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Brasil

Grandes Navegações, a Era dos Descobrimentos

Atirando-se aos mares e oceanos em busca de riquezas e glórias, navegadores europeus, sobretudo portugueses e espanhóis, deram origem às Grandes Navegações.


caravelas navegando
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Escrito por Eudes Bezerra
Leitura: 10 minutos
caravelas durante as grandes navegações
Grandes Navegações ou Era dos Descobrimentos, um período de grandes descobertas por parte dos navegadores europeus. Créditos: a frota de Cabral ao sair do rio Tejo, em Portugal. Autoria desconhecida.

Atirando-se aos mares e oceanos do planeta, os europeus, sobretudo portugueses e espanhóis, deram origem às Grandes Navegações que culminaram no descobrimento da América e na abertura de novas rotas comerciais, como a da Índia.

Conseguindo contornar dificuldades nutrindo a ambição da conquista, reis, burgueses e navegadores ganharam fama (e muita riqueza).

TÓPICOS SOBRE AS GRANDES NAVEGAÇÕES

O que foram as grandes navegações
1. A Europa entre guerras, doenças e rivalidades
⠀⠀1.1 Veneza e Gênova
⠀⠀1.2 Peste Negra
⠀⠀1.3 Guerra dos Cem Anos
⠀⠀1.4 A queda de Constantinopla, 1453
2. Transição do Feudalismo para o Mercantilismo
⠀⠀2.1 As Cruzadas e o enfraquecimento da nobreza
⠀⠀2.2 Os reis e a burguesia
⠀⠀2.3 Mercantilismo
3. Portugal e Espanha
4. Grandes navegações portuguesas
⠀⠀4.1 Portugal entre a cruz e a espada
⠀⠀4.2 A experiência naval dos portugueses
5. E Era dos Descobrimentos
⠀⠀5.1 Portugal contornando a África
⠀⠀5.2 Bartolomeu Dias ultrapassa o Cabo das Tormentas
⠀⠀5.3 Vasco da Gama chega à Índia
⠀⠀5.4 Descobrimento do Brasil
6. Portugal em glória
7. Indicação de filmes
Referências

O QUE FORAM AS GRANDES NAVEGAÇÕES

Grandes Navegações é o conjunto de viagens ocorridas ao longo dos séculos XV e XVI, quando navegadores europeus se lançaram ao mar em busca de novas terras e rotas marítimas para as Índias, visando a obtenção e comercialização das famosas especiarias (que possuíam elevado valor comercial).

A este período costumeiramente se dá o nome, entre outros, de As Grandes Navegações, Expansão Marítima ou mesmo Era dos Descobrimentos e seus principais atores são Portugal e Espanha, os pioneiros nas navegações.

teatro do globo terreste
O Teatro do Globo Terrestre, de Abraham Ortelius, publicado originalmente em 1570. Esta verdadeira obra-prima é considerada o primeiro atlas moderno e a sua criação decorreu dos esforços das Grandes Navegações.

1. A EUROPA ENTRE GUERRAS, DOENÇAS E RIVALIDADES

Uma série de obstáculos e desgraças, como guerras e fome, forçou reinos e cidades da Europa a buscar rotas comerciais alternativas para abastecer o emergente comércio que por ali florescia.

Ainda que não de forma isolada, foi neste contexto de grandes turbulências que a Europa se preparou para começar sua expansão de fronteiras além-mar que culminou na colonização do planeta.

1.1 Veneza e Gênova

As cidades comerciais italianas de Veneza e Gênova, que há muito tempo possuíam boas relações com os povos do Oriente, fizeram acordos comerciais com árabes deixando toda a Europa refém de seus preços: os árabes traziam mercadorias de todo o Oriente até o mar Mediterrâneo onde eram repassadas a genoveses e venezianos que as revendiam por altos preços aos demais europeus.

Essa tremenda restrição causou um grande impacto nos preços praticados na Europa. Especialmente na Península Ibérica, os preços abusivos foram encarados como afronta.

1.2 Peste Negra

Doença implacável transmitida através de uma bactéria encontrada em pulgas de roedores, como ratos, a Peste Negra, ou Peste Bubônica, teria surgido em meados do século XIV, vinda da Ásia, e sido a responsável pela morte de aproximadamente um terço da população europeia.

A epidemia, adoentando e dizimando grande parte da população, iniciou uma grande fome por tirar trabalhadores e trabalhadoras dos campos, o que desencadeou a necessidade de se importar de alimentos.

1.3 Guerra dos Cem Anos

A Guerra dos Cem Anos, um dos mais famosos conflitos da história em que a Inglaterra e a França guerrearam pelo trono francês entre os anos de 1337 a 1453 (116 anos, com períodos intercalados de conflitos e tréguas).

O conflito causou grandes transtornos no coração da Europa, onde o comércio foi duramente prejudicado devido às restrições fronteiriças e a destruição inerente à guerra. A Europa, principalmente os envolvidos no conflito, demorariam a se recuperar.

joana darc
Joana D’Arc, de Harold Piffard, a mais famosa personalidade da Guerra dos Cem Anos e mártir dos franceses. Perseguida e morta na fogueira como bruxa, 25 anos após sua execução foi tida como inocente e canonizada em 1920. Atualmente é uma santa da França e representa a perseverança dos franceses diante das adversidades.

1.4 A queda de Constantinopla, 1453

Na manhã de 29 de maio de 1453, sob os aterrorizantes rugidos das imensas Grã-Bombardas Reais Turco Otomanas, ocorreu a conquista da cidade de Constantinopla em definitivo pelos turcos liderados por Mohammed, o Grande. Era o fim do Império Bizantino, herdeiro oriental do Império Romano.

A conquista de Constantinopla praticamente encerrou a rota comercial, quando os otomanos decidiram fechar as passagens, incluindo o Estreito de Bósforo (importante passagem da Europa para Ásia situada em Constantinopla, a atual cidade de Istambul).

O evento foi tão significativo que encerrou a Idade Média, iniciando a Idade Moderna, assim como frustrou de vez o comércio, impondo maior velocidade às Grandes Navegações (e ao Renascimento).

2. TRANSIÇÃO DO FEUDALISMO PARA O MERCANTILISMO

No século XV, século de grandes conquistas marítimas, o sistema feudal se encontrava em visível decadência e a Europa se modificava para mais uma transformação econômica.

Era necessário recompor as rotas destruídas pelas guerras e desgraças. Ou abrir novas rotas. Nesse exato ponto a aliança entre reis e burgueses se mostraria essencial para a expansão marítima europeia.

2.1 As Cruzadas e o enfraquecimento da nobreza

As Cruzadas, convocadas no Concílio de Clermont em 1095, haviam enfraquecido o poder dos senhores feudais que, para formar exércitos e marchar em direção à Terra Santa, muitas vezes empenhavam seus feudos e assumiam grandes dívidas.

Contudo, ao retornar das Cruzadas (quando retornavam vivos), geralmente regressavam aos trapos, fracos e muitas vezes endividados. Seus servos por vezes se mostravam rebeldes ou mesmo dispersos, muitos simplesmente tendo ido morar nas cidades muradas, os burgos.

Enfraquecidos, os nobres não possuíam força suficiente para se impor e recompor seu feudo. Os reis, que tinham seu poder fragmentado entre os senhores de feudos, cada vez mais se aliavam à burguesia para reconquistar o poder absoluto.

2.2 Os reis e a burguesia

Completamente diferentemente dos senhores feudais, a burguesia emergiu e se fortaleceu se aliando aos reis e gerando grande riqueza a partir do comércio, sendo as cidades os grandes centros comerciais.

Os reis, por sua vez, passaram a ter grande importância novamente, voltando a receber espetaculares fortunas (impostos), o que no sistema feudal era repartido com a nobreza.

Os burgueses, que eram comerciantes, artesãos e afins, desejavam a centralização do poder nas mãos do rei por diversos motivos, como a unificação das leis, criação de moedas comuns e a maior liberdade de comércio sem os entraves de entrepostos (“pedágios” pela passagem entre um e outro feudo).

Assim, cada vez mais forte e indivisível, a aliança entre reis e burguesia tomava fôlego para expandir o comércio, pois quanto mais os burgueses ganhavam, mais os cofres da coroa recebiam ouro e prata. Essa situação gerou uma nova prática: o mercantilismo.

2.3 Mercantilismo

O sistema feudal sucumbia, dando lugar ao mercantilismo (“embrião” do capitalismo) que visava a acumulação de metais preciosos, como ouro e prata, para se criar uma nação bem estruturada e poderosa. Para isso, era necessário ter produtos valiosos a oferecer e nada melhor que as especiarias do Oriente.

De acordo com a doutrina mercantilista, o grande acúmulo de metais preciosos traria prosperidade à nação. Balança comercial favorável (mais exportação e menos importação), pacto colonial e protecionismo são marcas desse sistema que vigorou até o fim do século XVIII.

3. PORTUGAL E ESPANHA

Em meio a esse turbulento cenário, duas nações vizinhas se mostravam mais preparadas que as demais, eram os países iberos, Portugal e Espanha. Estes dois países gozavam de algumas vantagens, como a precoce centralização política na figura do rei e uma boa experiência naval. Juntos, inclusive, assinaram o Tratado de Tordesilhas.

Diferentemente da maioria das nações europeias que ainda viviam o Feudalismo, a formação dos reinos centralizados da Península Ibérica possibilitou a grande expansão marítima no século XV.

caravelas de Colombo nas grandes navegações
Santa Maria, a capitânia de Cristóvão Colombo. Créditos: autoria desconhecida.

4. GRANDES NAVEGAÇÕES PORTUGUESAS

Portugal, um pequeno reino unificado ainda no século XII e consagrado com a vitória na Guerra de Reconquista, onde conseguiu — juntamente com a Espanha — expulsar os mouros (muçulmanos que viviam na Península Ibérica desde o século VII), mostrou-se igualmente obstinado na missão de abrir nova rota comercial com a Índia diante das dificuldades.

Seu governo centralizado, sua posição geográfica privilegiada e o potencial financeiro gerado pela burguesia fizeram o Reino de Portugal se empenhar com vigor nas navegações tanto na busca das tão desejadas especiarias quanto no desbravamento de novas terras.

4.1 Portugal entre a cruz e a espada

Portugal, que foi bem prejudicado pelo monopólio das cidades de Veneza e Gênova, também sofreu gravemente com a Peste Negra: estimativas sugerem que até metade da população de Portugal possa ter perecido diante da epidemia.

Essas dificuldades, entre outras, forçaram o pequeno e aparentemente frágil Reino de Portugal a buscar nova rota para o Oriente sob pena de sobrevivência, pois também era sabido que a sua vizinha, a Espanha, desejava seu território. Era preciso se tornar um reino forte e respeitado.

4.2 A experiência naval dos portugueses

Portugal havia aprendido bastante com os árabes durante as Cruzadas. Os árabes possuíam grande tecnologia e se mostravam muito a frente dos povos europeus nas mais diversas áreas do conhecimento. A navegação era uma delas (e das mais importantes).

Com os árabes, os portugueses aprenderam a criar cartas náuticas e a construir bons navios, destacando-se o orgulho da marinha portuguesa: a caravela. As caravelas representaram uma verdadeira inovação tecnológica. Muito mais flexíveis que às imensas naus, mostraram-se muito mais versáteis e manobráveis para a navegação costeira (seria importantíssima para contornar a África).

Também aprenderam a usar com habilidade instrumentos de navegação marítima como a bússola, balestilha, astrolábio e quadrante.

caravela vera cruz navegando
A Caravela Vera Cruz no rio Tejo, em Portugal, fazendo parte das comemorações de 150 Anos da Associação Naval de Lisboa navegando no rio Tejo, 2006. Créditos: Lopo Pizarro.

5. A ERA DOS DESCOBRIMENTOS

Portugal iniciou sua série de conquistas marítimas conquistando Ceuta no ano de 1415, contornando o Cabo das Tormentas em 1888, chegando à Calicute, na Índia, em 1498, culminando no descobrindo do Brasil em 1500.

5.1 Portugal contornando a África

A conquista de Ceuta, no atual Marrocos, representou a primeira grande conquista portuguesa que logo se multiplicou por todo continente e costa da África e que findaria com o descobrimento do Brasil e na chegada à Calicute, na Índia.

No decorrer do século XV, os portugueses, além do precioso acúmulo de experiência naval, obtiveram uma lucrativa série de conquistas territoriais, como a ilha da Madeira, as ilhas Canárias, o Cabo Verde e o Cabo do Padrão.

Em todas essas regiões feitorias foram fundadas para a comercialização de produtos locais, como pimenta, marfim, ferro, cobre e escravos. Também se extraiu ouro e outros materiais preciosos.

5.2 Bartolomeu Dias ultrapassa o Cabo das Tormentas

Em 1488, o navegador português Bartolomeu Dias conseguiu contornar o temido Cabo das Tormentas, onde os ventos fortes que sopravam do Oceano Índico dificultavam a passagem de embarcações.

Esse feito comprovou a ideia de que os oceanos Atlântico e Índico se tocavam, reforçando a tese de que era possível chegar à Índia contornando o continente africano, uma vez que os turcos haviam fechado as rotas tradicionais.

Em comemoração ao feito, Dom João II, rei de Portugal, renomeou o cabo, chamando-o de Cabo da Boa Esperança. Com cartas náuticas para se navegar, tornou-se fácil e rotineiro repetir a travessia.

litoral cabo da boa esperança
Bela vista do Cabo da Esperança, no sul da África. Créditos: autoria desconhecida.

5.3 Vasco da Gama chega à Índia

Dez anos após a vitória sobre o Cabo da Boa Esperança, em 1498, outro importante navegador português chamado Vasco da Gama alcançou o grande objetivo das Grandes Navegações, a Índia.

Vasco da Gama chegou à cidade de Calicute e o feito tão longamente sonhado e duramente conquistado premiou a coroa (e os burgueses) com o monopólio de especiarias da Índia.

O retorno das caravelas de Vasco da Gama ao Reino de Portugal trouxe lucros imensos, sendo imediatamente preparada uma nova e gigantesca frota para continuar o comércio com a Índia.

navegador vasco da gama um dos grandes nomes das grandes navegações
Vasco da Gama, de António Manuel da Fonseca.

5.4 Descobrimento do Brasil

Uma das grandes conquistas das navegações portuguesas foi, sem dúvida, o Descobrimento do Brasil, feito concretizado em 22 de abril de 1500. À época o feito não parece ter sido tão comemorado, pois o objetivo era voltar às Índias para a compra de especiarias.

A frota que chegou ao Brasil foi liderada por Pedro Alvares Cabral, era composta por 13 embarcações (11 naus e 2 caravelas), sendo uma das mais caras e completas expedições da época.

A descoberta do Brasil, muitas vezes dita como o fruto de um erro ou simples desvio de navegação, atualmente tem sido bastante criticada por historiadores, afirmando-se que Portugal já tinha conhecimento de novas terras a oeste do Oceano Atlântico.

Cabral chegando ao Brasil
Pedro Alvares Cabral desembarcando em Porto Seguro, na Bahia, de Oscar Pereira da Silva.

6. PORTUGAL EM GLÓRIA

Por fim, com tamanhas conquistas e experiência adquirida, o Reino de Portugal teria se tornado a maior potência econômica da Europa e logo daria início à colonização da Terra Brasilis.

Ainda, muito mais que o já desbravado e alcançado, Portugal não parou de navegar e capturou novas e longínquas regiões, sempre instalando feitorias e estabelecendo comércio com os nativos na busca por novas mercadorias.

7. INDICAÇÃO DE FILMES

Cristóvão Colombo – A Aventura do Descobrimento, de John Glen, 1992.

1492 – A Conquista do Paraíso, de Ridley Scott, 1992.

REFERÊNCIA(S):
BRAICK, Patrícia Ramos; MOTA, Myriam Becho. História: das cavernas ao terceiro milênio. 3ª ed. reform. e atual. São Paulo: Moderna, 2007.
BUENO, Eduardo. A viagem do descobrimento: um olhar sobre a expedição de Cabral. Rio de Janeiro: Estação Brasil, 2016.
VINCENTINO, Cláudio; DORIGO, Gianpaolo. História Geral e do Brasil. São Paulo: Scipione, 2002.
IMAGEM(NS):
Buscou-se informações para creditar a(s) imagem(ns), contudo, nada foi encontrado. Caso saiba, por gentileza, entrar em contato: contato@incrivelhistoria.com.br
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Eudes Bezerra

35 anos, pernambucano arretado, bacharel em Direito e graduando em História. Diligencia pesquisas especialmente sobre História Militar, Crime Organizado e Sistema Penitenciário. Gosta de ler, escrever, planejar e principalmente executar o que planeja. Na Internet, atua de despachante a patrão, enfatizando a criação de conteúdo.

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