Idade Contemporânea Política dos governadores: o domínio oligárquico Política dos Governadores: Oligarquias, Café com Leite, Guarda Nacional, Coronelismo, Clientelismo, tudo que você precisa saber! Idade Contemporânea • República Autor: Eudes Bezerra Matéria criada em 5 novembro 2023 8 minutos Política dos Governadores: Oligarquias, Café com Leite, Guarda Nacional, Coronelismo, Clientelismo, tudo que você precisa saber! Créditos: Aurélio de Figueiredo / Museu da República / Montagem: Eudes Bezerra. A Política dos Governadores foi a grande articulação de sustentação da República Oligárquica (1894-1930), que garantiu a continuidade das oligarquias e seus aliados, como os governadores e coronéis em suas respectivas posições de privilégio. [O então presidente do Brasil,] Campos Sales concebeu um arranjo conhecido como política dos governadores. Seus objetivos podem ser assim resumidos: Reduzir ao máximo as disputas políticas no âmbito de cada Estado, prestigiando os grupos mais fortes; e Pôr fim à hostilidade existente entre Executivo e Legislativo, domesticando a escolha dos deputados. O governo central sustentaria assim os grupos dominantes nos Estados, enquanto estes, em troca, apoiariam a política do presidente da República. (FAUSTO, 2015, p.222-223, grifo e acréscimo nossos) Boa leitura! TÓPICOS SOBRE A POLÍTICA DOS GOVERNADORES 1. Resumo sobre a Política dos Governadores 2. A origem da Política dos Governadores 3. Funcionamento da Política dos Governadores 4. As consequências da Política dos Governadores 5. O Coronelismo, o Clientelismo e a Comissão de Verificação de Poderes 6. Críticas e movimentos de contestação Conclusão Referências ⠀ 1. RESUMO SOBRE A POLÍTICA DOS GOVERNADORES A República Velha (ou Primeira República), período que compreendeu os anos de 1889 a 1930, marcou o início do sistema democrático no Brasil após a derrubada do Império. A partir de 1894, com a chegada dos primeiros presidentes civis à Presidência da República, iniciou-se a República Oligárquica que duraria até o fim da Primeira República em 1930. Durante essa época, a chamada política dos governadores desempenhou um papel central na organização e no funcionamento do país, visto que o poder das elites era assegurado pelos políticos através dos coronéis mediante o uso dos currais eleitorais. Esse sistema auxiliou — nos bastidores do poder — outra política amplamente conhecida, a do Café com Leite, que se caracterizou pela alternância no poder central entre os estados de Minas Gerais e São Paulo. Basicamente, ocorria o seguinte: Os coronéis (Guarda Nacional) garantiam o interesse dos governadores estaduais e do presidente nas urnas através do voto de cabresto nos currais eleitorais. Em outras palavras, o governo central (a Presidência da República), indicava o nome do candidato (um oligarca) a todos os governadores estaduais incluídos no esquema e estes retransmitiam o indicado aos coronéis para que assegurassem a vitória do candidato nas urnas. Em contra partida, favores políticos, liberdade política e muito dinheiro saiam da Presidência para os governadores estaduais que dividiam com os coronéis. Assim, havia a manutenção e a perpetuação das mesmas classes nos governos estaduais e federal em detrimento de eventuais novos políticos que desejavam romper a política dos governadores ou simplesmente não estavam alinhados com os interesses das oligarquias cafeeiras e das antigas aristocracias da cana de açúcar. A política dos governadores durou até a chegada de Getúlio Vargas em 1930 — através da Revolução de 1930 — que simplesmente desbaratou todo o esquema corrupto das oligarquias, mesmo não conseguindo extirpar diversos aspectos que só sumiriam ou perderiam força no decorrer do tempo. Charge de 1925 mostra a política do café com leite apoiada pela política dos governadores. Créditos: Storni / Revista Careta. ⠀ 2. A ORIGEM DA POLÍTICA DOS GOVERNADORES A política dos governadores tem as suas raízes enterradas na necessidade de garantir a estabilidade política e a manutenção do poder das elites após a Proclamação da República em 1889. Com a descentralização do poder, os estados brasileiros passaram a ter maior autonomia política e administrativa. Isto é, muito mais poder político. As oligarquias cafeeiras de São Paulo e Minas Gerais, os dois estados mais ricos à época, firmaram um acordo de alternância de poder, conhecido como política do Café com Leite. Nesse acordo, havia a necessidade urgente de garantir o apoio dos demais estados nas urnas e por isso a política dos governadores e o importantíssimo apoio dos coronéis. A política dos governadores se iniciou com o presidente Manoel Ferraz de Campos Salles, eleito entre 1898 e 1902, perpetuando-se com os seguintes presidentes: Rodrigues Alves: de 1902 a 1906; Afonso Pena: de 1906 a 1909; Nilo Peçanha: de 1909 a 1910; Hermes da Fonseca: de 1910 a 1914; Venceslau Brás: de 1914 a 1918; Delfim Moreira: de 1918 a 1919; Epitácio Pessoa: de 1919 a 1922; Arthur Bernardes: de 1922 a 1926; e Washington Luís: de 1926 a 1930. Membros das oligarquias reunidos para a promulgação da Constituição Federal de 1891 com o Marechal Deodoro da Fonseca. Entre os presentes, muitos seriam os futuros presidentes do Brasil. Créditos: Aurélio de Figueiredo / Museu da República. ⠀ 3. FUNCIONAMENTO DA POLÍTICA DOS GOVERNADORES A política dos governadores se baseava em um complexo sistema de acordos e conchavos políticos que envolvia dezenas de milhares de pessoas. O presidente da República, em acordo com as oligarquias paulista e mineira, interferia nas eleições estaduais, garantindo a eleição de governadores aliados — a ideia era garantir o alinhamento entre os mais diversos políticos. Em troca, os governadores estaduais se comprometiam a apoiar as políticas e os interesses do governo federal, além de assegurar a sua própria manutenção em sua respectiva região estadual. Usando uma antiga instituição criada em 1831, a Guarda Nacional, uma organização paramilitar que já nasceu com a intenção de proteger o governo central durante o império. Mas que agora, após a proclamação da República, ganhara o status federal e passou a atuar em prol das oligarquias. A Guarda Nacional, inclusive, vendia “patentes”, como a de coronel — por isso, o termo Coronelismo. Por fim, os coronéis se encarregaram de garantir o controle nas ruas e o resultado das eleições em suas regiões de atuação. A criação da Guarda Nacional também teve o propósito de enfraquecer o Exército Brasileiro, que ainda se dividia entre apoiar ou não a volta da monarquia, mesmo tendo sido o nordestino Marechal Deodoro da Fonseca a efetivamente derrubar seu imperador e amigo, Dom Pedro II. Créditos: autoria desconhecida / Marechal Deodoro da Fonseca / Galeria dos Presidentes, Planalto, Brasília. ⠀ 4. AS CONSEQUÊNCIAS DA POLÍTICA DOS GOVERNADORES A política dos governadores teve uma série de consequências para o Brasil durante a República Velha. Em primeiro lugar, consolidou o poder das oligarquias agrárias, principalmente do setor cafeeiro. Essas oligarquias dominaram a política nacional, garantindo a sua representação e favorecendo os seus interesses de modo que o Estado absorvia os seus prejuízos quando os valores do café despencavam diante da quantidade ofertada. Absorvia os prejuízos dos cafeicultores comprando as safras excedentes com o Erário (dinheiro público), de modo a aliviar os prejuízos dos oligarcas em detrimento da população que literalmente pagava por isso. A concentração de poder nas mãos de poucos (oligarquia) também contribuiu para a exclusão política de outros grupos, como a classe média urbana e a população rural. Em 1929, com a Quebra da Bolsa de Wall Street, os cafeicultores sofreram um duro golpe e nem a máquina pública do governo brasileiro fantoche conseguiria repor as suas perdas. Créditos: autoria desconhecida / Governo dos Estados Unidos da América. Posteriormente, em 1930, Getúlio Vargas escorraçaria as oligarquias do poder através de um golpe de estado. Créditos: autoria desconhecida / Colorida por Djalma Gomes Netto / Galeria dos Presidentes, Planalto, Brasília. ⠀ 5. O CORONELISMO, O CLIENTELISMO E A COMISSÃO DE VERIFICAÇÃO DE PODERES Um dos aspectos mais marcantes da política dos governadores foi o fortalecimento do Coronelismo e do Clientelismo. Os governadores exerceram o controle sobre as máquinas públicas estaduais, nomeando seus aliados para cargos administrativos e distribuindo favores e privilégios entre os seus apoiadores. Essa prática fortaleceu as relações de dependência entre os políticos e a população, perpetuando relações de troca de votos por benefícios pessoais, o que configurou o Clientelismo. Em meio ao clientelismo e à máquina pública, encontravam-se os coronéis que iam muito além de garantir voto: controlavam a sociedade de modo a não ocorrer nenhum movimento separatista ou contestador. A Comissão de Verificação de Poderes, por sua vez, tratou-se de uma espécie de garantia a mais para que candidatos que, eventualmente, vencessem, mas que não estivessem no contexto da política dos governadores sofressem a chamada degola. A degola consistia na invalidação dos resultados das urnas por “fraude”, de acordo com a Comissão de Verificação de Poderes, que, obviamente, servia aos interesses das oligarquias. Charge representando o clientelismo no qual a maioria da população ou se submetia e recebia favores dos coronéis ou sofreria ameaças, incluindo a morte. Créditos: Arionauro Cartuns. ⠀ 6. CRÍTICAS E MOVIMENTOS DE CONTESTAÇÃO Ao longo da República Velha, a política dos governadores provocou duras críticas e movimentos de contestação. Grupos políticos dissidentes, como a Aliança Liberal, lutaram como oposição ao sistema oligárquico, defendendo uma maior participação popular e a necessidade de reformas políticas urgentes. Esses movimentos culminaram na Revolução de 1930, que marcou o fim da República Velha e a ascensão de Getúlio Vargas ao poder. A Aliança Liberal nasceu com o propósito de dar combate abertamente às oligarquias dominantes, tendo sucesso em pouco tempo por contar com grande apoio popular. Créditos: Claro Jansson / Creative Commons. ⠀ CONCLUSÃO A política dos governadores desempenhou um papel essencial durante o período da República Oligárquica (1894-1930). Esse sistema, baseado em acordos e conchavos políticos, consolidou o poder das oligarquias regionais com ênfase para as de São Paulo e Minas Gerais. Embora tenha garantido certa estabilidade política, a política dos governadores também contribuiu para a exclusão dos mais diversos grupos sociais e para a perpetuação de práticas como o coronelismo e o clientelismo. Com o tempo, as críticas e os movimentos de contestação foram crescendo, culminando na queda desse sistema e na busca por um modelo mais representativo e participativo. Por fim, ainda hoje é possível ver com clareza o Congresso Nacional Brasileiro agindo de acordo com interesses que em muitas vezes são os MESMOS praticados durante a política dos governadores. PODE USAR TRECHOS DA MATÉRIA. FIQUE À VONTADE! Só pedimos que cite (referencie) o site, bastando fazer do seu jeito ou como no exemplo: Fonte: Incrível História: https://incrivelhistoria.com.br/ (ou o link do endereço desta página). Obrigado! ⠀ REFERÊNCIAS PRINCIPAIS: BRAICK, Patrícia Ramos; MOTA, Myriam Becho. História: das cavernas ao terceiro milênio. 3ª ed. reform. e atual. São Paulo: Moderna, 2007. DOLHNIKOFF, Miriam. História do Brasil Império. 1. ed., 3ª reim. São Paulo: Contexto, 2020. FAUSTO, Boris; FAUSTO, Sérgio (colab). História do Brasil. 14ª ed. atual. e ampl., 2º reimpr. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2015. SCHWARCZ, Lilia Moritz; STARLING, Heloisa Murgel. Brasil: uma biografia. 1ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. IMAGEM(NS): Buscou-se informações para creditar a(s) imagem(ns), contudo, nada foi encontrado. Caso saiba, por gentileza, entrar em contato: contato@incrivelhistoria.com.br PALAVRAS-CHAVE SECUNDÁRIAS: Brasil Império, Brasil República, Primeira República, República Oligárquica, Oligarquias, Guarda Nacional, Coronelismo, curral eleitoral, clientelismo, voto de cabresto, Getúlio Vargas. Eudes Bezerra37 anos, recifense, graduado em Direito e História. Diligencia pesquisas especialmente sobre Antiguidade, História Militar, Crime Organizado e Sistema Penitenciário. Gosta de ler, escrever, planejar e executar o que planeja. Tags usadas: terra brasilis Deixe um comentário Cancelar respostaO seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *Comentário * Nome E-mail Veja tambémGuarda Nacional: Coronelismo e oligarquiasCoronelismo: O que foi, história e característicasVoto de Cabresto: O que foi, combate e dias atuaisGuerra: Conceito e regras de guerra