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Guerras

Primeira Guerra Púnica: Roma contra Cartago (Resumo)

Resumo da Primeira Guerra Púnica, um importante conflito que ficou marcado por uma incrível reviravolta de Roma sobre Cartago.


Primeira Guerra Púnica
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Escrito por Eudes Bezerra
Leitura: 10 minutos
Primeira Guerra Púnica
Resumo da Primeira Guerra Púnica, um importante conflito que ficou marcado por uma incrível reviravolta de Roma sobre Cartago. Créditos: autoria desconhecida / Fotomontagem: Eudes Bezerra.

O conflito ficou marcado por uma incrível reviravolta dos romanos sobre os cartagineses, que equilibrou a força entre as potências do mediterrâneas. Contudo, a frágil vitória romana fez renascer uma nova guerra — a Segunda Guerra Púnica — que foi levada com fúria e habilidade à própria Roma por Aníbal Barca.

Temendo que o controle sobre Messana [atual Messina] pudesse dar a Cartago um domínio na Sicília e permitir-lhe preparar uma invasão à Itália, Roma enviou tropas para combater a iniciativa cartaginesa.
Então, numa típica escalada de guerra com a qual hoje estamos acostumados, cada um dos lados mandou mais e mais soldados”. (CUMMINS, 2012, p. 28-29, acréscimo nosso)

Nota: Alguns pontos podem parecer repetitivos. Contudo, são intencionais, fazem parte da didática para quem optar por pesquisar pequenos trechos, como bem visto e segmentado no nosso sumário. Tudo para facilitar!

Boa leitura!

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SUMÁRIO

1. O que foi a Primeira Guerra Púnica?
2. Causas das Guerras Púnicas: o Mar Mediterrâneo
3. Cartago e Roma: contexto
4. Estopim das Guerras Púnicas
5. Guerras Púnicas: Primeira Guerra Púnica (264 a 241 a.c.)
⠀⠀5.1 Os romanos tomam a Sicília e os aliados de Cartago
⠀⠀5.2 Dificuldades romanas no mar superadas
⠀⠀5.3 Com a criação do corvus, os romanos vencem os cartagineses no seu domínio: o mar
⠀⠀5.4 Os romanos desembarcam na África!
⠀⠀5.5 Xantipo contra Régulo na Batalha de Túnis
⠀⠀5.6 Fim da Primeira Guerra Púnica: vitória romana
6. A semente de Amílcar Barca: Aníbal Barca na Segunda Guerra Púnica
Referências

1. O QUE FOI A PRIMEIRA GUERRA PÚNICA?

A Primeira Guerra Púnica ocorreu entre 264 e 241 a.C., sendo um conflito entre romanos e cartagineses com interesses político-econômicos, principalmente acerca do Mar Mediterrâneo.

Inicialmente travada em terra, na Sicília, ao sul da Península Itálica, logo se transformou em uma abrangente guerra naval, onde os romanos inovaram com o corvus para vencer a grande e experiente marinha de Cartago.

Roma triunfou sobre Cartago, mas com termos brandos por não conseguir invadir e dominar de modo efetivo o terreno adversário, sofrendo pesadas baixas que levaram ao acordo do fim da Primeira Guerra Romano-Cartaginesa.

Contudo, os cartagineses, que estavam em clara desvantagem, assinaram um frágil tratado de paz, reconhecendo o domínio de Roma sobre as ilhas da Sicília, Sardenha e Córsega.

A Primeira Guerra Púnica daria origem à Segunda Guerra Púnica (218-201 a.C.) levada a cabo brilhantemente por Aníbal Barca, tendo do lado romano o seu correspondente, Cipião Africano.

2. CAUSAS DAS GUERRAS PÚNICAS: O MAR MEDITERRÂNEO

Tanto Cartago quanto Roma desejavam aumentar sua esfera de influência, obter novas conquistas e principalmente desfrutar dos benefícios que o Mar Mediterrâneo possibilitava.

O comércio extremamente lucrativo trazia mais do que riquezas, trazia artigos exóticos de outros continentes, tecnologias e ideias. Ter rotas de comércio implicava em sucesso e crescimento a quem as detivesse ou mesmo participasse.

Em posição privilegiada, com bom tamanho e bem no centro do Mar Mediterrâneo, encontrava-se a Sicília, a maior ilha deste mar, o que possibilitava a exploração de portos comerciais lucrativos, assim como apoio logístico e militar.

Por essa ilha, a Sicília, Cartago e Roma, cada uma com as suas intenções e desconfianças, fizeram a guerra inicialmente, ainda que o objetivo de ambas as cidades fosse o mar em si.

Além disso, existia a autopreservação, visto que a proximidade entre as potências (Roma e Cartago) era evidente e temerosa para muitos.

Mapa de Roma, Cartago e Sicília na Primeira Guerra Púnica
Os territórios controlados por Cartago e Roma eram vizinhos e essa proximidade pôs lenha animosidade nas respectivas sedes de poder. Créditos: autoria desconhecida / Fotomontagem: Eudes Bezerra.

3. CARTAGO E ROMA: CONTEXTO

Ambas as “nações” já no século III eram consideradas potências, cada uma do seu jeito, uma naval e a outra terrestre, basicamente.

Cartago, de origem fenícia, era um verdadeiro império marítimo reconhecido pela sua experiência na navegação e comercialização. Dispunha de uma frota naval tão numerosa que talvez fosse inigualável à época.

Roma, por sua vez, ainda se encontrava na própria península, no entanto, detinha um poderoso exército terrestre (as famosas legiões romanas), que era bem calejado desde a queda da Monarquia Romana, quando passou a ser uma república com o Senado sendo a principal instituição.

Cartago se encontrava apreensiva com o rápido e expressivo expansionismo militar de Roma, ao passo que Roma se mostrava igualmente desconfiada pela proximidade das zonas diretamente controladas por Cartago ou sob sua influência direta ou indireta perto da península italiana.

A cidade de Cartago se localizava onde hoje é a Tunísia e Roma continua onde atualmente a conhecemos, sendo uma cidade beirando os 3 mil anos de muita história.

Ao fim da Terceira Guerra Púnica a cidade de Cartago seria completamente destruída pelos romanos e seus aliados e os romanos chamariam o Mar Mediterrâneo de mare nostrum (“nosso mar”).

4. ESTOPIM DAS GUERRAS PÚNICAS

O motivo para o início das Guerras Púnicas teria sido a intervenção romana na cidade de Messana, hoje conhecida como Messina, na Sicília.

Messana à época era considerada a cidade que dividia as zonas de influência entre Cartago e Roma. Haveria um acordo entre as potências do Mediterrâneo ocidental, mas que Roma passaria a violar a partir de 306 a.C.

Roma apoiou um dos povos da região, os mamertinos da Campânia, o que ainda gerou algumas negociações infrutíferas por parte de Cartago para evitar eventual atrito entre as potências.

Roma ao que parece, desejaria o controle da Sicília para se resguardar de eventual invasão cartaginesa, assim como se projetar no lucrativo comércio marítimo.

Quando Roma finalmente despachou suas legiões romanas para a Sicília, a guerra de fato começou com combates por todo extremo o sul da atual Itália.

Sem declaração de guerra oficial, os cartagineses se valeram das suas cidades aliadas, como Siracusa, mas que foram rapidamente derrotadas e muitas passaram rapidamente à zona de influência de Roma.

5. GUERRAS PÚNICAS: PRIMEIRA GUERRA PÚNICA (264 A 241 A.C.

5.1 Os romanos tomam a Sicília e os aliados de Cartago

Marchando sobre a Sicília, os romanos intervieram na cidade de Messina, derrotando e expulsando os mercenários sob serviço de Cartago (Cartago era reconhecida pelo largo uso de mão mercenária, o que à época era bem comum e diferentemente de hoje em dia).

Posteriormente, após negociações de paz infrutíferas, a cidade de Messana acabou brevemente sitiada por tropas de Siracusa, que haviam se aliado à Cartago que era aparentemente a potência favorita do conflito, visto que muitos povos do Mediterrâneo ainda nem conheciam Roma.

O rei de Siracusa, ao que parece, não acreditava no poderio do exército romano e seu frágil, talvez presunçoso, cerco foi rapidamente derrubado e seu acampamento destruído, fazendo que o mesmo retornasse à segurança de sua cidade, Siracusa.

As forças romanas não pararam e continuaram a marchar orgulhosamente sobre a Sicília, causando impacto propagandístico tremendo e arrebatando os aliados de Cartago para o seu lado, incluindo Siracusa.

Ápio Cláudio Caudex (ou Cáudice) o comandante romano, mostrou-se determinado e com a destreza de um exército bem treinado expulsou os cartagineses e seus aliados e mercenários da Sicília.

Cartago reagiu formando seu exército, principalmente preparando a sua grande frota marinha, e o conflito estava marcado.

Porto de Cartago Guerras Púnicas
O porto de Cartago era uma das grandes obras arquitetônicas da Antiguidade, sendo, na minha humilde opinião, muito mais majestoso que algumas das 7 Maravilhas do Mundo Antigo. Tratava-se de uma obra de engenharia incrível e gigantesca capaz de guarnecer talvez centenas de embarcações com segurança. Créditos: autoria desconhecida.

5.2 Dificuldades romanas no mar superadas

Os romanos eram extremamente eficientes em terra ao passo que Cartago no mar. Os cartagineses levavam a vantagem por suas conexões com diversos povos do Mediterrâneo, o que lhe facilitava a contratação de mercenários e especialistas em geral.

Assim, a balança conspirava para o declínio de Roma que, sem qualquer tradição naval, parecia ser presa fácil aos hábeis navegadores cartagineses que poderiam, em teoria, bloquear qualquer tentativa latina (romana) de desembarque na África, assim como propiciar um decisivo desembarque cartaginês na própria Europa.

Sobre a inaptidão de Roma para uma guerra travada simultaneamente em terra e mar, visto que Cartago se encontrava na África e Roma na Europa e entre os agora adversários se encontravam diversas ilhas, além do mar, faz-se interessante destacar o seguinte texto de Matyszak (2013, p. 16, grifo nosso):

Roma, que até então havia se limitado à península italiana, foi obrigada a se transformar em um poder marítimo.

Já foi dito que os romanos velejavam como um tijolo na água: sua falta de habilidade para manter os barcos flutuando a não ser em águas mais calmas fez com quem perdessem exércitos inteiros por causa de naufrágios”.

Os romanos, cientes de sua deficiência, haviam buscado soluções para o seu grave problema. Algumas embarcações cartaginesas haviam sido capturadas durante a campanha na Sicília ao passo que outras se encontravam naufragadas na costa da Itália.

Com embarcações inimigas em mãos, os romanos teriam construído sua própria frota com auxílio de alguns gregos e feito alguns aperfeiçoamentos que decidiriam o futuro da guerra.

5.3 Com a criação do corvus, os romanos vencem os cartagineses no seu domínio: o mar

Como eram ruins em combate marítimo, os romanos criaram algumas embarcações bem peculiares onde algumas centenas de soldados poderiam ser transportados completamente armados.

Essas embarcações eram auxiliadas pelas tradicionais e velozes birremes e trirremes, embarcações já conhecidas e renomadas há séculos.

Para favorecer o combate corpo a corpo, os romanos criaram plataformas para invadir as embarcações inimigas e assim liberar seus soldados para combates bem parecidos como os terrestres.

Os romanos atrelaram a seus navios rampas atadas aos mastros por cordas, para quando se aproximassem do navio inimigo poderiam içá-las para invadir a proa alheia.

Como havia um gancho na ponta das rampas para prender no navio inimigo, esse tipo de técnica foi chamado de corvus, uma vez que o gancho se assemelhava ao bico de uma ave”. (GARRAFFONI, 2011, p. 59, grifo autoral)

Dessa forma, os romanos sob o comando de Duílio, arrebataram uma série de vitórias na costa da Sicília, frustrando a marinha cartaginesa que, atônita, não conseguia operar suas manobras de choque, mesmo com marinheiros experientes.

Assim, Roma havia assegurado a Sicília e infligido pesadas baixas aos cartagineses, que também tiveram seu moral duramente abalado.

Primeira Guerra Púnica: luta no mar
Roma, ao obter várias vitórias sobre Cartago no mar, estava pronta para invasão da própria Cartago. Créditos: autoria desconhecida.

5.4 Os romanos desembarcam na África!

Em 256 a.C., já mais experientes e com o moral em alta, apontaram seus barcos para Cartago e rumaram com uma frota numerosa, onde os números de embarcações são incríveis, mas pouco confiáveis.

O que se é possível afirmar é que os cartagineses, mesmo acertando a estratégia que os romanos usariam e criando outra para a destruição total da armada romana, não foram capazes de vencer o corvus.

As batalhas teriam sido sangrentas com Roma triunfando novamente sobre a antiga favorita da Primeira Guerra Púnica. Entretanto, com baixas pesadas, boa parte da frota romana foi trazida de volta à Sicília para reparos e cuidado dos soldados e marinheiros feridos.

O procônsul Atílio Régulo, decidido a encerrar a guerra e conquistar seu triunfo (uma espécie de desfile que passava por toda Roma no qual o conquistador era idolatrado pelo povo), desembarcou na costa africana em 255 a.C. com cerca de 15 mil legionários e 500 tropas de cavalaria.

Régulo conseguiu algumas vitórias bem importantes e chegou à própria cidade de Cartago, onde tentou negociações para findar a guerra com os cartagineses aceitando a derrota total, o que não foi aceito.

5.5 Xantipo contra Régulo na Batalha de Túnis

Ainda em 255 a.C., os cartagineses conseguiram reformular seu exército e trouxeram um general espartano, o que surpreendeu Régulo, sendo também a sua ruína.

O general espartano se chamava Xantipo e era reconhecido suas habilidades. Xantipo tratou de reorganizar o exército cartaginês e elevou o moral das tropas já tão desmoralizadas.

Xantipo e Régulo se encontraram na Batalha de Túnis e o mercenário espartano, mesmo com tropas inferiores em quantidade e qualidade, despejou todo o seu conhecimento tático sobre os legionários, arrancando uma vitória esmagadora dos romanos para os cartagineses.

Régulo acabou capturado e obrigado a fazer um acordo de paz com Roma, que não foi ratificado pelo Senado de Roma.

Régulo, de volta a Cartago, acabou morto. Ao que parece, sendo pisoteado por elefantes de guerra.

guerras púnicas
O general espartano Xantipo, ao assumir o comando do exército cartaginês, teria posto a culpa das derrotas passadas de Cartago nos comandantes da mesma, afirmando que o exército cartaginês era valente e estavam lutando em seu território por sobrevivência. Isso teria elevado o moral das tropas que se viram incrivelmente bem lideradas por um general que não só sabia organizar tropas, mas lutava ao lado das mesmas e dava o exemplo. Créditos: autoria desconhecida.

5.6 Fim da Primeira Guerra Púnica: vitória romana

Os romanos posteriormente a Régulo sofreram diversos revezes e acabaram por desistir de invadir o continente africano, mas firmando um tratado de paz com cheiro de vitória.

Os romanos haviam conseguido expulsar definitivamente os cartagineses das áreas que circundavam a península itálica, tomando para si as ilhas da Sicília, Sardenha e Córsega.

Os cartagineses perderam a grande superioridade naval, marinheiros experientes e foram obrigados a pagar tributos a Roma.

Após a guerra, os romanos expandiram bastante sua influência no Mediterrâneo, não como dominadores supremos (havia outras potências, como a Macedônia, herdeira de Alexandre, o Grande), mas como aprendizes ainda.

Um dos resultados práticos foi uma maior aproximação entre romanos e gregos, que já se possuíam uma relação amistosa.

Os romanos admiravam a cultura grega, na qual, inclusive, basearam-se para compor a sua, sendo possivelmente a principal influência para Roma (Cartago também influenciou profundamente vários aspectos romanos).

6. A SEMENTE DE AMÍLCAR BARCA: ANÍBAL BARCA NA SEGUNDA GUERRA PÚNICA

Durante a Primeira Guerra Púnica, o general Amílcar Barca havia conquistado o sul da Península Ibérica, de onde partiria o seu filho, o lendário Aníbal Barca, durante a Segunda Guerra Púnica (218 a 201 a.C.).

Amílcar era um general de grande prestígio e havia participado ativamente da fase final da guerra, de onde teria saído invicto de suas batalhas contra Roma e ensinaria a arte da guerra aos filhos que combateriam Roma mais uma vez.


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REFERÊNCIA(S):

BEARD, Mary. SPQR: uma história de Roma Antiga. trad. Luis Reyes Gil. São Paulo: Planeta, 2017.
CUMMINS, Joseph. As Maiores Guerras da História. trad. Vania Cury. Rio de Janeiro: Ediouro, 2012.
GARRAFFONI. Renata Senna. Guerras Púnicas. In.: MAGNOLI, Demétrio (org.). História das Guerras. 5 ed. São Paulo: Contexto, 2011.
GILBERT, Adrian. Enciclopédia das Guerras: Conflitos Mundiais Através do Tempo. trad. Roger dos Santos. São Paulo: M. Books, 2005.
GIORDANI, Mário Curtis. Antiguidade Clássica II: História de Roma. Petrópolis: Vozes, 1965.
GOLDSWORTHY, Adrian. Em nome de Roma: conquistadores que formaram o Império Romano. trad. Claudio Blanc. São Paulo: Planeta do Brasil, 2016.
VINCENTINO, Cláudio; DORIGO, Gianpaolo. História Geral e do Brasil. São Paulo: Scipione, 2002.
WEIR, William. 50 Líderes Militares que Mudaram a História da Humanidade. trad. Roger Maioli dos Santos. São Paulo: M. Books do Brasil Editora Ltda, 2009.
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Eudes Bezerra

35 anos, pernambucano arretado, bacharel em Direito e graduando em História. Diligencia pesquisas especialmente sobre História Militar, Crime Organizado e Sistema Penitenciário. Gosta de ler, escrever, planejar e principalmente executar o que planeja. Na Internet, atua de despachante a patrão, enfatizando a criação de conteúdo.

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