Guerras Assalto a Lindisfarne, 793: o início da Era Viking No ano de 793, os donos do apocalipse mais brutal da história desembarcaram em Lindisfarne e a golpes de machado desencadearam a avassaladora Era Viking. Guerras • Idade Média • Períodos • Religião Escrito por Eudes Bezerra Leitura: 4 minutos O aparentemente íntegro mosteiro de Lindisfarne (encontra-se em ruínas atualmente). Pela dificuldade em encontrar registro gráfico, mesmo que pintura clássica, apenas a atual fotografia acompanha a matéria – o acontecido no monte, além de ainda misterioso, fora tão aterrador que de modo algum foi reproduzido pelos bretões. No final do século VIII, no nordeste da Inglaterra, encontrava-se o pacato e importante mosteiro de Lindisfarne. Por sua localização remota e pela cristianização que percorria a Europa, floria o sentimento de segurança contra invasões pagãs. Todavia, sentimento nunca foi blindado e acabou sendo destroçado, quando os donos do apocalipse mais “heavy metal” da história — o Ragnarök! — desembarcaram de seus navios-dragão visando saques. A crença cristã ou regras terrenas não poderiam contê-los e pelo aço escandinavo foi desencadeada a avassaladora Era Viking. Em 08 de junho de 793, não muitos vikings (“piratas”), talvez, menos de sessenta, saltaram de seus drakkar’s (navios-dragão) para saquear o templo costeiro de Lindisfarne. A população da ilha se resumia a pastores, agricultores e religiosos e seus objetos de valor, basicamente, referentes aos ritos religiosos. Lindisfarne abrigava um dos mais sagrados templos da Bretanha e a paz reinava no local. Embora invasões pudessem ocorrer, era pouco provável que se precipitasse sobre a remota ilha. Somente maior que a suposta segurança, era a de que nenhum invasor profanaria o templo religioso nem seus sacerdotes. Entretanto, nenhum axioma cristão seria válido, ou mesmo significativo, para os distintos invasores daquele 8 de junho. Diferentemente dos cristãos, o “Paraíso” Viking só poderia ser conquistado (e não “reconhecido”) através de atos de coragem: essencialmente, seu “santuário” seria o campo de batalha e suas preces o recíproco sangue jorrado – somente a pura bravura abriria as portas do Valhalla (“Salão dos Mortos”), cuja destinação final seria marchar ao lado dos Deuses contra os gigantes no apocalítico Ragnarök (o apocalipse Viking). A repentina e devastadora devassa realizada em Lindisfarne prenunciou o terror que aplacaria a Europa abordo dos domados e longos “dragões” vikings (os drakkar’s). Embora já fosse registrado algum contato, pouco se sabia a respeito daqueles que foram comparados às feras. Os invasores assassinaram, saquearam e desapareceram com a mesma velocidade que surgiram, de modo que não se tem registro detalhado do ocorrido. Segundo fonte, depois do transcorrido, teriam dito que, na verdade, tratava-se de um castigo de Deus gerado pela fornicação (adultério e incesto) e ganância. Alcuíno, um estudioso anglo-saxão da corte do grande rei Carlos Magno, teria escrito: Com quase 350 anos em que vivemos nesta terra linda, nunca tal terror como o de agora apareceu na Bretanha, que sofre com uma raça pagã. Nem pensado que tal incursão do mar poderia ser feita. Eis a igreja de St. Cuthbert, salpicada com o sangue dos sacerdotes de Deus, despojados de todos os seus ornamentos. Os pagãos derramaram o sangue dos santos ao redor do altar. Pisaram sobre os corpos no templo de Deus como esterco nas ruas.” Sem influência/contato greco-romano, os nórdicos (“homens do norte”) não possuíam respeito ao direito ou à vida nas cidades, menos ainda pela crença em um deus cristão. Entre os séculos VIII e XI, o tsunami nórdico solapou a Europa com saques e batalhas selvagens. Com uma cultura singular, os Vikings (noruegueses, suecos e dinamarqueses) mostraram a frágil estabilidade europeia e que o feudalismo não foi uniforme. A odisseia nórdica durou, oficialmente, até o ano de 1066. Neste mesmo período também foi selado o fim da dinastia anglo-saxônica na Inglaterra: em 1066, Harald Hardrada, rei viking da Noruega, foi morto na batalha de Stamford Bridge lutando contra o recém-empossado Haroldo II (rei da “Inglaterra”). Três semanas após Stamford Bridge, foi a vez de Haroldo II encontrar a morte: tentando defender o “surrupiado” trono inglês na batalha de Hastings, foi morto pelas tropas de Guilherme, o Conquistador. Guilherme e seus soldados (normandos), embora convertidos ao Cristianismo, eram descendentes de Vikings que colonizaram a Normandia (França). Apesar da má-fama gerada pela ferocidade dos seus ataques, os Vikings foram extremamente significativos para o mundo, sobretudo para Europa, e possuem diversas curiosidades pouco desconhecidas. Constituíram uma civilização singular, sofisticada e complexa, que gravou profundas marcas no Ocidente: descobriram a Islândia, Groenlândia e América (esta, 500 anos antes de Colombo) e criaram longínquas rotas de comércio (norte da África, Arábia e China). Foram mestres na forja e indústria naval, tendo se aventurado por rios, mares e pelo Oceano Atlântico. Em Constantinopla, constituíram a Guarda Varegue do imperador bizantino e deram o melhor exemplo de força mercenária à época. Para a guerra, forneceram, possivelmente, o mais feroz e intrigante guerreiro que o mundo já viu: o temido berserker. Agradecimento especial ao Hednir Clan pelo valioso auxílio e disposição prestados. REFERÊNCIAS: BRONDSTED, Johannes. Os Vikings: História de Uma Fascinante Civilização. trad. Mercedes Frigolla e Claudete Agua de Melo. Hemus, 2004. GILBERT, Adrian. Enciclopédia das Guerras: Conflitos Mundiais Através do Tempo. trad. Roger dos Santos. São Paulo: M. Books, 2005. NEWARK, Tim. História Ilustrada da Guerra. trad. Carlos Matos. São Paulo: Publifolha, 2011. PORTARI, Douglas. Harold II X Harald Hardrada. Acesso em: 5 jun. 2013. RITCHIE, Anna. Terror from the sea. Acesso em: 11 maio 2013. RITCHIE, Anna. Lindisfarne sacked. Acesso em: 11 maio 2013. SOMMA, Isabelle. A Fúria Viking. Revista Aventuras na História. São Paulo: Abril, n. 47, p. 38-43, jul. 2007. VILAR, Leandro. A Saga Viking. Acesso em: 11 maio 2013. Eudes Bezerra35 anos, pernambucano arretado, bacharel em Direito e graduando em História. Diligencia pesquisas especialmente sobre História Militar, Crime Organizado e Sistema Penitenciário. Gosta de ler, escrever, planejar e principalmente executar o que planeja. Na Internet, atua de despachante a patrão, enfatizando a criação de conteúdo. Tags usadas: período medieval 2 responses to “Assalto a Lindisfarne, 793: o início da Era Viking” NA VERDADE A DATA FOI 03 DE AGOSTO DE 793 Responder Há bastante divergência sobre as datas na literatura. As minhas fontes, em sua maioria, indicam a data que constam na matéria. Fraterno abraço, Eudes Bezerra. Responder Deixe um comentário Cancelar respostaO seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *Comentário * Nome E-mail Veja tambémBombardeio com as mãos na Grande GuerraEstandarte do Espírito MongolSelo da câmara de TutancâmonO Príncipe Negro vence em Poitiers
Há bastante divergência sobre as datas na literatura. As minhas fontes, em sua maioria, indicam a data que constam na matéria. Fraterno abraço, Eudes Bezerra. Responder