
1. Batalha do Rio Somme, França, manhã de 15 de setembro de 1916:
Sobre as crateras vinham dois gigantes. Os monstros [ Mark I ] aproximavam-se hesitantes e vacilantes, mas chegavam cada vez mais perto. Para eles, que pareciam movidos por forças sobrenaturais, não havia obstáculos. Os disparos das nossas metralhadoras e das nossas armas de mão ricocheteavam neles. Assim, eles conseguiram liquidar, sem esforço, os granadeiros das trincheiras avançadas”. (GESSAT, 2013, s/p, acréscimo nosso)
O relato acima foi fornecido por um desconhecido correspondente de guerra em 1916. Ao lê-lo sem ver a fotografia, certamente teríamos a impressão de algo quase místico, mas sombrio e, talvez, implacável. Quiçá, essa tenha sido a mesma impressão que os soldados alemães tiveram ao serem esmagados pelos primeiros tanques de guerra em ação e que se aproximavam cuspindo fogo — eram os Mark’s I “Male” estreando na Primeira Guerra Mundial (1914-1918).
Blindados, tracionados por lagartas em vez dos “atolantes” pneus e movido pela explosão da combustão interna, os Mark’s I partiram para luta no “moedor de carne” chamado de Batalha do Rio Somme.
Armado com dois canhões e três metralhadoras, o monstro blindado pesava 28,4 toneladas e media mais de 10 metros de comprimento. Entretanto, sofria de problemas técnicos, tornando-se máquinas confusas e sujeitas a panes.
Interessante também registrar a coragem dos alemães, de acordo com um soldado inglês:
a coragem dos alemães era fora do comum. Ignorando o fogo das metralhadoras dos veículos, eles tentavam, com uma fúria desesperada, assaltar os tanques e matar a sua tripulação. Eles se alçavam reciprocamente ao teto do tanque, procuravam escotilha ou fendas e atiravam com revólveres nas frestas“. (GESSAT, 2013, s/p)

Créditos: autoria desconhecida.
2. O porquê do nome tanque
O porquê da alcunha “tanque” suscita ao menos duas hipóteses (talvez, as duas façam parte da mesma ideia): a primeira corresponde ao experimento anterior ao Mark I — chamado de This Thing (“esta coisa”) — que parecia um tanque d’água devido à abertura do seu teto.
A segunda seria relativa ao codinome escolhido pelos ingleses e franceses durante o desenvolvimento do projeto que, em meio ao sigilo total, foram apelidados de “tanques” preventivamente para caso tal informação chegasse aos alemães – caso em que se esperaria que estes acreditassem se tratar de reservatórios de líquidos ou afins.

Créditos: Ernest Brooks.
3. Mark I na Batalha de Cambrai (1917)
A primeira grande ofensiva liderada por tanques de guerra ocorreu em Cambrai, quando aproximadamente 320 tanques britânicos foram utilizados, mas sem causar o efeito desejado. Faltava experiência no emprego das “confusas” máquinas.


4. Algumas especificações do Mark I
O veículo blindado pesava 28,4 ton., possuía 10,75m de comprimento, 4,12m de largura e 2,41m de altura. Movia-se a 4,5 Km/h e possuía autonomia de apenas 37 km. Detinha dois canhões de 57 mm como armamento principal e três metralhadoras 7,7 mm como secundário. Sua guarnição era composta de 8 homens (que ficava submetida à fumaça e ao forte calor).
Apesar da inovadora proposta e surpresa causada, o novo engenho carecia do necessário para se tornar decisivo. Além de problemas técnicos constantes, as próprias táticas da infantaria para acompanhá-los eram inadequadas.
Entretanto, sua estreia mostrou o potencial e na década de 1930 novos e mais bem armados modelos surgiriam — tornando-se os chamados “reis do campo de batalha”, sobretudo com os revolucionários panzers alemães.