
Das Invasões Holandesas ocorreu o sucesso na conquista da Capitania de Pernambuco, que possibilitou aos holandeses estender seu domínio por quase todo o Nordeste.
Durante esse período, a sede holandesa, Recife, passou por grandes mudanças estruturais por parte do conde alemão Maurício de Nassau, o Governador-Geral, que ainda hoje evoca um sentimento paterno nos pernambucanos.
Nassau fundou a Cidade Maurícia ― uma tentativa de réplica tropical da capital holandesa com traçados geométricos e canais.
A nova cidade também ajudou a melhorar a situação de uma população calculada em 7 mil indivíduos, que vivia em condições de higiene críticas.
Essa era a Maurits-Stadt […]”. (SCHWARCZ; STARLING, 2015, p. 61)
Boa leitura!
SUMÁRIO: INVASÕES HOLANDESAS
1. Contexto das Invasões Holandesas no Brasil
⠀⠀1.1 Invasões francesas e holandesas no Brasil Colônia
2. Inimigas mortais: Espanha x Holanda
3. Criação da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais
⠀⠀3.1 Primeiras invasões holandesas: Bahia, sede do Governo-Geral
⠀⠀3.2 Conquista de Pernambuco pelos holandeses
4. Era Maurício de Nassau
⠀⠀4.1 Retratações do Brasil Holandês
⠀⠀4.2 Demissão de Maurício de Nassau, o Brasileiro
5. Portugal retoma a soberania: fim da União Ibérica
6. Insurreição Pernambucana
⠀⠀6.1 As Batalhas dos Guararapes
⠀⠀6.2 Nascimento do exército brasileiro
7. Pós-Batalhas dos Guararapes
⠀⠀7.1 Tratado de Haia: Portugal compra a ausência holandesa no Brasil
8. Holandeses nas Antilhas e decadência do açúcar no Brasil
Referências
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1. CONTEXTO DAS INVASÕES HOLANDESAS NO BRASIL
À época das invasões holandesas no Brasil, a coroa portuguesa se encontrava unida à espanhola na chamada União Ibérica (1580–1640), que na prática era dirigida pela coroa espanhola.
A Espanha detinha o poder e se mostrava mais interessada pela manutenção dos seus territórios já consolidados e em restaurar a sua caótica ordem financeira. Portugal, por sua vez, via-se “aprisionado” por estar com o trono português “vago”.
Com o controle espanhol, os adversários da coroa da Espanha naturalmente viram os territórios lusitanos como oportunidades de captura.
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1.1 Invasões francesas e holandesas no Brasil Colônia
Franceses e principalmente holandeses, diante da União Ibérica, criaram ações mais empenhadas para tirar proveito da situação.
Os franceses extraíram Pau-Brasil e tentaram algumas invasões sem sucesso no Sudeste e no Norte, sendo a única e duradoura a que conhecemos atualmente como Guiana Francesa.
Os holandeses, por seu turno, investiram em uma invasão do Brasil Colônia com vista no alto rendimento do açúcar e outras matérias-primas que poderiam ser objeto de grande lucro.
Assim, basicamente, era o contexto que precedeu as invasões holandesas no Brasil Colônia.

2. INIMIGAS MORTAIS: ESPANHA X HOLANDA
Portugueses e holandeses eram parceiros comerciais, mas, com a União Ibérica, os portugueses tiveram a maldita “herança” de assumir tacitamente os inimigos dos espanhóis.
Enquanto isso gerava desconforto para Portugal, sugia uma oportunidade para os holandeses que se propuseram a desafiar e enfraquecer a Espanha, assim como obter os grandes mercados de matéria-prima.
A Holanda, mesmo tendo largado tardiamente na corrida mercantilista, possuía uma potente economia já habituada ao comércio marítimo e às armas, visto que acabara de conquistar sua independência contra a Espanha.
Desta forma, o projeto de invasão do Brasil foi executado e, após alguns insucessos iniciais, logrou êxito com a criação de uma companhia especialmente voltada para o Atlântico.

3. CRIAÇÃO DA COMPANHIA HOLANDESA DAS ÍNDIAS OCIDENTAIS
A Holanda possuía a lucrativa Companhia Holandesa das Índias Orientais e isso acabou por influenciar na criação de outra companhia, desta vez voltada para o Ocidente.
Para o Atlântico, criou-se em 1621 a Companhia Holandesa das Índias Ocidentais, que acabaria por invadir com sucesso a rica e próspera capitania de Pernambuco.
Anteriormente às investidas ao litoral brasileiro, os neerlandeses (holandeses) saquearam diversos pontos comerciais portugueses na Costa Africana, de modo a também controlar parte do tráfico negreiro transatlântico.

3.1 Primeiras invasões holandesas: Bahia, sede do Governo-Geral
Entre os anos de 1604 e 1625, houve algumas tentativas neerlandesas de invasão do Brasil Colônia, quando direcionados à sede do Governo-Geral, em Salvador.
A ideia dos invasores era simples: conquistar o Governo-Geral, estabelecido na cidade de Salvador, para a partir de lá expandir suas conquistas.
Entretanto, não lograram êxito sendo expulsos pelas forças espanholas e portuguesas, mesmo com uma das investidas tendo capturado a cidade de Salvador pelo período de um ano.
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3.2 Conquista de Pernambuco pelos holandeses
Em 1630, reorganizados e melhor preparados, os holandeses executaram mais um dos seus planos de invasão do Brasil, quando assaltaram a próspera capitania de Pernambuco.
Dessa vez, os holandeses obtiveram êxito na sua invasão e pouco a pouco foram consolidando seu poder, que se estenderia por quase todo o Nordeste.
A Paraíba e o Rio Grande do Norte foram dominados em 1634, logo em seguida sendo a vez do Ceará e Maranhão, tendo como guia o experiente Domingos Fernandes Calabar.
Assim, os holandeses haviam fincado suas bandeiras em terras ameríndias, tendo como principal reduto a cidade de Recife, uma vez que Olinda, o centro urbano brasileiro mais rico da época, havia sido incendiado nas lutas.
Outro fator que pesou para a instalação dos holandeses na cidade de Recife foi a junção de rios, mangues e litoral, algo bem comum aos holandeses que eram especialistas (viviam) nesses ambientes.

4. ERA MAURÍCIO DE NASSAU
Em 1637, o conde alemão, João Maurício de Nassau-Siegen, desembarcou na cidade de Recife como seu governador.
Nassau, um coronel conciliador, viu os estragos realizados pela invasão e tomou como seu trabalho restaurar a cidade e fazê-la próspera.
Tentou-se, inclusive, recriar a cidade no formato típico das cidades europeias com direito a grandes obras arquitetônicas, como pontes e um palácio (onde fica o atual Palácio do Governo do Estado de Pernambuco ― o Paço das Princesas).
Por isso, Recife também é conhecida como Maurits-Stadt (Cidade Maurícia).
Com Nassau, teria ocorrido o auge do ciclo açucareiro no Brasil, também sendo responsável por diversas melhorias em diversas áreas.
Entre as medidas tomadas por Nassau, encontram-se:
- Crédito para recuperação e compra dos engenhos de açúcar;
- Crédito para a compra de equipamentos das “fábricas”;
- Acabou com a fome existente, obrigando os proprietários de terras cultiváveis a cultivarem o pão da terra, a mandioca;
- Restabeleceu o tráfico de escravos; e
- Concedeu liberdade religiosa a todos, o que também teria contemplado os escravos.
Diversos fortes e outras construções foram construídos, como um impressionante jardim com centenas de árvores, incluindo os incríveis Baobás.
O governador ergueu palácios, um templo calvinista, e instalou o primeiro observatório (que anotou um eclipse solar em 1640); tratou do calçamento de algumas vias e do saneamento urbano.
Outra medida importante foi determinar que se cobrissem todas as ruas com areia, para que elas não encharcassem. Era preciso repetir a operação duas vezes ao dia, senão se corria o risco de pagar uma multa de seis florins.
Sob a mesma pena, ficava proibido ‘lançar lixo nas ruas’ ou jogar bagaço (de cana) nos rios e açudes, pois isso impediria a proliferação dos peixes de água doce, alimento básico das populações pobres.
Nassau ainda mandou construir três pontes, as primeiras de grandes proporções no Brasil”. (SCHWARCZ; STARLING, p. 61, 2015)
Nassau também trouxe pintores, ilustradores, botânicos, entre outros para que trabalhassem nas novas terras.

4.1 Retratações do Brasil Holandês
Maurício em sua comitiva trouxe artistas que se destacariam bastante ao retratar os territórios à época, como Frans Post e Albert Eckhout.
Algumas das retratações do período holandês foram, inclusive, como presente para o rei-Sol, Luís XIV, da França.
Impressionado, o déspota francês mandou reproduzir uma série em tapeçaria para a comercialização do chamado “Novo Mundo”, que tanta curiosidade na Europa causava.

4.2 Demissão de Maurício de Nassau, o Brasileiro
Apesar do trabalho desenvolvido por Nassau, que agora era chamado de o Brasileiro pelos holandeses, a companhia visava a exploração mercantilista.
Assim, Nassau acabou demitido pela Companhia Holandesa das Índias Ocidentais no início da década de 1640, ficando por morar e gerenciar algumas coisas em Recife por mais algum tempo, quando foi obrigado a partir à Europa em 1644, melancolicamente.
Com a demissão/partida de Nassau, a Companhia passou a pressionar os senhores de engenhos a quitar suas dívidas e a produzirem mais.
Isso marca o declínio do Brasil Holandês.
Maurício de Nassau, antes de partir, teria enviado cartas a Holanda sobre uma eventual insurreição contra o domínio holandês, o que se concretizaria.

5. PORTUGAL RETOMA A SOBERANIA: FIM DA UNIÃO IBÉRICA
Em 1640, D. João IV ― João, o Restaurador ―, após uma guerra contra a Espanha, conseguiu novamente a soberania de Portugal.
Com isso, tratou-se de negociar a retomada dos territórios ocupados pelos holandeses, que se negaram os oferecimentos.
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6. INSURREIÇÃO PERNAMBUCANA
Em 1444, após a saída de Nassau, o ciclo do açúcar começou a declinar e o endividamento dos senhores de engenho passou a ser avidamente cobrado pela companhia holandesa.
Em 1645 teve início a Insurreição Pernambucana que acabaria por selar o fim da era holandesa no Brasil.
Insatisfações e motins de ordem geral começaram por todos os lados, resultando no endurecimento maior das regras impostas pelos neerlandeses.
Com isso, escaramuças se tornaram inevitáveis, deixando os holandeses ― que agora também estavam em atrito com a Inglaterra ― com poucos recursos e mais reclusos aos fortes e centros urbanos mais fortificados.
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6.1 As Batalhas dos Guararapes
As escaramuças evoluíram para batalhas, onde a guerrilha formada por portugueses, indígenas e africanos levou vantagem sobre o exército regular holandês.
O fim dos holandeses foi definitivamente timbrado nas duas Batalhas dos Montes Guararapes, a primeira ocorrida em 1648 e a segunda em 1649.
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6.2 Nascimento do exército brasileiro
Pela união entre brancos, indígenas e africanos alforriados, costuma-se assinalar o nascimento do exército brasileiro.
Contudo, muitos dos insurgentes, como no caso de João Fernandes Vieira, teriam estado mais interessado na “quitação” de suas dívidas com a companhia holandesa.
Entre os líderes da Insurreição Pernambucana, encontram-se:
- João Fernandes Vieira: senhor de engenho;
- André Vidal de Negreiros: senhor de engenho;
- Filipe Camarão: líder indígena; e
- Henrique Dias: líder dos escravos alforriados.

7. PÓS-BATALHAS DOS GUARARAPES
Mesmo com a derrota na batalha em 1649 e a fome, os holandeses permaneceram no nordeste brasileiro por anos, mostrando-se determinados.
Em 1654, entretanto, os holandeses acabaram por se retirar do nordeste brasileiro, deixando uma suspeita de novas e mais vigorosas invasões no futuro, que agora conheciam bem, tendo inclusive criado diversos mapas.
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7.1 Tratado de Haia: Portugal compra a ausência holandesa no Brasil
As coisas mudaram em 6 de agosto de 1661, quando holandeses e portugueses, através do Tratado de Haia, declararam fim das hostilidades.
A Holanda se encontrava em guerra contra a Inglaterra na Segunda Guerra Anglo-Holandesa e os planos de nova invasão ao Brasil acabariam por ficar mais difíceis de ocorrer.
Contudo, em Haia, a assinatura do tratado concedeu a desejada segurança de Portugal sobre o Brasil Colônia ao passo que em contrapartida os portugueses fizeram pagamentos e concessões aos holandeses, como:
- Pagamento de 4 a 6 toneladas de ouro à época (informações contraditórias nas pesquisas);
- Cessão dos territórios do atual Sri Lanka e Malabar; e
- Privilégios no comércio açucareiro com o Brasil.
Por sua vez, os holandeses, além de renunciar à sua colônia no nordeste brasileiro, também abdicou de eventuais saques ou invasões sobre a Angola (colônia portuguesa).
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8. HOLANDESES NAS ANTILHAS E DECADÊNCIA DO AÇÚCAR NO BRASIL
O ciclo de açúcar no Brasil continuou em franco declínio, piorando drasticamente com o estabelecimento dos holandeses nas Antilhas.
Os holandeses, com o conhecimento aprendido e aprimorado no Brasil, montaram novas instalações açucareiras nas Antilhas, onde atualmente se encontram diversos países, como Cuba, Jamaica e Bahamas.
O valor do açúcar produzido no Brasil teria sido desvalorizado em cerca de 50%.
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REFERÊNCIA(S):
BRAICK, Patrícia Ramos; MOTA, Myriam Becho. História: das cavernas ao terceiro milênio. 3ª ed. reform. e atual. São Paulo: Moderna, 2007.
FAUSTO, Boris; FAUSTO, Sérgio (colab). História do Brasil. 14ª ed. atual. e ampl., 2º reimpr. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2015.
MELLO, José Antônio Gonsalves de. Tempo dos Flamengos: A influência da ocupação holandesa na vida e cultura do norte do Brasil. 3ª ed. Rio de Janeiro: Top Books, 2001.
MICELI, Paulo. História Moderna. 4ª reimpressão. São Paulo: Contexto, 2020.
SCHWARCZ, Lilia Moritz; STARLING, Heloisa Murgel. Brasil: uma biografia. 1ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
SILVA, Kalina Vanderlei; SILVA, Maciel Henrique. Dicionário de conceitos históricos. 3. ed., 9ª reimpressão. São Paulo: Contexto, 2020.
VINCENTINO, Cláudio; DORIGO, Gianpaolo. História Geral e do Brasil. São Paulo: Scipione, 2002.
WOOLF, Alex. Uma nova história do mundo. São Paulo: M. Books do Brasil Editora Ltda, 2014.
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