Idade Moderna

Crise da América Espanhola: independências e legado

Crise da América Espanhola: declínio da colonização mercantilista espanhola, independências e o seu legado após séculos de exploração.


Crise da América Espanhola
avatar
Autor: Eudes Bezerra
7 minutos
Crise da América Espanhola
Crise da América Espanhola: declínio da colonização mercantilista espanhola, independências e o seu legado após séculos de exploração. Créditos: Juan Manuel Blanes / Montagem: Eudes Bezerra.

A Crise da América Espanhola se acentuou no século XVIII, efetivando-se logo no início do século XIX com a independências de várias regiões dos antigos vice-reinados.

A Espanha, próspera por séculos, acabou refém de sua política mercantilista e nem as reformas poderiam restabelecer tanto o domínio sobre as suas colônias quanto o seu papel de importância no quadro europeu.

Em determinados períodos da História, há mudanças significativas que acontecem em curto espaço de tempo.

Foi assim no início do século XIX, mais precisamente entre 1808 e 1824, na América de colonização espanhola.

Em pouco mais de uma década, o imenso Império Espanhol na América desmoronou e novos Estados independentes surgiram. (PRADO; PELLEGRINO, 2016, p. 25)

Boa leitura!

TÓPICOS DA CRISE DA AMÉRICA ESPANHOLA

1. Crise da América Espanhola: a Espanha no século XVIII
2. Reformas Bourbônicas
3. Crise da América Espanhola: Iluminismo, Liberalismo e exemplos externos
4. Independência da América Espanhola
5. Legado da colonização espanhola
⠀⠀5.1 Independência para quem?
⠀⠀5.2 Liberalismo: o desejado comércio livre dos colonos
⠀⠀5.3 Genocídio indígena
Referências

1. CRISE DA AMÉRICA ESPANHOLA: A ESPANHA NO SÉCULO XVIII

Passados séculos desde a chegada de Cristóvão Colombo e os sucessivos conquistadores, como Hernán Cortez que conquistou os Astecas, o império espanhol agora se encontrava em pleno declínio.

A Espanha havia perdido a posição privilegiada na Europa para países que investiam pesado em urbanização e manufaturas, sendo a Inglaterra, a França e a Holanda as grandes potências mercantis nessas questões.

A política mercantilista espanhola atravessou os séculos com mudanças pouco significativas, ainda focando em metais preciosos e monoculturas.

Com isso, a Espanha era abundante em matérias-primas, mas eram as manufaturas que agregavam grande valor aos produtos manufaturados. Logo, manufaturas se tornariam grandes indústrias, na Revolução Industrial.

A Espanha, assim como Portugal, embora estivessem na dianteira da Europa nos séculos XV e XVII através das Grandes Navegações, criaram uma dependência excessiva de suas vastas colônias, o que minou a manutenção de todo o império colonial.

crise da américa espanhola e as manufaturas
As manufaturas tiraram o papel de destaque de Estados agrícolas, como a Espanha ainda insistia em ser há séculos. Até o ouro e a prata eram manufaturados e refinados por renomados ouvires estrangeiros. Créditos: William Bell Scott.

2. REFORMAS BOURBÔNICAS

No século XVIII, ciente da sua dependência das colônias, assim como do receio de possíveis independências de suas colônias, o Reino da Espanha promoveu as chamadas Reformas Bourbônicas.

Estas reformas eram de ordem comercial, militar e traziam uma série de modificações estruturais, como as chamadas intendências às colônias na tentativa de conter a grave crise da américa espanhola.

As intendências eram chefiadas por fidalgos indicados pela coroa para fiscalizar e dirigir os vice-reinos espanhóis, o que foi extremamente mal- vista pelos colonos.

Na prática, tentou-se recolonizar a colônia. Tratava-se de modernizar o sistema colonial espanhol sem, de fato, mudar a estrutura que permaneceria ainda mais firme sob o domínio da metrópole (Espanha).

Ocorreram diversos efeitos contrários, como rebeliões e contrabando, por parte dos colonos que não viam mais por que se submeter a um reino que os desprezava e impossibilitava um dos seus grandes anseios: o livre comércio.

3. CRISE DA AMÉRICA ESPANHOLA: ILUMINISMO, LIBERALISMO E EXEMPLOS EXTERNOS

Como já referido, a Espanha se encontrava como coadjuvante na Europa e o seu papel secundário enfraquecia velozmente sua possibilidade de controle militar sobre suas colônias.

Gritos de independência ocorriam, principalmente a partir dos ventos do Iluminismo e das ideias liberais.

Ainda no século XVIII, ocorreu a Independência das Treze Colônias Inglesas, que viriam a se tornar os Estados Unidos da América, fato consumado em 04 de julho de 1776.

Esse evento mostrou que os colonizadores poderiam ser vencidos, arrebatando diversos entusiastas pró-independência na América Espanhola.

Em 1789, ocorreu outro evento que daria ainda mais gás às pretensões dos colonos na América Espanhola: a Revolução Francesa, da qual surgiria o furacão chamado Napoleão Bonaparte.

A Revolução Francesa trouxe guerras para dentro da própria Europa, cujo impérios da época não desejavam que os ventos da Revolução Francesa chegassem ao seu país e criassem distúrbios (ou mesmo a guilhotina).

crise da américa espanhola e a revolução francesa
A Revolução Francesa abalaria completamente as estruturas da própria Europa, fragilizando as arcaicas potências coloniais que não se adaptaram aos novos tempos. Créditos: autoria desconhecida / Museu de História da França, Versalhes, França.

4. INDEPENDÊNCIA DA AMÉRICA ESPANHOLA

Na virada do século XVIII para o XIX, logo no seu início, diversas regiões entraram em conflito contra o domínio espanhol.

As independências ocorreram em efeito cascata. Cada revolta que crescia e florescia incentivava outras ao mesmo, criando uma tremenda instabilidade e agravando ainda mais a crise da américa espanhola.

Logo todo a colônia americana estaria em tumulto com a Espanha, já esgotada, conseguindo assegurar poucas regiões, mas também se deparando com um oponente de peso: a Inglaterra.

A Inglaterra apoiava as independências das colônias espanholas no desejo de praticar comércio diretamente com as nações que surgiriam, deixando de lado a decadente Espanha.

Exemplos de países que se tornaram independentes da Espanha:

  • Venezuela em 1811;
  • Colômbia em 1811;
  • Paraguai em 1813;
  • Chile em 1818;
  • México em 1821; e o
  • Peru em 1821;

Assim como esses, outros tantos viriam a conquistar a independência contra o Império da Espanha, tendo todos escolhido a forma republicana.

 A única exceção à forma republicana recaiu sobre México que passou alguns anos como império, mas que logo se tornaria a atual república.

crise da américa espanhola e os ingleses
Os ingleses desejavam negociar com os colonos espanhóis, mas pelo exclusivismo (prática mercantilista) era proibido aos colonos, tendo muitos se aventurado no contrabando. Créditos: A Derrota da Armada Espanhola pela Inglaterra em 1588, de Philipp Jakob Loutherbourg. Museu Nacional Marítimo, Londres, Inglaterra.

5. LEGADO DA COLONIZAÇÃO ESPANHOLA

O legado da América Espanhola ainda hoje perdura e é possível enxergá-la no subdesenvolvimento de diversos países, sobretudo da América do Sul e Central.

Por séculos, a política espanhola voltada para metais preciosos e monoculturas em muito criou um grande abismo, impossibilitando a diversificação de produção e o próprio desenvolvimento tecnológico da América.

5.1 Independência para quem?

Da crise da América espanhola até a independência pouca coisa mudaria no sistema já existente, incluindo as mazelas do sistema escravocrata ou análogo.

Os criollos formavam a elite e continuavam com a exploração de mão de obra indígena e africana, de modo que para estes grupos pouco ou nada mudaria.

A liberdade comercial atendia aos criollos, que continuaram explorando e martirizando negros, indígenas e mestiços de modo a propagar o racismo estrutural.

crise da américa espanhola e a independência e os criollos
Os criollos eram os filhos de espanhóis nascidos na América e ocupavam o segundo escalão mais alto da sociedade durante a colonização. Com a independência, seus poderes aumentaram perpetuando o sistema já existente. Créditos: Juan Manuel Blanes.

5.2 Liberalismo: o desejado comércio livre dos colonos

Um dos grandes anseios pela independência decorria da possibilidade do livre comércio.

Se antes existia o exclusivo comercial com a metrópole colonizadora, agora os colonos poderiam comercializar seus produtos como bem entendessem e sem o pagamento de impostos e fiscalização régia.

Na prática, houve boas experiências comerciais para alguns países e horríveis para outros.

Ocorre que as monoculturas tinham por objetivo as exportações e a aquisição de bem manufaturados provinha da metrópole.

Sem a metrópole, as regiões mais longínquas e pobres sofreram drasticamente inicialmente para se reestruturarem, como algumas que ainda hoje permanecem na pobreza.

5.3 Genocídio indígena

Guerras, escravidão e epidemias de várias doenças varreram as populações nativas e disto ninguém duvida.

Contudo, foram dezenas de milhões de indígenas que morreram durante o processo espanhol, sendo possível ver seus reflexos ainda hoje.

No Caribe, por exemplo, pouco tempo após a chegada de Colombo (1492), algumas ilhas chegaram a perder até 90% de sua população nativa devido às doenças trazidas pelos europeus.

Por isso, atualmente grande parte da população da região caribenha é negra.

Isto é, descendentes de negros escravizados no tráfico negreiro que foram levados para lá para trabalhar nas monoculturas, como a da cana de açúcar.

crise da américa espanhola e o genocídio indígena
Estima-se que em 1518 existiam cerca de 8 milhões de nativos somente sob os domínios do império asteca. Esse número teria caído para 2,6 milhões em menos de cinco décadas. Créditos: autoria desconhecida / Creative Commons.

camisetas de história vestindo história
Você conhece a loja Vestindo História? São camisetas com frases e grandes imagens históricas. Acesse já!

REFERÊNCIA(S):

Castillo, B. D. D. História verdadeira de la conquista de la Nueva España. Madri: Castalia, 1999.

LOCKHART, J.; SCHWARTZ, S. B. A América Latina na época colonial. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002.

PRADO, Maria Ligia; PELLEGRINO, Gabriela. História da América Latina. 1. ed., 2ª reimpressão. São Paulo: Contexto, 2016.

WHITE, Matthew. O grande livro das coisas horríveis: a crônica definitiva das cem piores atrocidades da história. trad. Sergio Moraes Rego. Rio de Janeiro: Rocco, 2013.

IMAGEM(NS):
Buscou-se informações para creditar a(s) imagem(ns), contudo, nada foi encontrado. Caso saiba, por gentileza, entrar em contato: contato@incrivelhistoria.com.br

avatar
Eudes Bezerra

37 anos, recifense, graduado em Direito e História. Diligencia pesquisas especialmente sobre Antiguidade, História Militar, Crime Organizado e Sistema Penitenciário. Gosta de ler, escrever, planejar e executar o que planeja.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *