
Créditos: acervo Sir Harold Delf Gillies.
Comovido com a triste realidade social dos ex-combatentes que retornavam da Grande Guerra, o médico neozelandês Harold Gillies buscou amenizar o sofrimento e acabou por revolucionar a medicina. Costumeiramente, as feridas abertas eram simplesmente costuradas e acabavam por originar cicatrizes horríveis, porém, a partir das intervenções de Gillies, aqueles que sangraram durante o conflito armado encontraram um pouco mais de dignidade para viver o pós-guerra.
Para reconstruir o rosto de Willie (fotografia acima), em 1916, Gillies utilizou um grande retalho de pele proveniente do peito do paciente confeccionando-o como um tubo (“pedículo com câmara de ar”), o que assegurou o fornecimento natural de sangue, reduziu as chances de infecção e rejeição e consagrou o médico militar como o pai da cirurgia plástica moderna. Tal procedimento é considerado a primeira cirurgia plástica de plena reconstrução facial.
A cirurgia plástica, atualmente tão associada à busca por um ideal estético de beleza, foi desenvolvida para fins humanitários. Ela visava à reintegração social daqueles que tiveram suas faces — e identidades — completamente destruídas pela nova guerra tecnológica. A mesma ciência que destruía também ajudava a curar.” (MAGNOLI; BARBOSA, 2011, p. 30)

O médico Sir Harold Delf Gillies, nascido na Nova Zelândia, estudou e trabalhou na Inglaterra e parecia possuir uma personalidade obcecada, persistente, que lhe fez inovar e renovar. Sensibilizado com o sofrimento daqueles que tiveram a infelicidade de sofrer os infortúnios da guerra, buscou criar métodos para reconstituir a dor que abalava milhões de jovens que retornavam aos seus países com graves deformações.
Com material do corpo do próprio paciente, Gillies e sua equipe multidisciplinar conseguiram bons resultados ao trabalhar com retalhos e enxertos de pele e ossos das costelas transplantados. A equipe de Gillies também possuía artistas que auxiliavam os pacientes na superação dos traumas e atuou principalmente em Londres, na Inglaterra.
Após a Primeira Guerra Mundial, as intervenções cirúrgicas foram amplamente utilizadas com o objetivo de restaurar ou minimizar os corpos desgraçados. Outrossim, “a presença dos mutilados na vida cotidiana se tornaria a lembrança mais assustadora do poder de destruição da guerra industrial. Em certos casos, as deformidades eram tão terríveis que, em nome do bem-estar dos demais, determinou-se o isolamento dos mutilados.” (MAGNOLI; BARBOSA, 2011, p. 30)