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Biografias

Alexandre, o Grande, e a conquista do mundo

Conhece a biografia de Alexandre, o Grande? Alexandre é o maior conquistador da Idade Antiga e influenciador de nomes como Júlio César, Napoleão e Hitler!


Alexandre o Grande com seu exército
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Escrito por Eudes Bezerra
Leitura: 20 minutos
Alexandre o Grande com seu exército
Alexandre, o Grande, a frente de suas famosas falanges macedônicas. Créditos: autoria desconhecida.

O maior conquistador da Idade Antiga e influenciador de nomes como Júlio César, Napoleão Bonaparte e Adolf Hitler, Alexandre, o Grande, guarda para si a reputação de imbatível em campo de batalha e criador do primeiro grande intercâmbio mundial, o Período Helenístico.

General aos 16 anos, rei aos 20, conquistador do império mais poderoso do mundo aos 26, morto aos 33 — Alexandre da Macedônia (conhecido como Iskander nas terras muçulmanas) se tornou um ícone de liderança nas lendas tanto do Oriente como do Ocidente” — William Weir (2009, p. 36)

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SUMÁRIO

1 Origem, infância e primeiros anos
2 Educação de Alexandre, o Grande
⠀⠀2.1 Filipe II ensina guerra e política a Alexandre
⠀⠀2.2 Aristóteles ensina filosofia e retórica a Alexandre
3 Exílio de Alexandre
4 Ascensão do Império da Macedônia
⠀⠀4.1 Decadência grega
⠀⠀4.2 Filipe II desejava (e precisava) do apoio grego
⠀⠀4.3 Batalha de Queroneia (338 a.C.)
5 Filipe II assassinado e Alexandre III rei da Macedônia
⠀⠀5.1 Andropodismo de Tebas
6 Exército de Alexandre, o Grande
7 Período Helenístico
8 Alexandre conquista a Pérsia
⠀⠀8.1 Batalha de Grânico
⠀⠀8.2 Fechando portos e libertando cidades no mar Egeu
⠀⠀8.3 Batalha de Isso
⠀⠀8.4 Cerco de Tiro
⠀⠀8.5 Alexandre faraó do Egito
⠀⠀8.6 Alexandre e Alexandria no Egito
⠀⠀8.7 Batalha de Gaugamela
9 Revoltas no exército
10Campanha na Índia de Alexandre
⠀⠀10.1 Batalha de Hidaspes
⠀⠀10.2 Cultura, cobras, doenças e clima
11 Últimos anos de Alexandre, o Grande
12 Morte de Alexandre, o Grande
13 Pós-morte de Alexandre
Referências

1 ORIGEM, INFÂNCIA E PRIMEIROS ANOS

Nascido como Alexandre III na cidade de Pela em 356 a.C., era filho do astuto rei da Macedônia, Filipe II, e de Olímpia, uma princesa grega de Epiro. Sua data de nascimento exata não é sabida, mas se acredita que seja dia 20 de julho.

Umas das lendas a respeito do nascimento de Alexandre diz que Olímpia teria sido atingida por um raio na noite da consumação do casamento com Filipe, o que faria Alexandre ter origem divina por ser filho do deus do trovão, Zeus.

Outra curiosidade diz respeito a Filipe que, durante um sonho, teria se visto segurando o útero de Olímpia no qual o rei da Macedônia encontrou um leão gravado. Este fato é o gerador da suposta má-fama de Olímpia que estaria grávida antes do casamento. Contudo, também é mito (ao menos a parte de Filipe segurando o útero de Olímpia).

Importante dizer desde agora que o maior conquistador do mundo antigo nasceu como Alexandre III, mas se eternizou por méritos próprios como Alexandre Magno ou Alexandre, o Grande. Todos são termos “sinônimos” para a mesma pessoa.

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2 EDUCAÇÃO DE ALEXANDRE, O GRANDE

Alexandre teve o privilégio de ser aluno de dois grandes nomes de sua época, um era o seu próprio pai, Filipe, e o outro era ninguém menos que um dos nomes mais influentes da história, o filósofo Aristóteles.

Filipe sabia do grande valor da educação e que se quisesse construir algo realmente grandioso (leia-se algo como um império duradouro), deveria zelar pela educação dos seus herdeiros, o que tinha justamente Alexandre no centro.

2.1 FILIPE II ENSINA GUERRA E POLÍTICA A ALEXANDRE

O rei Filipe era um visionário e exímio observador. Observou bem o movimento do mundo ao seu redor para compor um poderoso e versátil exército que Alexandre comandaria brilhantemente.

Duas grandes inspirações para a criação do moderno exército de Filipe II teriam sido as falanges gregas (vistas por muitos como o melhor exemplo de infantaria da época) e um grupo de mercenários que anos antes havia feito o maior estrago no império persa.

As falanges gregas eram notoriamente populares, principalmente depois das Guerras Médicas, quando os gregos expulsaram os persas após batalhas lendárias, como as de Maratona (490 a.C.) e Termópilas (480 a.C.).

Os mercenários, eternizados no livro Anábase de Xenofonte, ficaram conhecidos em A Retirada dos 10 Mil, que conta a extraordinária história do retorno de 10 mil mercenários gregos que acabaram presos dentro do maior império da época, o da Pérsia, após o seu contratante ser morto.

batalha das termópilas
A grandiosa Batalha das Termópilas onde poucos sobrepujaram muitos, quando um punhado de gregos barrou o avanço do maior exército do mundo por três dias. Créditos: autoria desconhecida.

2.2 ARISTÓTELES ENSINA FILOSOFIA E RETÓRICA A ALEXANDRE

Filipe II convidou o já renomado filósofo grego Aristóteles para educar Alexandre aos 13 anos de idade. Aristóteles, entretanto, recebeu com reservas o pedido do rei que anos antes havia destruído a sua cidade natal, Estagira.

Aristóteles teria exigido a reconstrução da sua cidade natal e que todos os seus antigos cidadãos, que viraram escravos ou foram banidos, retornassem em liberdade. Felipe II prontamente aceitou a exigência e reconstruiu a cidade de Estagira. Aristóteles ficou satisfeito e prometeu dar a melhor educação a Alexandre.

Durante esses ensinamentos Alexandre aprendeu filosofia, retórica, medicina, geografia, artes e teria tido um profundo contato com a Ilíada, principalmente com as histórias do grande herói grego da Guerra de Troia, Aquiles. Olímpia, mãe de Alexandre, inclusive, também era uma grande e poderosa influenciadora nessa questão.

Essas influências teriam sido tão poderosas que Alexandre passou a dizer que era descendente do próprio semideus Aquiles.

Aristóteles ensinando Alexandre, o Grande
Créditos: Aristóteles ensinando Alexandre, de Jean Leon Gerome Ferris, 1895.

3 EXÍLIO DE ALEXANDRE

Alexandre e Filipe tiveram graves desentendimentos ao longo dos tempos, sem, entretanto, algo indicar que o rei algum dia quis deserdar o jovem príncipe da Macedônia que tanto se empenhava pra educar.

Em um dos maiores desentendimentos, talvez o maior, Alexandre fugiu da Macedônia com a sua mãe por recear represálias por parte dos generais do seu pai. Filipe II possuía várias esposas e havia se casado novamente com Cleópatra Eurídice, a jovem sobrinha de um importante nobre e general chamado Átalo.

Durante a bebedeira do casamento, Átalo, embriagado, teria exaltado que Filipe tivesse um herdeiro puramente macedônico, já que Olímpia era grega (havia nascido na cidade de Epiro). Esse fato teria revoltado Alexandre que por vezes era ridicularizado devido à origem grega de sua mãe.

Alexandre teria arremessado sua caneca de bebida na cabeça de Átalo, sendo repreendido por Filipe II, que também se encontrava embriagado (embriaguez, briga e às vezes morte na corte da Macedônia pareciam ser bem comuns).

De acordo com Plutarco, Filipe, para repreender Alexandre, teria tentado ir até perto do jovem, mas tropeçou e caiu bêbado no chão, no que prontamente Alexandre teria proferido uma de suas ofensas mais famosas:

Vejam! Este é o homem que se prepara para sair da Europa e invadir a Ásia, mas que não consegue passar de um assento para o outro” — Plutarco.

Filipe teria ficado furioso e ambos passaram meses afastados até Alexandre voltar para casa depois intermediação de Demarato de Coríntio, um importante convidado da corte de Filipe.

4 ASCENSÃO DO IMPÉRIO DA MACEDÔNIA

À época em que a Macedônia se preparava para lançar sua campanha de conquistas e Alexandre ainda nem existia, a Grécia já vivia um período de profunda decadência e isso contrariava os planos de Filipe II.

Apesar dos gregos considerarem os macedônicos quase bárbaros e existir uma alguma rivalidade, Filipe desejava reunir ambos os lados sob a mesma bandeira (a sua).

4.1 Decadência grega

Após a expulsão dos persas no século anterior, os gregos começaram a brigar entre si pela liderança das pólis, o que tempos depois favoreceria a conquista da Grécia pela Macedônia.

Após as Guerras Greco-Pérsicas (de aproximadamente 500 a.C. a 449 a.C.), as pólis gregas entraram “guerra civil” onde Atenas e Esparta, cada uma com um aglomerado de cidades-estados aliadas, enfrentaram-se por quase 30 anos e após isso o poderio grego nunca mais seria o mesmo.

4.2 Filipe II desejava (e precisava) do apoio grego

Filipe II, da Macedônia, tinha excelentes técnicas militares e objetivava submeter os persas ao seu domínio, mas necessitava de muitos soldados, marinha, suprimentos e estabilidade na sua terra natal para invadir o maior império da época.

O apoio dos gregos à Macedônia era importante, mesmo com as pólis se encontrando em decadência e marasmo, quando não em guerra entre si. A pacificação da Grécia era fundamental para a invasão da Pérsia.

Uma Grécia unida representava união de interesses e até vingança contra os persas que em uma de suas invasões chegaram a atear fogo na cidade de Atenas. Porém, se desunida, a Grécia seria presa fácil para novas invasões do império inimigo.

4.3 Batalha de Queroneia (338 a.C.)

Como de costume, os gregos ficaram divididos entre apoiar e não apoiar Filipe II em meio a um mar de intrigas, conspirações e reviravoltas. Os que não apoiaram foram submetidos pela força do moderno exército macedônico.

Um dos mais importantes e decisivos combates aconteceu na vitória da Macedônia sobre atenienses e tebanos na Batalha de Queroneia, onde Alexandre, com apenas 16 anos de idade, comandou com bravura o flanco esquerdo do exército do pai.

Alexandre, comandando a Cavalaria, brilhou ao destruir completamente a elite de hoplitas de Tebas, a Banda Sagrada Tebana.

Com a vitória em Queroneia, além de mostrar a clara superioridade do exército macedônico, estava selado o apoio da maioria das cidades gregas a Filipe (só Esparta não compôs a aliança).

5 FILIPE II ASSASSINADO E ALEXANDRE III REI DA MACEDÔNIA

Em 336 a.C. o rei Felipe II foi assassinado por um dos seus guarda-costas. Não se sabe quem teria sido o mandante ou mesmo se o assassino tinha seus próprios motivos, visto que o traidor foi rapidamente perseguido e morto (talvez como queima de arquivo).

O assassinato do pai despertou uma grande revolta em Alexandre que ordenou uma devassa e a execução de possíveis traidores, incluindo muitos familiares. Opositores ao seu reinado, como o general Átalo, foram os primeiros a serem executados.

Alexandre, agora com apenas 20 anos de idade, era rei do emergente Império da Macedônia.

5.1 Andropodismo de Tebas

Após a morte de Filipe, muito se duvidou da capacidade de Alexandre em liderar, ainda que fosse carismático e já tenha se mostrado em diversas batalhas um grande comandante.

A pólis de Tebas, que já se opunha ao domínio da Macedônia, rebelou-se e foi severamente punida. Alexandre, após vencer mais uma vez os tebanos, puniu de modo brutal a cidade que deixou de existir:

Decretou-se uma variedade grega de represália, conhecida como antropodismos, pela qual os edifícios deviam ser trazidos abaixo, os habitantes escravizados e o território dividido entre os vitoriosos. As demais cidades-Estados ficaram estarrecidas com a severidade da sentença” (GILBERT, 2005, p. 21)

território da Macedônia na morte de Filipe II
Mapa da emergente Macedônia à época do assassinato do rei Filipe II. Créditos: Marsyas / Wiki Commons.

6 EXÉRCITO DE ALEXANDRE, O GRANDE

Um dos grandes trunfos da arrasadora campanha militar de Alexandre, o Grande, era o seu fabuloso exército que ganhou fama pelas notórias e avassaladoras falanges macedônicas, um poderosíssimo corpo de infantaria capaz de rechaçar qualquer outra infantaria da época e que nunca teria perdido uma batalha sob a liderança de Alexandre.

O rei Filipe II havia construído uma máquina militar amplamente diversificada e capaz das mais diversas empreitadas. Aprimorou as tradicionais falanges gregas e incluiu uma porção de inovações, como artilharia de campo e instrumentos de cerco.

Filipe também se dedicou à criação de corpos de engenheiros para diversas situações e uma atenção especial às cavalarias, destacando-se a chamada de Companheiros (hetairoi), por acompanharem o rei nas batalhas. A cavalaria, por vezes, representou a chave da vitória quando lideradas pessoalmente por Alexandre Magno.

De um modo geral, havia diversos tipos de infantaria, cavalaria e armas que se completavam na busca por um exército coeso e poderoso onde as fraquezas de uma unidade eram protegidas pela qualidade de outras.

Alexandre o grande liderando as falanges
Alexandre à frente da poderosa falange macedônica. Como a espinha dorsal do maior conquistador da Antiguidade, Alexandre, o Grande, lutavam e venciam as falanges habilmente lideradas pelo pupilo de Aristóteles. Créditos: autoria desconhecida.

7 PERÍODO HELENÍSTICO

Artistas, engenheiros, pintores, médicos, cientistas e tantos outros especialistas (e tipos de pessoas) acompanhavam o exército da Macedônia. Alexandre desejava reduzir, ou mesmo acabar, com as tantas barreiras existentes entre os povos do Ocidente e Oriente.

Alexandre fundou bibliotecas e cidades (as famosas Alexandrias), patrocinou (e também forçou em alguns casos) casamentos entre seus soldados e povos do oriente, articulou alianças governamentais e estimulou o comércio.

Esse forte intercâmbio gerado por Alexandre acabou por criar muito do mundo como conhecemos hoje.

Ao longo de treze anos de expansão, Alexandre não somente anexou territórios, mas também realizou diversas mudanças que englobaram questões econômicas, políticas e sociais daquela sociedade.

A questão mais comumente referenciada em todas as produções que retratam aspectos de sua vida é baseada na ideia sobre o desejo de Alexandre em reduzir ao máximo as diferenças entre macedônios, os gregos e os bárbaros, que, sob seu domínio, eram obrigados a conviver.

Visando esse objetivo, portanto, ele formulou uma política de fusão, cuja pretensão era a de mesclar os numerosos povos que havia conquistado. (MELERO, apud: TREVISAN, 2015, p. 97-98)

8 ALEXANDRE CONQUISTA A PÉRSIA

Em 334 a.C. Alexandre atravessou o Helesponto, na atual Turquia, iniciando a invasão do Império da Pérsia, então o maior império do mundo e que havia sido forjado habilmente dois séculos antes por Ciro, o Grande.

O rei persa, Dario III, prontamente despachou um exército para expulsar os invasores greco-macedônicos no que acreditava ser uma vitória rápida.

Com números semelhantes (gregos com 40 mil e persas com 35 mil), as tropas de Alexandre III e Dario III se encontraram próximo do rio Grânico onde travaram a primeira grande batalha da guerra.

8.1 Batalha de Grânico

Ainda 334 a.C., ocorreu a primeira grande batalha da guerra com a vitória sendo arrebatada por Alexandre, que demostrou mais uma pouco de sua genialidade e bravura, ganhando fama internacional.

Os persas eram liderados por um mercenário grego chamado Memnon (de Rodes) que conhecia as artimanhas dos gregos, mas foi ignorado pela soberba dos governadores persas que não depositavam confiança devido ao fato de ser grego.

Os persas estavam estabelecidos com defesas fortificadas do outro lado do rio Grânico (rio Kocabas) a espera de um ataque direto de Alexandre liderando pessoalmente a cavalaria. Os persas queriam encerrar o conflito logo no primeiro momento, matando Alexandre.

Alexandre, de fato, queria um ataque direto e mortal, mas ao seu estilo: o rio Grânico possui entre 18 e 27 metros de largura e profundidade variada. A correnteza também era forte e apresentava margens irregulares e íngremes, o que impossibilitaria uma travessia segura para suas tropas, principalmente a infantaria que ficaria à mercê das flechas, fundas e dos dardos inimigos.

Ambos os exércitos se encontravam em formação de combate, mas em margens opostas do rio. Os gregos, diferentemente dos persas (que estavam em casa), precisavam avançar ou simplesmente voltar para casa.

Os gregos precisavam atacar, mas generais, como Parmênio, desaconselhavam os planos de ataque noturno com forças numericamente inferiores ao do inimigo. E fazia sentido.

Alexandre, contudo, teria atravessado rio acima com a sua cavalaria ainda à noite para atacar (e surpreender os persas desprevenidos e soberbamente confiantes). Não se sabe ao certo como a travessia de todo o exército grego aconteceu, mas quando estava do outro lado enfrentando a força persa foi notória a surra dada nos donos da casa.

Alexandre teria usado as suas melhores tropas na travessia e arrasado a dianteira persa que mal sabia o que estava acontecendo, já que a previsão era a de batalhar na manhã seguinte (combates durante à noite eram raros por serem extremamente complicados de coordenar).

O saldo da batalha do rio Grânico acabou incrivelmente positivo para as forças invasoras: os gregos não perderam nem 100 combatentes entre infantaria e cavalaria, mas os persas amargaram milhares de mortos e escravizados.

Durante a batalha, Alexandre quase foi morto por dois comandantes persas chamados de Roesaces e Spitridates que lhe racharam o elmo, mas foram surpreendidos por um soldado de infantaria chamado Cleito que atravessou Spitridates com sua lança dando chance de Alexandre matar Roesaces.

Alexandre o Grande na Batalha Grânico
Alexandre durante a Batalha do rio Grânico. Créditos: autoria desconhecida.

8.2 Fechando portos e libertando cidades no mar Egeu

A vitória em Grânico não deixou dúvida sobre a competência do comandante da Macedônia, unindo-os ainda mais sob seu estandarte e causando tremendo espanto na agora abalada sociedade persa.

Apesar da grande vitória que iniciou a guerra, Alexandre se via perigosamente longe de casa. Os persas poderiam rapidamente convocar tropas de suas reservas abundantes e formar um novo exército, uma vantagem que Alexandre não dispunha e sabia que precisava ao menos proteger a sua longa linha de suprimentos.

Por isso, o exército macedônico marchou irrefreavelmente pela porção persa do mar Egeu e liberou diversas cidades gregas, como Mileto e Éfeso, e cercaram os principais portos persas para neutralizar a marinha inimiga.
A ação de Alexandre teria sido extremamente arriscada, mas deu certo e o exército de invasão pôde continuar sua marcha de conquista.

8.3 Batalha de Isso

No ano seguinte, em 333 a.C., Dario III quis encerrar a expedição grega pessoalmente ao liderar um gigantesco exército onde algumas fontes diz ter alcançado os 100 mil soldados, incluindo os 10 mil Imortais, a elite persa.

Contudo, em uma das investidas mais incríveis (e insanas) da história, Alexandre liderou os Companheiros diretamente contra Dario III em um movimento extremamente ousado e que causou um tremendo impacto nas tropas persas.

Na Batalha de Isso, Alexandre infligiu uma derrota maciça ao exército de Dario, quase matando o próprio imperador persa. Cerca de 50 mil persas podem ter perecido, enquanto as baixas macedônias foram estimadas em meros 450 homens.

Alexandre, como de costume, comandou sua cavalaria em uma ofensiva decisiva, que cindiu as fileiras persas, enquanto sua infantaria tirou proveito da desordem” (GILBERT, 2005, p. 23)
Esse confronto ficou conhecido como a Batalha de Isso e ocorreu na atual Síria. A cavalaria de Alexandre, os Companheiros (hetairois), ganhariam tanta fama que ficaram conhecidos como a melhor unidade de cavalaria da Idade Antiga até então.

Dario fugiu com tanta velocidade que deixou sua esposa, mãe e as filhas para trás. Alexandre as protegeu e tratou bem.

Após a Batalha de Isso Alexandre marchou em direção ao Egito onde seria aclamado como novo imperador (faraó), conquistando no caminho diversas cidades importantes da costa mediterrânea do Oriente Médio e Egito.

Mosaico de Alexandre da Batalha de Isso
Famoso mosaico da Batalha de Isso, onde Alexandre confronta Dario III infligindo uma grande derrota ao rei persa. Créditos: autoria desconhecida / Casa do Fauno.

8.4 Cerco de Tiro

Ainda em 332 a.C. Alexandre iniciou um sítio à cidade portuária de Tiro, no Mediterrâneo, que se mostraria extremamente duro e se prolongaria por 8 meses devido à determinação dos seus habitantes.

A cidade de Tiro era dividida em duas partes, uma porção ficava em terra continental e a outra numa pequena ilha que abrigava uma aparentemente inexpugnável fortaleza com muros de até 46 metros de altura.

Alexandre tentou uma aliança com os tirenses, mas seus emissários foram assassinados e tiveram seus corpos jogados ao mar. Alexandre ficou furioso e decidiu destruir a cidade de Tiro.

Os engenheiros trataram de construir uma pista entre a praia do continente até atingir a fortaleza na ilha. A profundidade da praia era de apenas seis metros de profundidade e os greco-macedônios retiraram tudo que precisaram da porção costeira de Tiro, acabando por destruir essa parte da cidade.

Ao longe de 7 meses os tirenses tentaram sabotar os engenheiros de Alexandre, mas a obra sempre continuava até que ficou pronta e as armas de assédio fizeram sua parte arrasando as defesas da cidade.

Com brechas nos muros, as melhores tropas de Alexandre, o Grande, entraram e arrasaram a população. Diz-se que todos os homens foram mortos e mulheres e crianças vendidas como escravas.

A cidade se tornou uma importante base de suprimentos para a campanha de Alexandre.

Cerco de Tiro de Alexandre o Grande
Durante o Cerco de Tiro, o aterro onde ficava o canteiro de engenharia do exército de Alexandre, o Grande, teria sido atingindo por um gigantesco brulote que destruiu diversas torres de assalto e catapultas, atrasando assim os planos do conquistador da Macedônia. Créditos: Departamento de História, Academia Militar dos Estados Unidos via InfoEscola.

8.5 Alexandre faraó do Egito

O Egito se encontrava sob jugo persa e viu em Alexandre a chance de se libertar. Alexandre foi coroado faraó, rei do Egito, o que resolveu bastante os seus problemas com logística e suprimentos, como cereais.

Os egípcios acreditavam que os faraós eram seres divinos e isso alimentou ainda mais a vaidade de Alexandre, que já acreditava ser descendente de Aquiles. Por conveniência ou não, fato era que os egípcios detestavam o domínio persa.

Alexandre passou aproximadamente 1 ano no Egito, conhecendo sua cultura ao ponto de adotar hábitos da região.

8.6 Alexandre e Alexandria no Egito

Alexandre criou diversas cidades em referência a si mesmo e a todas batizou como Alexandria. Porém, a cidade de Alexandria fundada no Egito se destacou das demais e se tornou um dos maiores centros de cultura do mundo antigo.

Notoriamente conhecida pelo seu farol, o Farol de Alexandria, a cidade era um ponto central e extremamente bem posicionada entre o mar Mediterrâneo e o interior do Egito.

Seu farol tinha aproximadamente 130 metros de altura e se tornou uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo, sendo a mais alta construção erguida por inúmeros séculos.

A cidade durante o Período Helenístico abrigou uma grande biblioteca que conteve muito da produção intelectual mundial e que atraía estudiosos do mundo inteiro que dela ouviam falar.

8.7 Batalha de Gaugamela

Em 331 a.C. Alexandre partiu em direção ao coração do reino da Pérsia para encerrar de vez a sua campanha. O rei Dario III, entretanto, havia se preparado bastante durante todo o ano em que Alexandre ficou no Egito.

Os dois exércitos vieram a se encontrar nas amplas planícies de Arbela (Gaugamela), a cerca de 480 km ao norte da cidade da Babilônia, na Mesopotâmia.

As planícies de Gaugamela entraram para a história por formarem o palco da mais grandiosa vitória de Alexandre, quando absolutamente tudo conspirava contra sua vida.

Durante o ano em que o exército greco-macedônio permaneceu estacionado no Egito, Dario tratou de preparar bem suas tropas e escolher com precisão o terreno onde iria batalhar. Escolheu as planícies de Gaugamela por diversos motivos, como, por exemplo, usar sua imensa vantagem numérica, seus carros de combates (bigas) e elefantes de guerra.

Dario também ordenou que armadilhas fossem plantadas (buracos com estacas cravadas) e que a planície fosse nivelada para a melhor locomoção das bigas (que possuíam foices amarradas nas rodas para amputar pernas da infantaria macedônia).

O imbatível exército de Alexandre, o Grande, marchava há semanas pelo escaldante verão onde o calor atingiu 43º, quando finalmente, em 29 de setembro, ambos os exércitos se encontraram.

Alexandre, ao subir numa colina ou algo assim, teria tomado um choque ao ver a imensidão do exército adversário:

Embora tivesse ouvido falar do tamanho das forças persas, era diferente vê-las ali diante dos olhos: 250 mil homens enfileirados até onde a vista alcançava, envolvidos por uma névoa de calor e poeira.

Além disso, Dario também tinha uma cavalaria de pelo menos quarenta mil homens fortemente armados, Alexandre viu ainda bigas e mais de quinze elefantes de guerra. (CUMMINS, 2012, p. 21)

Os números reais do exército persa não encontram consenso e, segundo as referências, variavam entre 100 e 250 mil. Embora se possa parecer um exagero um exército da Antiguidade com 250 mil guerreiros, deve-se lembrar de que os persas lutavam em casa, tinham um império com milhões de súditos e reinos vassalos.

ilustração de Alexandre o Grande na batalha de Gaugamela
Alexandre Magno na Batalha de Gaugamela. Créditos: Falkensteinfoto / Alamy.

Dario, por sua vez, também tinha motivos de sobra para reunir a maior força militar que o Império da Pérsia alguma vez pôs em campo e finalmente salvar seu trono em um ato quase desesperado.

Diferentemente de Dario III, Alexandre contava com seus macedônios (preferia lutar com seus conterrâneos e não gregos) e que somavam 40 mil de infantaria e uma cavalaria que talvez chegasse a 7 mil.

Na noite anterior ao confronto Alexandre infiltrou um boato de que realizaria um ataque noturno, deixando grande parte das tropas persas em vigília a noite inteira enquanto que as suas descansavam. Também detectou as armadilhas através de desertores de Dario.

Na manhã do dia 30 de setembro de 331 a.C., finalmente a Batalha de Gaugamela começou e Alexandre sabia que poderia ser facilmente flanqueado no amplo campo de batalha.

Alexandre dispôs seu exército em uma formação especial (escalonado à direita), expediu ordens que deveriam ser seguidas à risca e, como de costume, liderou sua cavalaria de elite — os Companheiros — saindo ligeiramente do local da batalha sendo perseguido pela gigantesca cavalaria persa.

Dario, que não desejava mudar sua formação de batalha nem sair dos campos nivelados, mandou sua infantaria avançar contra a da Macedônia. Alexandre observava tudo atentamente à espera do exato momento de virar sua cavalaria contra a principal força persa.

Quando a principal força persa, que atacava a infantaria macedônia, ficou com o flanco exposto devido à saída da cavalaria (que tinha ido atrás da cavalaria macedônia), Alexandre girou com tudo e liderou uma violenta investida em forma de cunha contra os persas, abrindo espaço e desestruturando completamente o exército de Dario que não acreditava no que estava acontecendo.

A manobra realizada por Alexandre na Batalha de Gaugamela entrou definitivamente para o hall das grandes e mais decisivas da história. Alexandre simplesmente despedaçou o exército persa, causando imensa confusão e botando o próprio imperador para fugir (de novo).

Após Gaugamela o império da Pérsia deixou de existir, sendo Dario III assassinado por um dos seus próprios oficiais anos depois.

Alexandre conquistou a Pérsia e agora era chamado de o Senhor da Ásia, passando a conquistar novas cidades na Ásia sem grande esforço.

9 REVOLTAS NO EXÉRCITO

Muitos anos haviam se passado desde que as tropas de Alexandre cruzaram o Helesponto. O cansaço e a saudade de casa eram evidentes e o grande objetivo criado pelo pai de Alexandre, Filipe II, de conquistar a Pérsia havia sido alcançado.

O exército desejava retorno à Macedônia, mas Alexandre queria cada vez mais. Muitos dizem que nessa época Alexandre já estava consumido pelo pensamento de ser um deus.

O uso de costumes orientais por parte de Alexandre, como o uso de roupas e o beija-mão, um tratamento de respeito realizado aos superiores, deixavam os gregos insatisfeitos.

Alguns motins se formaram e seus seguidores foram executados como traidores. Alexandre também teria enfrentado alguma tentativa de assassinato.

10 CAMPANHA NA ÍNDIA DE ALEXANDRE

Lançando-se sobre a Índia Alexandre enfrentaria uma de suas batalhas mais difíceis próxima do rio Hidaspes. Diante dos 200 elefantes de guerra dos adversários, o orgulhoso Alexandre aceitou o novo desafio e se pôs em batalha novamente.

O choque cultural também causou grande espanto e alegria em Alexandre, que quanto mais territórios conquistava mais espalhava a semente do Período Helenístico que germinaria após a sua morte.

10.1 Batalha de Hidaspes

Na Batalha do Rio Hidaspes (326 a.C.), no atual Paquistão (antiga Índia), os macedônios liderados por Alexandre, o Grande, combateram os hindus comandados pelo rei Poro (ou Porus).

Durante a peleja, ao se deparar com o orgulho do exército adversário, os duzentos elefantes de guerra, Alexandre teria dito a famosa frase — “Finalmente encontrei um perigo à altura da minha grandeza”.

Apesar do susto, os macedônios levaram a melhor sobre os paquidermes do rei indiano. Algumas fontes dizem que este (e não em Gaugamela) teria sido o primeiro contato de europeus com elefantes no campo de batalha. Alexandre teria ficado maravilhado com o tamanho e a força dos animais.

Alexandre, o Grande, na Hidaspes
A Batalha de Hidaspes, quando Alexandre e Porus se enfrentaram em um combate pouco decisivo, mas bem diferente dos anteriores para os macedônios. Créditos: Tom Lovell.

10.2 Cultura, cobras, doenças e clima

O contato com a Índia foi algo totalmente novo para todos que seguiam Alexandre. A peculiar cultura indiana causou um grande espanto nas tropas que nunca nem de longe havia visto algo semelhante.

Um fato curioso (e trágico) sobre a campanha de Alexandre sobre a Índia eram as mortes de suas tropas, quando picadas por cobras ou vítimas de doenças pouco ou nada conhecidas.

O forte clima úmido também era um diferencial do lugar que muito se diferenciava das planícies sem-fim da Pérsia.

11 ÚLTIMOS ANOS DE ALEXANDRE, O GRANDE

Alexandre, depois de muito ouvir seus generais sobre o desejo de suas tropas, acabou por finalmente encerrar o avanço, mas não retornou ao seu país, que, aliás, nunca mais voltaria a vê-lo. Alexandre se dedicou à organização do seu vasto império.

Importantes cidades e antigos reinos formidáveis, como a Assíria e Babilônia, que agora faziam parte do território macedônio, receberam grande influência da cultura grega e vice-versa.

Alexandre também bebia e se tornava cada vez mais paranoico (e tirânico). Em uma de suas discussões acabou matando seu amigo Cleito, que na Batalha de Grânico havia lhe salvado a vida de dois oficiais persas.

Alexandre, o Grande, mata Cleito
Retratação de Cleito sendo morto por Alexandre, o Grande, após uma breve discussão onde Alexandre se encontrava embriagado. Créditos: Andre Castaigne.

12 MORTE DE ALEXANDRE, O GRANDE

Após uma campanha de conquista sem precedentes na História, quando conquistou tudo e todos que os seus olhos puderam enxergar, Alexandre da Macedônia, sem jamais conhecer a derrota, acabou por ser definitivamente derrotado aos 32 de idade durante a paz, na Babilônia.

No seu leito de morte, Alexandre teria dito:

Uma tumba agora basta àquele para quem cujo mundo não era o bastante” — Alexandre em seu leito de morte.

A causa da sua morte, que ainda hoje não encontra consenso, teria sido decorrente de uma misteriosa febre. Morto em dia 13 de junho de 323 a.c., foi inicialmente enterrado na Alexandria do Egito.

Alexandre, o Grande, jamais perdeu uma batalha e quando morreu, com apenas 32 anos, havia conquistado a maior parte do mundo conhecido. Lutando contra forças numericamente superiores, derrotou um dos grandes impérios do mundo antigo e espalhou a cultura grega, através da Pérsia, até a Ásia Central e a Índia” (CAWTHORNE, 2010, p. 17)

Alexandre, o Grande, assumiu o comando do exército aos 20 anos de idade, nunca perdeu uma batalha e morreu antes de completar os 33 anos, deixando um vasto império que partia da Europa à Índia, na Ásia, e que somava as terras do Egito e Afeganistão.

sarcófago de Alexandre, o Grande
Sarcófago de Alexandre, de Gürkan Sengün. Museus Arqueológicos de Istambul, Turquia.

13 PÓS-MORTE DE ALEXANDRE

Após a morte de Alexandre, que morreu sem deixar herdeiros (que ao menos sobrevivessem aos seus assassinos), seus generais dividiram seu império em diversas partes.

Não demorou para que começassem a guerrear entre si e que outros povos os invadisse acabando por destruir o império forjado por Alexandre, o Grande.

Dentre os diversos territórios se encontrava o fabuloso Egito Antigo que foi governado por Ptolomeu e que deu origem à dinastia ptolomaica na qual a mística rainha do Egito, Cleópatra, foi a sua última descendente.

REFERÊNCIA(S):

BOTTÉRO, Jean. No começo eram os deuses. trad. Marcelo Jacques de Morais. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011.
CLINE, Eric H.; GRAHAM, Mark W.. Impérios antigos: da Mesopotâmia à Origem do Islã. trad. Getulio Schanoski Jr.. São Paulo: Madras, 2012.
GILBERT, Adrian. Enciclopédia das Guerras: Conflitos Mundiais Através do Tempo. trad. Roger dos Santos. São Paulo: M. Books, 2005.
GIORDANI, Mário Curtis. História da Antiguidade Oriental. 13 ed. Petrópolis: Vozes, 1969.
VINCENTINO, Cláudio; DORIGO, Gianpaolo. História Geral e do Brasil. São Paulo: Scipione, 2002.
RATHBONE, Dominic. História ilustrada do mundo antigo: Um estudo das civilizações da Antiguidade, do Egito dos faraós ao Império Romano, passando por povos das Américas, da África e da Ásia. trad. Clara Allain. São Paulo: Publifolha, 2011.
WEIR, William. 50 Líderes Militares que Mudaram a História da Humanidade. trad. Roger Maioli dos Santos. São Paulo: M. Books do Brasil Editora Ltda, 2009.
TREVISAN, Marcelo Chaves. Alexandre, o grande: a construção de um mito de longa duração. São Paulo: Hunter Books, 2015.
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Eudes Bezerra

35 anos, pernambucano arretado, bacharel em Direito e graduando em História. Diligencia pesquisas especialmente sobre História Militar, Crime Organizado e Sistema Penitenciário. Gosta de ler, escrever, planejar e principalmente executar o que planeja. Na Internet, atua de despachante a patrão, enfatizando a criação de conteúdo.

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