
Enquanto as potências mundiais se digladiavam na Primeira Guerra Mundial (1914-1918), um inimigo silencioso e ainda mais devastador surgiu: a gripe espanhola. O planeta foi arrebatado por um terrível surto de gripe que mataria mais que a Grande Guerra. Com o término desta e o consequente retorno de milhões de pessoas envolvidas para seus países de origem, a disseminação foi rápida e implacável. Estima-se que a avassaladora influenza tenha matado entre 30 e 100 milhões de pessoas.
A epidemia ocorreu entre 1918-1919 e percorreu os mais longínquos e aparentemente “isolados” lugares da Terra. Europa, América, Ásia, África e Oceania, nenhum continente saiu ileso. Vilarejos esquimós no Círculo Polar Ártico foram varridos. “Acampamentos aborígenes de lugares remotos da Austrália e em assentamentos nas selvas africanas e sul-americanas. Matou milhões de pessoas na Índia. Apareceu em navios em alto-mar. Sob o nome de gripe espanhola, matou mais pessoas que a Primeira Guerra Mundial”. A gripe infectou cerca de 500 milhões de pessoas.
Os médicos encontravam dificuldade para diagnosticar os casos e a demanda ferozmente crescia. Embora a gripe em si tenha matado, a maioria das pessoas morreu de pneumonia severa desenvolvida a partir da gripe inicial.

O vírus atacou em duas ondas. Na primeira (primeira metade de 1918), teve efeitos “pequenos”, mas, na segunda (final de 1918), depois de sofrer uma mutação, sua agressividade tornou-se perturbadora e a velocidade com que se alastrou e os estragos causados se mostraram sem equivalentes na história – nunca a guerra, catástrofe ou epidemia tinha feito tantas vítimas em tão pouco tempo. A gripe espanhola foi implacável e universal.
Não se sabe ao certo quando ocorreu o primeiro caso da gripe e menos ainda o número aproximado de vítimas fatais. Embora se acredite que alguns dos primeiros casos tenham ocorrido na Espanha, muitos pesquisadores acreditam que a doença tenha surgido nos EUA e irradiado para a Europa através dos soldados estadunidenses, que desembarcavam em números cada vez maiores.
Em fevereiro de 1918, a cidade de San Sebastián, na Espanha, foi infestada pela influenza e, diferentemente dos países envolvidos na Primeira Guerra que censuraram notícias relativas, as notícias sobre a doença foram amplamente divulgadas. Os países beligerantes na guerra não permitiram a divulgação da notícia tentando evitar o caos nas fileiras dos exércitos. Também há o fato de os governos sempre atribuírem o nome de doenças a outros Estados: “a moda de uns países atribuírem a outros a origem de doenças não é nova; quando a sífilis apareceu, na Idade Média, os franceses chamavam-na de ‘mal napolitano’, e os italianos de ‘mal francês’.”
Antes do desembarque do vírus no Brasil, sua marinha, que se encontrava empregada na guerra, já contabilizava altíssimo número de mortes. A gripe teria infectado 90% dos 1.500 tripulantes causando a morte de 125 marinheiros.
No Brasil, acredita-se que a o vírus tenha chegado por ocasião do navio inglês Demerara, que havia atracado em Recife e em Salvador ainda em 1918. O grande contingente migratório que o Brasil recebia também é apontado como grande causa do alastramento da gripe. As causas que teriam favorecido o surto epidêmico ainda são confusas e parecem estar longe de serem apontadas de forma definitiva.