
Os Visigodos se destacaram durante as chamadas Invasões Bárbaras com as suas vitórias decisivas sobre Roma e hunos, mas também pelo Saque de Roma de 410, o qual escancarou o declínio dos mais céticos.
O saque de Roma por Alarico foi o clímax de uma carreira que havia começado 15 anos antes nos Balcãs, onde um grande número de godos fora assentado em 382 por Teodósio.
Esses godos, por sua vez, eram em sua maioria veteranos da batalha de Adrianópolis, a pior derrota da história do Império Romano, na qual a força gótica aniquilou a maior parte do exército oriental e matou o imperador Valente (KULIKOWSKI, 2008, p. 26-27)
A história dos Visigodos, como parte dos Godos, é um tanto complexa para uma cronologia tão resumida como esta, contudo, espero te ajudar.
Boa leitura!
SUMÁRIO DA HISTÓRIA DOS VISIGODOS
1. Origem dos Godos: visigodos e ostrogodos
2. Primeiros contatos entre godos e romanos
3. Visigodos e Ostrogodos
4. Os Hunos atacam os Ostrogodos!
5. Batalha de Adrianópolis, a total tragédia romana
6. Visigodos como destaque nas Migrações e Invasões Bárbaras
7. Visigodos como federados dentro do Império Romano
8. Alarico I, rei dos Visigodos
9. Saque de Roma de 410
⠀⠀9.1 Antecedentes ao saque de Roma de 410
⠀⠀9.2 Saque Visigodo de Roma de 410
10. Visigodos na Gália e Hispânia
11. Batalha dos Campos Catalúnicos: a última união entre Visigodos e Romanos
12. Reino Visigótico
Referências
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1. ORIGEM DOS GODOS: VISIGODOS E OSTROGODOS
Antes de se falar em Visigodos, que era uma divisão dos godos, faz-se importante tentar tecer a origem dos próprios godos, sendo estes um dos povos de origem germânica.
A localização exata de onde os godos iniciaram as suas migrações ainda hoje se mostra incerta, apesar de atualmente se apontar sua origem entre o norte da Alemanha e sul da Suécia, existindo a Dinamarca entre aqueles países.
Por sua tradição oral, há poucos vestígios que apontem a sua origem, sendo a arqueologia muito importante nessa etapa.
Contudo, com os registros romanos dos séculos I e II, como os de Tácito e Plínio, o Velho, os godos passam a ter uma história escrita, ainda que por estrangeiros e de forma indireta, o que é sempre perigoso do ponto de vista historiográfico.
Os godos acabariam por se fragmentar em ao menos quatro partes, sendo as duas principais conhecidas como Visigodos e Ostrogodos.
As menos numerosas terceira e quarta partes dos godos ― Tervíngios e Grutungos ―, sem muita informação certa, teria sobrevivido à sombra dos grandes acontecimentos que ocorreram ao longo dos séculos, acabando por se fundir com outros povos.
Durante o século III, os godos migraram para áreas mais próximas do Império Romano. Essa migração ocasionou uma avalanche de outros povos germânicos menores sobre as fronteiras do Império Romano.

2. PRIMEIROS CONTATOS ENTRE GODOS E ROMANOS
Os primeiros contatos entre godos e romanos se deu ainda no início do século III, não demorando muito para que conflitos estourassem.
Durante essa época, em que Visigodos e Ostrogodos ainda não tinham se dividido, ocorreu a Batalha de Abrito em 251 na qual o imperador Décio foi morto em combate (algo inédito), tendo os godos conquistado uma grande vitória.
Impressionados (e receosos), os romanos buscaram rapidamente um acordo com godos no qual estes forneceriam tropas ao império em troca de tributos.
Dessa forma, os godos entraram para a federação romana, na qual, em troca dos benefícios dos soldados romanos, teriam que proteger algumas das fronteiras romanas, ficando estabelecidos inicialmente na proteção da Dácia, atual Romênia.
Entretanto, o acordo não duraria muito. Os godos, que possuíam grandes divisões internas, acabariam por se dividir e complicar bastante a relação com os romanos.

3. VISIGODOS E OSTROGODOS
Os godos, diante de impasses e conflitos internos e externos, teriam se dividido definitivamente por volta do ano de 375, passando a ser conhecidos basicamente como Visigodos e Ostrogodos, ambos independentes.
Há diversas teorias acerca do significado das palavras Visigodos e Ostrogodos, a mais tradicional recai sobre os Visigodos serem os Godos do Oeste/Ocidente e Ostrogodos como Godos do Leste/Oriente.
Os visigodos, temendo o implacável avanço dos cavaleiros hunos, continuaram suas migrações até chegar às fronteiras do Império Romano, nos Balcãs, onde se estabeleceram novamente como federados dos romanos.
Os ostrogodos, por sua vez, tentaram resistir à invasão vinda das Estepes Asiáticas e acabaram por entrar para a federação dos hunos, que iria assolar grande parte da Europa continental.
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4. OS HUNOS ATACAM OS OSTROGODOS!
A década de 370 marca a submissão dos ostrogodos aos hunos, que já haviam arrasado e subjugado os valentes alanos anteriormente.
O ataque à parte gótica dos ostrogodos acabou por desencadear a total separação e um imparável avanço de diversos povos germânicos sobre todas as fronteiras romanas.
Os próprios visigodos posteriormente se dividiram mais uma vez, com uma pequena parte entrando para a federação dos hunos, como a maioria dos ostrogodos já havia feito.
Contudo, a maioria dos visigodos permaneceu sob a federação dos romanos, embora descontente com o visível desprezo do Império Romano.
E não demoraria para que outra revolta estourasse e desencadeasse conflitos que se mostrariam decisivos, como na Batalha de Adrianópolis em 378.

5. BATALHA DE ADRIANÓPOLIS, A TOTAL TRAGÉDIA ROMANA
Na região da província romana Trácia, atual Turquia, cerca de 20 mil legionários romanos tombaram em combate no dia 9 de agosto de 378.
Mesmo em maior número (cerca do dobro), os romanos foram liquidados de uma forma tão arrasadora que a batalha é apontada como um dos grandes momentos que marcaram o declínio do Império Romano.
As forças visigodas contavam com soldados de diversos grupos, incluindo alguns hunos, alanos orientais e numerosos ostrogodos, de forma que a batalha é conhecida como vitória dos Godos e não apenas dos Visigodos.
O atordoante ataque da cavalaria ostrogoda aos legionários romanos é a etapa distintiva desta batalha, de modo a influenciar toda a composição militar posterior romana que adotaria a cavalaria como força essencial.
Nesta batalha, além da morte de muitos dos melhores soldados de Roma, também vieram a óbito inúmeras personalidades romanas, como tribunos, generais e o próprio imperador Valente.

6. VISIGODOS COMO DESTAQUE NAS MIGRAÇÕES E INVASÕES BÁRBARAS
Os Visigodos se destacaram durante as chamadas Migrações ou Invasões Bárbaras, ocorridas no período de decadência do Império Romano.
Ora como federados ora como adversários, os visigodos foram guiados por líderes capazes, como Alarico I, Ataulfo e Teodorico I, que deram rumo e sobrevivência através de diversas expedições, mesmo com a parcela de derrotas.
Outra característica que chama atenção dos visigodos, recai, sem dúvida, sobre a sua longa “marcha” que literalmente margeou todo o litoral sul do continente europeu. Isto é, do Império Romano.
Depois de um enervante [cansativo] nomadismo que levou o povo de Alarico desde os muros de Constantinopla até, através de mil perícias, à Península Ibérica, encontraremos os visigodos solidamente fixados em outrora florescentes províncias romanas”. (GIORDANI, 1993, p. 73, acréscimo nosso)

7. VISIGODOS COMO FEDERADOS DENTRO DO IMPÉRIO ROMANO
Após a catastrófica Batalha de Adrianópolis em 378, os visigodos novamente fizeram parte da federação romana, sendo desta vez dentro do império, o que era inédito.
Durante o governo de Teodósio, o Grande, entre os anos de 378 e 395, houve boa calmaria nos ânimos entre visigodos e romanos, ocorrendo um razoável comércio.
Mas, da mesma forma que antes, revoltas e conflitos eclodiram, principalmente com a chegada de Alarico I como reik (rei) dos visigodos.
Com a morte de Teodósio, o Império Romano foi oficialmente dividido, o que complicaria ainda mais a situação romana com uma sucessão de imperadores medíocres e Roma em frangalhos, principalmente na porção ocidental.

8. ALARICO I, REI DOS VISIGODOS
Alarico era um dos generais das tropas auxiliares do imperador Teodósio que, embora tenha servido fielmente a este, enxergou na morte do imperador a possibilidade da criação de um verdadeiro reino visigodo.
Alarico estaria cansado do destrato dos romanos, assim como das missões intransigentes enviadas por romana nas quais mais se parecia suicídio premeditado. Também havia sido traído por promessas romanas.
Tudo isso fez Alarico mudar de lado, prometendo uma vida melhor aos visigodos do alto de sua grande estatura, voz grave e discurso sereno.
Diante da oportunidade, Alarico liderou os visigodos sobre a Península Itálica, onde na terceira tentativa conseguiu saquear a cidade de Roma.
Durante o caminho, os visigodos demonstraram um pouco das provas dadas em Abrito e Adrianópolis, arrasando diversos centros urbanos romanos de modo quase imparável.

9. SAQUE DE ROMA DE 410
Anteriormente ao saque de 410, os visigodos haviam sido barrados por um antigo aliado de Alarico, Estilicão, um general romano de origem vândala que trabalhou com o líder visigodo sob a liderança de Teodósio I.
9.1 Antecedentes ao saque de Roma de 410
Estilicão havia conseguido deter a primeira investida dos visigodos em abril de 402 e realizado manobras inteligentes para frear o avanço de Alarico.
Contudo, Estilicão morreu assassinado em Roma em 408, enquanto os visigodos novamente marchavam para a segunda tentativa de saque de Roma.
Embora não tenham saqueado Roma dessa vez, os visigodos receberam tributos altíssimos de uma cidade que já não mais possuía o esplendor do passado.
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9.2 Saque Visigodo de Roma de 410
Em 24 de agosto de 410, com a ajuda de cúmplices, espiões ou mesmo escravos arretados dentro das muralhas romanas, Alarico e o seu exército adentraram a Cidade Eterna, oferecendo três dias de saques aos visigodos que agiram com tremenda brutalidade.
Desde o século IV a.C. (tomada de Roma pelos gauleses), a cidade não vira exército inimigo no recinto de suas muralhas.
Ao som de trombetas e com cantos de guerra os bárbaros entraram em Roma.
Por três dias a soldadesca saqueou a cidade poupando apenas santuários [Alarico era cristão ariano – o Arianismo era um ramo da Igreja Católica que, apesar de ter sido considerada herética, havia convertido vários germânicos].
A queda de Roma provocou repercussão em todo o Império”. (GIORDANI, 1993, p. 69, acréscimo e grifo nosso)
O saque dos visigodos à cidade de Roma não apenas mostrou que a cidade estava aberta a novas incursões de outros povos, como acentuou a crise do Império Romano do Ocidente.
Os visigodos ainda deixaram um rastro de na península, tendo cidades como Cápua e Nola destruídas.

10. VISIGODOS NA GÁLIA E HISPÂNIA
Posteriormente, já sob comando do cunhado e amigo de confiança de Alarico, Ataulfo, os visigodos invadiram a Gália romana e posteriormente a Hispânia, causando mais destruição.
Os eventos na Gália (“França”) e Hispânia (“Espanha e Portugal”) são determinantes para a história dos visigodos, que acabariam por se fixar solidamente por séculos em partes destas regiões.
Era o sonho e a promessa de Alarico (e de todo o povo visigodo) se tornando realidade.
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11. BATALHA DOS CAMPOS CATALÚNICOS: A ÚLTIMA UNIÃO ENTRE VISIGODOS E ROMANOS
A última grande aliança entre visigodos e romanos contra a federação huna ocorreu por ocasião da arrasadora batalha nos campos da atual França, onde a aliança formada por Roma, sob o comando de Flávio Aécio, derrotou a federação huna.
Nesta batalha, contudo, os visigodos lamentariam a morte do seu rei, Teodorico I, assim como proclamariam o novo rei ainda no campo de batalha: Turismundo, filho de Teodorico I.

12. REINO VISIGÓTICO
Os fortes e bem liderados visigodos migraram do Oeste Europeu, saquearam Roma em 410 e margearam todo o mar Mediterrâneo até chegar e se estabelecer na Península Ibérica e parte da França.
Por lá ficariam até a chegada devastadora dos mulçumanos liderados pelo ardiloso e hábil bérbere Táriq em 711.
Os sobreviventes das ruínas visigóticas se refugiaram ao norte, onde fincaram um firme bastião de resistência nas montanhas, sendo liderados inicialmente por Pelágio.
Justamente através desse reduto de resistência ao norte ― Reino das Astúrias ―, que seria lançada a longa Guerra de Reconquista, que acabaria por expulsar os mouros (mulçumanos) da península séculos depois, em 1492.

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REFERÊNCIA(S):
BRAICK, Patrícia Ramos; MOTA, Myriam Becho. História: das cavernas ao terceiro milênio. 3ª ed. reform. e atual. São Paulo: Moderna, 2007.
GILBERT, Adrian. Enciclopédia das Guerras: Conflitos Mundiais Através do Tempo. trad. Roger dos Santos. São Paulo: M. Books, 2005.
GIORDANI, Mário Curtis. História dos Reinos Bárbaros I. Petrópolis: Vozes, 1993.
GIORDANI, Mário Curtis. História dos Reinos Bárbaros II. Petrópolis: Vozes, 1993.
GUARINELLO, Noberto Luiz. História Antiga. 1. ed., 4ª reimp. São Paulo: Contexto, 2019.
KULIKOWSKI, Michael. Guerras Góticas de Roma. trad. Glauco Micsik Roberti. São Paulo Madras, 2008.
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