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Idade Contemporânea

Política dos governadores: o domínio oligárquico

Política dos Governadores: Oligarquias, Café com Leite, Guarda Nacional, Coronelismo, Clientelismo, tudo que você precisa saber!


presidente e futuros presidentes do brasil da república oligárquica no compromisso constitucional de 1896
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Escrito por Eudes Bezerra
Leitura: 8 minutos
presidente e futuros presidentes do brasil da república oligárquica no compromisso constitucional de 1896
Política dos Governadores: Oligarquias, Café com Leite, Guarda Nacional, Coronelismo, Clientelismo, tudo que você precisa saber! Créditos: Aurélio de Figueiredo / Museu da República / Montagem: Eudes Bezerra.

A Política dos Governadores foi a grande articulação de sustentação da República Oligárquica (1894-1930), que garantiu a continuidade das oligarquias e seus aliados, como os governadores e coronéis em suas respectivas posições de privilégio.

[O então presidente do Brasil,] Campos Sales concebeu um arranjo conhecido como política dos governadores.

Seus objetivos podem ser assim resumidos:

Reduzir ao máximo as disputas políticas no âmbito de cada Estado, prestigiando os grupos mais fortes; e

Pôr fim à hostilidade existente entre Executivo e Legislativo, domesticando a escolha dos deputados.

O governo central sustentaria assim os grupos dominantes nos Estados, enquanto estes, em troca, apoiariam a política do presidente da República. (FAUSTO, 2015, p.222-223, grifo e acréscimo nossos)

Boa leitura!

TÓPICOS SOBRE A POLÍTICA DOS GOVERNADORES

1. Resumo sobre a Política dos Governadores
2. A origem da Política dos Governadores
3. Funcionamento da Política dos Governadores
4. As consequências da Política dos Governadores
5. O Coronelismo, o Clientelismo e a Comissão de Verificação de Poderes
6. Críticas e movimentos de contestação
Conclusão
Referências

1. RESUMO SOBRE A POLÍTICA DOS GOVERNADORES

A República Velha (ou Primeira República), período que compreendeu os anos de 1889 a 1930, marcou o início do sistema democrático no Brasil após a derrubada do Império.

A partir de 1894, com a chegada dos primeiros presidentes civis à Presidência da República, iniciou-se a República Oligárquica que duraria até o fim da Primeira República em 1930.

Durante essa época, a chamada política dos governadores desempenhou um papel central na organização e no funcionamento do país, visto que o poder das elites era assegurado pelos políticos através dos coronéis mediante o uso dos currais eleitorais.

Esse sistema auxiliou — nos bastidores do poder — outra política amplamente conhecida, a do Café com Leite, que se caracterizou pela alternância no poder central entre os estados de Minas Gerais e São Paulo.

Basicamente, ocorria o seguinte:

Os coronéis (Guarda Nacional) garantiam o interesse dos governadores estaduais e do presidente nas urnas através do voto de cabresto nos currais eleitorais.

Em outras palavras, o governo central (a Presidência da República), indicava o nome do candidato (um oligarca) a todos os governadores estaduais incluídos no esquema e estes retransmitiam o indicado aos coronéis para que assegurassem a vitória do candidato nas urnas.

Em contra partida, favores políticos, liberdade política e muito dinheiro saiam da Presidência para os governadores estaduais que dividiam com os coronéis.

Assim, havia a manutenção e a perpetuação das mesmas classes nos governos estaduais e federal em detrimento de eventuais novos políticos que desejavam romper a política dos governadores ou simplesmente não estavam alinhados com os interesses das oligarquias cafeeiras e das antigas aristocracias da cana de açúcar.

A política dos governadores durou até a chegada de Getúlio Vargas em 1930 — através da Revolução de 1930 — que simplesmente desbaratou todo o esquema corrupto das oligarquias, mesmo não conseguindo extirpar diversos aspectos que só sumiriam ou perderiam força no decorrer do tempo.

charge ironizando a política do café com leite apoiada pela política dos governadores
Charge de 1925 mostra a política do café com leite apoiada pela política dos governadores. Créditos: Storni / Revista Careta. 

2. A ORIGEM DA POLÍTICA DOS GOVERNADORES

A política dos governadores tem as suas raízes enterradas na necessidade de garantir a estabilidade política e a manutenção do poder das elites após a Proclamação da República em 1889.

Com a descentralização do poder, os estados brasileiros passaram a ter maior autonomia política e administrativa. Isto é, muito mais poder político.

As oligarquias cafeeiras de São Paulo e Minas Gerais, os dois estados mais ricos à época, firmaram um acordo de alternância de poder, conhecido como política do Café com Leite.

Nesse acordo, havia a necessidade urgente de garantir o apoio dos demais estados nas urnas e por isso a política dos governadores e o importantíssimo apoio dos coronéis.

A política dos governadores se iniciou com o presidente Manoel Ferraz de Campos Salles, eleito entre 1898 e 1902, perpetuando-se com os seguintes presidentes:

  1. Rodrigues Alves: de 1902 a 1906;
  2. Afonso Pena: de 1906 a 1909;
  3. Nilo Peçanha: de 1909 a 1910;
  4. Hermes da Fonseca: de 1910 a 1914;
  5. Venceslau Brás: de 1914 a 1918;
  6. Delfim Moreira: de 1918 a 1919;
  7. Epitácio Pessoa: de 1919 a 1922;
  8. Arthur Bernardes: de 1922 a 1926; e
  9. Washington Luís: de 1926 a 1930.
marechal deodoro da fonseca promulgando a constituição de 1891 com futuros presidentes do brasil na república oligárquica
Membros das oligarquias reunidos para a promulgação da Constituição Federal de 1891 com o Marechal Deodoro da Fonseca. Entre os presentes, muitos seriam os futuros presidentes do Brasil. Créditos: Aurélio de Figueiredo / Museu da República. 

3. FUNCIONAMENTO DA POLÍTICA DOS GOVERNADORES

A política dos governadores se baseava em um complexo sistema de acordos e conchavos políticos que envolvia dezenas de milhares de pessoas.

O presidente da República, em acordo com as oligarquias paulista e mineira, interferia nas eleições estaduais, garantindo a eleição de governadores aliados — a ideia era garantir o alinhamento entre os mais diversos políticos.

Em troca, os governadores estaduais se comprometiam a apoiar as políticas e os interesses do governo federal, além de assegurar a sua própria manutenção em sua respectiva região estadual.

Usando uma antiga instituição criada em 1831, a Guarda Nacional, uma organização paramilitar que já nasceu com a intenção de proteger o governo central durante o império.

Mas que agora, após a proclamação da República, ganhara o status federal e passou a atuar em prol das oligarquias.

A Guarda Nacional, inclusive, vendia “patentes”, como a de coronel — por isso, o termo Coronelismo.

 Por fim, os coronéis se encarregaram de garantir o controle nas ruas e o resultado das eleições em suas regiões de atuação.

foto oficial do marechal deodoro da fonseca como presidente da república do brasil
A criação da Guarda Nacional também teve o propósito de enfraquecer o Exército Brasileiro, que ainda se dividia entre apoiar ou não a volta da monarquia, mesmo tendo sido o nordestino Marechal Deodoro da Fonseca a efetivamente derrubar seu imperador e amigo, Dom Pedro II. Créditos: autoria desconhecida / Marechal Deodoro da Fonseca / Galeria dos Presidentes, Planalto, Brasília. 

4. AS CONSEQUÊNCIAS DA POLÍTICA DOS GOVERNADORES

A política dos governadores teve uma série de consequências para o Brasil durante a República Velha.

Em primeiro lugar, consolidou o poder das oligarquias agrárias, principalmente do setor cafeeiro.

Essas oligarquias dominaram a política nacional, garantindo a sua representação e favorecendo os seus interesses de modo que o Estado absorvia os seus prejuízos quando os valores do café despencavam diante da quantidade ofertada.

Absorvia os prejuízos dos cafeicultores comprando as safras excedentes com o Erário (dinheiro público), de modo a aliviar os prejuízos dos oligarcas em detrimento da população que literalmente pagava por isso.

A concentração de poder nas mãos de poucos (oligarquia) também contribuiu para a exclusão política de outros grupos, como a classe média urbana e a população rural.

multidão nas ruas de nova iorque após a quebra da bolsa de wall street em 1929
Em 1929, com a Quebra da Bolsa de Wall Street, os cafeicultores sofreram um duro golpe e nem a máquina pública do governo brasileiro fantoche conseguiria repor as suas perdas. Créditos: autoria desconhecida / Governo dos Estados Unidos da América.
foto oficial de getúlio vargas como presidente da república do brasil
Posteriormente, em 1930, Getúlio Vargas escorraçaria as oligarquias do poder através de um golpe de estado. Créditos: autoria desconhecida / Colorida por Djalma Gomes Netto / Galeria dos Presidentes, Planalto, Brasília. 

5. O CORONELISMO, O CLIENTELISMO E A COMISSÃO DE VERIFICAÇÃO DE PODERES

Um dos aspectos mais marcantes da política dos governadores foi o fortalecimento do Coronelismo e do Clientelismo.

Os governadores exerceram o controle sobre as máquinas públicas estaduais, nomeando seus aliados para cargos administrativos e distribuindo favores e privilégios entre os seus apoiadores.

Essa prática fortaleceu as relações de dependência entre os políticos e a população, perpetuando relações de troca de votos por benefícios pessoais, o que configurou o Clientelismo.

Em meio ao clientelismo e à máquina pública, encontravam-se os coronéis que iam muito além de garantir voto: controlavam a sociedade de modo a não ocorrer nenhum movimento separatista ou contestador.

A Comissão de Verificação de Poderes, por sua vez, tratou-se de uma espécie de garantia a mais para que candidatos que, eventualmente, vencessem, mas que não estivessem no contexto da política dos governadores sofressem a chamada degola.

A degola consistia na invalidação dos resultados das urnas por “fraude”, de acordo com a Comissão de Verificação de Poderes, que, obviamente, servia aos interesses das oligarquias.

charge sobre o voto de cabresto com clientelismo no brasil no período eleitoral com coronelismo
Charge representando o clientelismo no qual a maioria da população ou se submetia e recebia favores dos coronéis ou sofreria ameaças, incluindo a morte. Créditos: Arionauro Cartuns. 

6. CRÍTICAS E MOVIMENTOS DE CONTESTAÇÃO

Ao longo da República Velha, a política dos governadores provocou duras críticas e movimentos de contestação.

Grupos políticos dissidentes, como a Aliança Liberal, lutaram como oposição ao sistema oligárquico, defendendo uma maior participação popular e a necessidade de reformas políticas urgentes.

Esses movimentos culminaram na Revolução de 1930, que marcou o fim da República Velha e a ascensão de Getúlio Vargas ao poder.

getúlio vargas vitorioso após a revolução de 1930
A Aliança Liberal nasceu com o propósito de dar combate abertamente às oligarquias dominantes, tendo sucesso em pouco tempo por contar com grande apoio popular. Créditos: Claro Jansson / Creative Commons. 

CONCLUSÃO

A política dos governadores desempenhou um papel essencial durante o período da República Oligárquica (1894-1930).

Esse sistema, baseado em acordos e conchavos políticos, consolidou o poder das oligarquias regionais com ênfase para as de São Paulo e Minas Gerais.

Embora tenha garantido certa estabilidade política, a política dos governadores também contribuiu para a exclusão dos mais diversos grupos sociais e para a perpetuação de práticas como o coronelismo e o clientelismo.

Com o tempo, as críticas e os movimentos de contestação foram crescendo, culminando na queda desse sistema e na busca por um modelo mais representativo e participativo.

Por fim, ainda hoje é possível ver com clareza o Congresso Nacional Brasileiro agindo de acordo com interesses que em muitas vezes são os MESMOS praticados durante a política dos governadores.


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Só pedimos que cite (referencie) o site, bastando fazer do seu jeito ou como no exemplo:

Fonte: Incrível História: https://incrivelhistoria.com.br/ (ou o link do endereço desta página).

Obrigado!


REFERÊNCIAS PRINCIPAIS:

BRAICK, Patrícia Ramos; MOTA, Myriam Becho. História: das cavernas ao terceiro milênio. 3ª ed. reform. e atual. São Paulo: Moderna, 2007.

DOLHNIKOFF, Miriam. História do Brasil Império. 1. ed., 3ª reim. São Paulo: Contexto, 2020.

FAUSTO, Boris; FAUSTO, Sérgio (colab). História do Brasil. 14ª ed. atual. e ampl., 2º reimpr. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2015.

SCHWARCZ, Lilia Moritz; STARLING, Heloisa Murgel. Brasil: uma biografia. 1ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

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PALAVRAS-CHAVE SECUNDÁRIAS: Brasil Império, Brasil República, Primeira República, República Oligárquica, Oligarquias, Guarda Nacional, Coronelismo, curral eleitoral, clientelismo, voto de cabresto, Getúlio Vargas.

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Eudes Bezerra

35 anos, pernambucano arretado, bacharel em Direito e graduando em História. Diligencia pesquisas especialmente sobre História Militar, Crime Organizado e Sistema Penitenciário. Gosta de ler, escrever, planejar e principalmente executar o que planeja. Na Internet, atua de despachante a patrão, enfatizando a criação de conteúdo.

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