Império Coronelismo: O que foi, história e características Coronelismo: o abuso de poder dos coronéis para manter o controle nas eleições através o voto de cabresto e favores de políticos. Império • República Autor: Eudes Bezerra Matéria criada em 15 agosto 2023 7 minutos Coronelismo: o abuso de poder dos coronéis para manter o controle nas eleições através o voto de cabresto e favores de políticos. Créditos: autoria desconhecida / Montagem: Eudes Bezerra. O Coronelismo, principalmente na República Velha, caracterizou-se pelo abuso de poder econômico e militar que os coronéis possuíam para manter o controle local, principalmente nas eleições através o Voto de Cabresto, em recebimento de verbas e favores de políticos. O jurista Victor Nunes Leal teria cunhado o termo Coronelismo em 1948 a partir do seu livro Coronelismo, Enxada e Voto. Em suas próprias palavras, tem-se uma síntese como podemos ler: Concebemos o coronelismo como resultado da superposição de formas desenvolvidas do regime representativo a uma estrutura econômica e social inadequada (…). O coronelismo é sobretudo um compromisso, uma troca de proveitos entre o poder público, progressivamente fortalecido, e a decadente influência social dos chefes locais, notadamente, os senhores de terras. (LEAL apud SILVA, 2023, s/p, adaptação e grifo nossos) Boa leitura! TÓPICOS SOBRE O CORONELISMO 1. Coronelismo Resumo 2. Origens do Coronelismo 3. Características do Coronelismo 4. O Cangaço e sua relação com o Coronelismo 5. Declínio e legado do Coronelismo Conclusão Referências ⠀ 1. CORONELISMO RESUMO O que foi o Coronelismo? O coronelismo foi um fenômeno político-social que marcou profundamente a história do Brasil entre os séculos XIX e XX, principalmente durante a República Oligárquica (1894-1930), quando o Brasil teve o seu primeiro presidente civil, Prudente de Morais. Originado no período pós-independência, quando o Brasil se encontrava no Período Regencial (1831-1842), este sistema de controle social buscou reprimir movimentos, motins e rebeliões que estouravam pelo país. Sem ter um exército regular minimamente preparado e grande o suficiente para assegurar os interesses da República Oligárquica (dentro da Primeira República), a Guarda Nacional foi instituída por iniciativa do padre Diogo Antônio Feijó. A Guarda Nacional, criada em 18 de agosto de 1831, nasceu com o objetivo de assegurar os interesses das elites, principalmente a cafeeira, transformando latifundiários (donos de grandes terras) nos chamados coronéis. Os coronéis mantinham o controle local e coagiam — com favores ou ameaças, incluindo a morte! — a população mais humilde a votar nos candidatos indicados pelos políticos, recebendo em troca favores políticos e verbas dos governadores. Dessa forma, o Coronelismo foi uma peça fundamental na manutenção de um sistema que favoreceu as elites em demasia em detrimento da população pobre que muitas vezes dependia do auxílio prestado pelos coronéis, o que gerou o chamado Clientelismo. Por fim, ainda resta falar um pouco sobre o cangaço, que foi uma espécie de enfrentamento ao Coronelismo no qual muitos dos jagunços (pistoleiros) dos próprios coronéis se bandearam para a vida de cangaceiros. O coronel Francisco Heráclio, o Leão das Varjadas, que mandou e desmandou na cidade de Limoeiro, a 64.75 km de Recife, Pernambuco: O coronel Chico Heráclio costumava dizer que as eleições “tinham que ser realizadas por mim”. Também inspirou o personagem Coronel Chico Heráclio, de Chico Anysio. Créditos: autoria desconhecida. ⠀ 2. ORIGENS DO CORONELISMO O Coronelismo tem suas raízes nas primeiras décadas do Brasil independente, durante o Período Regencial (1831-1842), nascendo para conter as revoltas e motins pelo país e assim proteger a postura centralizadora do governo. Após a proclamação da independência, o país enfrentava vários desafios na construção de uma identidade nacional e na própria estruturação de um sistema político — havia grande risco separatista de norte a sul do país desde o fim do século XVIII. Nesse contexto, eram os coronéis, líderes regionais com grande influência política e econômica, que exerciam o seu poder de forma autoritária e paternalista sobre a população que se encontrava literalmente sob sua “jurisdição”. Os coronéis, geralmente proprietários de grandes extensões de terras e fazendas, controlavam o acesso aos recursos e às terras, estabelecendo um sistema de clientelismo e profunda dependência em relação aos moradores da região, principalmente nas regiões mais isoladas. Por meio de práticas como o Voto de Cabresto, a manipulação eleitoral e o uso da violência, esses líderes garantiam a sua permanência no poder e influência nas decisões políticas. Charge demonstrando o clientelismo no qual a maioria da população ou se submetia e recebia favores dos coronéis ou sofreria ameaças, incluindo a morte. Assim, o Voto de Cabresto era uma prática usual no período eleitoral. Créditos: Arionauro Cartuns. O domínio militar exercido pela Guarda Nacional e pelos coronéis era de grande influência e essencial para a manutenção do esquema corrupto e exploratório existente durante a República Oligárquica. Créditos: autoria desconhecida / Acervo -Waldir Rueda. ⠀ 3. CARACTERÍSTICAS DO CORONELISMO O coronelismo era caracterizado por uma série de práticas e relações de poder. De caráter elitista da própria Guarda Nacional, só os brasileiros com todos os direitos políticos poderiam fazer parte, os chamados cidadãos ativos (eleitores e elegíveis). Dessa forma, a participação popular era excluída de ingressar na instituição, visto que a grande maioria da população, principalmente no início do período da Guarda Nacional, não possuíam nem o direito de votar. Não podiam votar porque, durante a monarquia, só podiam votar quem tivesse posses financeiras consideráveis (voto censitário). Além do voto de cabresto, no qual os ouvintes eram coagidos ou subornados a votar nos candidatos indicados pelo coronel (que recebiam as indicações dos políticos), outras características incluíam: O controle dos meios de comunicação locais; O uso da violência para reprimir os opositores; e A permanência de um sistema de conluio e favoritismo para com as elites. O coronelismo também estava intimamente ligado ao sistema latifundiário brasileiro, visto que os coronéis eram proprietários de grandes extensões de terra, ainda que fossem das capitais. Terras onde exerciam autoridade absoluta sobre os trabalhadores rurais, estabelecendo relações de subserviência e dependência. O abuso de poder e interesses próprios ficavam acima de tudo e, mesmo quando a Guarda Nacional e a República Oligárquica caíram, muitos dos coronéis continuaram sua vida de mandos e desmandos com grupos armados, como os conhecidos jagunços. O coronelismo estava ligado a características como o voto de cabresto, em que os eleitores eram coagidos ou manipulados pelos coronéis para votar em determinado candidato, além do uso da violência e intimidação como instrumentos de controle político. Créditos: autoria desconhecida. Era comum a venda de patentes na Guarda Nacional, bastante ter posses para garantir sua patente comprada e, na prática, montar grandes companhias de jagunços (capangas, pistoleiros) para fazer valer sua vontade como lei. Créditos: autoria desconhecida. ⠀ 4. O CANGAÇO E O CORONELISMO Durante o período do coronelismo, surgiu outro fenômeno marcante na história brasileira: o Cangaço. O cangaço foi um movimento de banditismo social que ocorreu principalmente no Nordeste do Brasil, entre o final do século XIX e a primeira metade do século XX. Os cangaceiros eram grupos de fora da lei que viviam à margem da sociedade, desafiando a autoridade do Estado e principalmente a dos coronéis locais. Muitos dos cangaceiros foram elevados a figuras icônicas, como Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, e Maria Bonita, que eram frequentemente vistos como heróis populares, lutando contra a opressão dos coronéis e se tornando símbolos de resistência. No entanto, eles também praticavam atos violentos e saques, o que gerava conflitos com as forças militares e paramilitares (Guarda Nacional e jagunços). O cangaço, igualmente como outros fenômenos sociais (como o gângster Al Capone), acabou por se destacar na cultura pop, além de eventuais debates acadêmicos acalorados entre os mais entusiastas. Créditos: George Vale / Memorial da Resistência em Mossoró, Rio Grande do Norte, Brasil. ⠀ 5. DECLÍNIO E LEGADO DO CORONELISMO Com o passar do tempo, o coronelismo começou a declinar devido a uma série de transformações sociais e políticas no Brasil, principalmente no início do século XX. A industrialização, urbanização e democratização gradual do país enfraqueceram grandemente o poder dos coronéis, que passaram a agir mais em interesse próprio, uma vez que a República Oligárquica caíra em 1930 com a chegada de Getúlio Vargas à Presidência. Da mesma forma, também ocorreram a implementação de políticas dirigidas para a descentralização do poder e o fortalecimento das instituições democráticas. Apesar disso, é possível afirmar que o coronelismo deixou um legado que ainda hoje persiste sobre a sociedade brasileira. A cultura política do clientelismo e da dependência, por exemplo, ainda persiste em certas regiões do país. Além disso, a desigualdade social e a concentração de poder em mãos de poucos continuam a ser desafios experimentados no Brasil atual. Durante a República Velha, o coronelismo foi um dos elementos que marcaram a política brasileira, dificultando a participação democrática e contribuindo para a instabilidade do sistema político que favorecia poucos. Créditos: Juan Gutierrez de Padilla / Museu Histórico Nacional. ⠀ CONCLUSÃO O coronelismo foi um sistema político e social que moldou profundamente a história do Brasil de forma extremamente exploratória e corrupta. Originado no período pós-independência, o poder dos coronéis influenciou a forma como a política era concedida, deixando um legado que ainda hoje pode ser observado claramente. Embora tenha entrado em declínio, o coronelismo continua a ser um fenômeno relevante para compreendermos as dinâmicas políticas e sociais do país à época e atualmente. É importante refletir sobre esse passado e trabalhar para superar os desafios que ainda persistem, visando a construção de uma sociedade mais igualitária e democrática. PODE USAR TRECHOS DA MATÉRIA. FIQUE À VONTADE! Só pedimos que cite (referencie) o site, bastando fazer do seu jeito ou como no exemplo: Fonte: Incrível História: https://incrivelhistoria.com.br/ (ou o link do endereço desta página). Obrigado! ⠀ REFERÊNCIAS PRINCIPAIS: BRAICK, Patrícia Ramos; MOTA, Myriam Becho. História: das cavernas ao terceiro milênio. 3ª ed. reform. e atual. São Paulo: Moderna, 2007. DOLHNIKOFF, Miriam. História do Brasil Império. 1. ed., 3ª reim. São Paulo: Contexto, 2020. FAUSTO, Boris; FAUSTO, Sérgio (colab). História do Brasil. 14ª ed. atual. e ampl., 2º reimpr. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2015. SCHWARCZ, Lilia Moritz; STARLING, Heloisa Murgel. Brasil: uma biografia. 1ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. SILVA, Martha Gaudencio da. Coronelismo: entenda o conceito. Acesso em: 4 jul., 2023. IMAGEM(NS): Buscou-se informações para creditar a(s) imagem(ns), contudo, nada foi encontrado. Caso saiba, por gentileza, entrar em contato: contato@incrivelhistoria.com.br PALAVRAS-CHAVE SECUNDÁRIAS: Brasil Império, Brasil República, Período Regencial, Guarda Nacional, Coronelismo, curral eleitoral, clientelismo, voto de cabresto, Código Eleitoral, Justiça Eleitoral, Getúlio Vargas, o que foi o coronelismo. Eudes Bezerra37 anos, recifense, graduado em Direito e História. Diligencia pesquisas especialmente sobre Antiguidade, História Militar, Crime Organizado e Sistema Penitenciário. Gosta de ler, escrever, planejar e executar o que planeja. Tags usadas: curiosidades do mundo terra brasilis Deixe um comentário Cancelar respostaO seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *Comentário * Nome E-mail Veja tambémPolítica dos governadores: o domínio oligárquicoGuarda Nacional: Coronelismo e oligarquiasVoto de Cabresto: O que foi, combate e dias atuais