século XVIII, mais precisamente em 1791, o governo português conseguiu um acordo de paz e cooperação com os índios guaicurus, que até na Guerra do Paraguai (1864–1870) viriam a combater como força regular brasileira.
Além da incapacidade de superar os índios, o motivo do acordo por parte do governo lusitano recaiu sobre a redefinição das fronteiras coloniais com a Espanha, uma vez que ambas as nações iberas desejavam demarcar e povoar seus domínios de modo a preservá-los de agressores estrangeiros.